Pequenos bilhetes e papéis autocolantes(conhecidos como post its), com mensagens que estimulam o sentimento de empatia, estão sendo espalhados pelos estudantes pelo Campus da UFJF. As frases chamam atenção para o cuidado com a saúde mental e convidam as pessoas a entrarem também em um perfil no Instagram: @intensize, cujo objetivo é destacar as mensagens e promover o acolhimento entre os discentes, oferecendo informações e caminhos sobre como buscar ajuda, dentro das diretrizes que movem o Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio.
“Diante a tantos casos de suicídio, como o de um colega de faculdade, eu pensei em organizar algo que pudesse informar e também distribuir empatia pelo campus. Contamos com dois projetos principais atualmente. O #espalheamor, que consiste em espalhar os post its em locais de grande visibilidade, disponibilizando as frases de apoio e números de contato para ajuda especializada, e o Abração, em que escolhemos locais de grande concentração de alunos, como o Restaurante Universitário (RU), e oferecemos abraços e seções de bate-papo com quem se sentir à vontade e quiser se abrir”, diz a idealizadora do projeto, Anna Carolyne Castro, que é estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Humanas.
Segundo ela, o grupo tem percebido que as pequenas atitudes podem ajudar a salvar vidas, e essa é a motivação de todo o trabalho.
“Não é o assunto mais fácil para debate. Todos os dias a gente recebe novos adeptos e pessoas que querem contribuir com o projeto. Temos um grupo no WhatsApp e organizamos todos os eventos por lá”.
Ela ainda orienta as pessoas – tanto as que queiram fazer parte do grupo, quanto as que precisam de ajuda – a entrarem em contato por meio do perfil no Instagram. Também pela página são divulgados os locais e horários dos eventos e encontros. “Não é uma coisa grandiosa, posso não mudar o mundo inteiro, mas posso salvar uma vida com uma frase. Porque as pessoas sentem que você está ali por elas. Temos muitas pessoas nas faculdades, e nós não conhecemos todo mundo, mas sabemos que são pessoas boas e que poderíamos ter esse contato. Temos conhecido muita gente legal.”
Pelos corredores
As frases expostas no campus são encontradas na internet, outras são indicadas e há ainda as que vão aparecendo por outras vias. Mas o impacto da mensagem é sempre alvo de avaliação, para que o efeito não seja o contrário. As informações incluem o apoio institucional oferecido pela UFJF, com psicólogos especializados, mostrando números de telefone e outros contatos. “Vimos que, principalmente dentro da universidade, existe um alto índice de ansiedade, uma ocorrência grande de casos de depressão. As pessoas se sentem oprimidas, não têm com quem conversar. Por mais que estejam rodeadas de gente, sentem-se sozinhas. Fora as que vêm de fora e estão muito longe de suas famílias. Então, a nossa ideia é levar um conforto, mostrar que ninguém está sozinho, que podem contar com o nosso apoio”, disse a estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Humanas, Mariana Guedes.
“Um dos motivos que me levou a participar é que eu passo por isso. Faço tratamento com psicólogos e já passei pela experiência de querer acabar com a minha própria vida. Eu vi nesse projeto uma forma de levar às pessoas que estão passando pelo mesmo que eu a mensagem de que é possível lutar, continuar, abraçar e me sentir abraçado. Essa troca acaba ajudando muito a gente também. Há uma solução para tudo, e eles podem contar com o nosso apoio, nem que seja para desabafar”, relata a estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Humanas, Sara Crisóstomo. Estudantes de Psicologia também apoiam as ações, informando e dando base para os encontros do grupo.
Iniciativa válida
De acordo com o psiquiatra Bruno Cruz, vice- presidente da Associação Psiquiátrica de Juiz de Fora e colunista do Papo Cabeça da Rádio CBN Juiz de Fora, a iniciativa é muito válida, porque traz o tema à tona e dá a uma pessoa que tem uma necessidade a oportunidade de buscar um serviço de referência. “O suicídio é algo que se pode evitar, e a forma de fazer isso é tratando o transtorno mental. Eles só serão tratados se a pessoa buscar o atendimento. Se ela fica oculta em casa, com uma família omissa, e tiver uma patologia, entra em estado de desespero, desamparo e desesperança. São os três ‘Ds’ do suicídio, que passam pelos transtornos de humor, principalmente a depressão.” Ainda conforme o psiquiatra, essa ação vinda de pessoas que passam pelas mesmas dificuldades e angústias é uma forma interessante de abordagem. “Significa amparo, laço social, rede de contatos. Qualquer ação que gere esse acolhimento é sempre bem-vinda.”
O professor da Faculdade de Medicina da UFJF, Alexandre Rezende, reforça que a iniciativa faz o importante trabalho de divulgar os canais de atendimento. “É importante que as pessoas se sintam acolhidas e saibam quem elas podem procurar. São medidas simples, mas que tornam mais públicas as informações sobre os centros responsáveis por diagnóstico e tratamento em saúde mental.”