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‘Gente que fez a Tribuna’: as aventuras de Marcia Carneiro

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Sobre descobertas, aventuras e apurações de notícias

Marcia Carneiro, trabalhou na Tribuna entre 1988 e 2009

Cheguei à Tribuna, no finalzinho dos anos 1980, ainda em sua primeira sede, num grande galpão aos fundos do Colégio Cristo Redentor/Academia, para trabalhar ombro a ombro com os mestres: Renato Dias, Kátia Dias, Ronaldo Dutra Pereira, Oseir Cassola, Sandra Silva, Gilseia Pelinson, Jorge Couri, Roberto Fulgêncio, entre tantos outros.

Naquela época, a Tribuna havia transferido sua matriz para Belo Horizonte, levando boa parte de seu quadro de profissionais. Juiz de Fora ficou com a Tribuna da Tarde, sucursal, abrindo as portas do mercado aos jornalistas recém-formados.

Me lembro da emoção de entrar nos primeiros dias numa Redação a trabalho, observar a movimentação daquelas pessoas que só conhecia por meio de seus textos assinados ou por fama no meio jornalístico. Me encantavam a descontração, as reuniões de pauta, a nuvem de fumaça de cigarro (sim, era permitido fumar na Redação), as saídas com o fotógrafo para apurações e depois, a concentração geral na elaboração do texto.

Sob o ponto de vista de uma “foca” (termo da época que definia o repórter iniciante), a Redação era mágica com toda aquela gente cheia de ideias, as dezenas de mesas e a inesquecível sonoridade das máquinas no “deadline”.

Para além do convívio com os colegas e os instrumentos de trabalho, porém, os acontecimentos sempre foram o verdadeiro motor do jornalismo. Entre as muitas histórias, me lembro de uma que mobilizou a Redação e, claro, toda a cidade por 12 dias: o sequestro da Rua das Margaridas, em 1990. O episódio começou na grande Belo Horizonte, com uma rebelião na Penitenciária de Contagem e a fuga de cinco presidiários armados com metralhadoras e revólveres, que fizeram reféns três oficiais da PM. Eles fugiram num carro-forte em direção ao Rio de Janeiro, mas entraram em Juiz de Fora onde conseguiram trocar de carros, pegar mais armas e invadir uma residência na Rua das Margaridas, no Bairro Novo Horizonte. Na casa, os reféns foram sendo liberados, restando até o final das negociações o Coronel Edgar da PM.

Nesses dias de angústias e expectativas, eu e outros repórteres da Tribuna nos revezávamos em plantões na Rua das Margaridas, onde a atmosfera guardava tensão permanente, havendo inclusive troca de tiros. A rua e seus arredores, antes pacatos, se transformaram em foco de conflito e apreensão com movimentações de carros de reportagem, jornalistas e equipamentos profissionais da imprensa nacional por todo lado, além de todo o aparato policial e da presença de curiosos, mantidos à distância.

Foram vários os momentos de sobressaltos. Um deles ocorreu quando os sequestradores pediram a presença da imprensa para comprovar a integridade física do coronel Edgar, e o editor de fotografia da Tribuna, Roberto Fulgêncio, se prontificou a entrar na casa com os demais voluntários. O grupo de jornalistas ficou entre sequestradores e policiais fortemente armados, causando verdadeiro pânico nos repórteres do lado de fora. Depois de alguns minutos de pavor, o alívio. As negociações prosseguiram e garantiram a libertação do coronel e a prisão dos sequestradores.

Encerrada essa aventura, outras se sucederam, não só na editoria policial, mas sobretudo na área cultural, setor com o qual eu mais me identificava e onde tive a oportunidade de desenvolver matérias apaixonantes e entrevistas com ídolos como Gilberto Gil, Elza Soares e Luiz Fernando Veríssimo. Enfim, duas décadas de jornalismo na Tribuna me lapidaram escuta e escrita, além de selarem minha comunhão entre vida e palavra.

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