Pouco mais de quatro meses após a “Operação Transformers” do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), o delegado Rafael Gomes e os demais oito policiais civis continuam presos preventivamente. A informação foi confirmada à Tribuna pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), por nota, na última segunda-feira (27). Em outubro do ano passado, 250 mandados foram cumpridos em Juiz de Fora e nas cidades de Esmeralda, Botelhos e Três Corações contra suspeitos de integrar uma organização criminosa que teria ligação com tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, adulteração veicular, entre outros crimes. Dos 31 réus investigados, 23 seguem cumprindo prisão preventiva.
Há quatro meses, em ação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) com o apoio das polícias Civil, Militar e Rodoviária Federal, foram cumpridos 250 mandados, sendo 31 de prisão preventiva, 61 de busca e apreensão, 148 de sequestro de veículos e dez de sequestro e indisponibilidade de imóveis. De acordo com a assessoria do TJMG, o processo que resultou nos mandados foi dividido em quatro denúncias e todas elas estão em fase de defesas prévias.
“Atualmente há 31 réus denunciados, a maioria presa preventivamente. Os advogados e os policiais continuam em prisão preventiva”, diz o Tribunal, em nota. De acordo com os documentos que embasaram as prisões preventivas, aos quais a Tribuna teve acesso, além dos nove policiais civis, dois advogados atuavam em conjunto com a suposta organização criminosa.
A ‘Operação Transformers’
A ação movida pelo MPMG em 20 de outubro teve, além do cumprimento de mandados, apreensão e indisponibilidade financeira na ordem de R$ 55 milhões. Segundo foi informado pelo promotor de justiça Thiago Fernandes de Carvalho, há suspeita de que a organização criminosa movimentou cerca de R$ 1 bilhão nos cinco anos anteriores.
A investigação durou cerca de dois anos, e a operação foi realizada após expedição dos mandados pela 1ª Vara Criminal de Juiz de Fora. A manobra contou com a participação de oito promotores de Justiça, 24 agentes policiais do Gaeco, seis servidores do MPMG e 250 policiais das forças de segurança, dentre eles 17 equipes da Corregedoria-Geral da Polícia Civil.
Na ocasião, os policiais civis presos preventivamente foram encaminhados pela Corregedoria da Polícia Civil para a Casa de Custódia da instituição em Belo Horizonte, para apurações em nível administrativo em relação a transgressões disciplinares.
A investigação envolvendo agentes da antiga Delegacia Especializada de Combate ao Narcotráfico acarretou mudanças na estrutura da Delegacia Regional de Polícia Civil de Juiz de Fora, pertencente ao 4º Departamento. Ainda no ano passado, foram promovidas mudanças na chefia e nos quadros da corporação.
O esquema criminoso
De acordo com os documentos que embasaram a operação, o procedimento investigatório criminal foi instaurado a partir de informações que indicavam a existência de uma organização criminosa em Juiz de Fora cujo núcleo central seria formado por nove pessoas, sendo oito homens e uma mulher. Eles estariam, de forma estruturada, praticando diversos crimes, dentre eles roubo, furto, receptação e desmanche de veículos. O grupo repassava peças a comércios clandestinos localizados na cidade, além do uso de algumas peças em outros veículos, geralmente adquiridos em leilões de seguradoras.
Também foi descoberto um esquema de pagamento de propina a agentes públicos, os quais “blindariam” membros da organização criminosa em troca de vantagem indevida. Conforme os documentos, as investigações apontam indícios de supostas práticas de corrupção ativa e passiva e coloca dois advogados e nove policiais civis entre os suspeitos, em um suposto esquema de suborno permanente dos policiais civis de delegacias especializadas de Juiz de Fora.
Um delegado, um inspetor, quatro investigadores e outros três policiais civis estão entre os suspeitos. Entre os pagamentos supostamente realizados, chama a atenção uma remessa de R$ 500 mil para que a PCMG não associasse um dos integrantes do núcleo central da organização criminosa ao tráfico de drogas, após a prisão de outros comparsas do grupo, e para que ocorresse a liberação da droga apreendida.