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‘Gente que fez a Tribuna’: os flashes de Marcelo Ribeiro

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‘A humanidade do momento’

Marcelo Ribeiro, fotojornalista na Tribuna entre 2007 e 2019

Por quase 12 anos, fiz parte do time de fotógrafos que preenchiam as páginas da Tribuna. Lembro de 2007, quando fui chamado para cobrir as férias de alguém. Não tinha experiência nem equipamento, e não havia garantia de que eu chegaria ao fim do mês, quanto mais ser contratado. Ainda assim, arrisquei tudo pelo sonho de ser fotojornalista. Sem dinheiro no banco, nem parentes importantes, parti do interior para uma desconhecida São Paulo, com alguns milhares de reais emprestados amarrados na cueca para comprar minha primeira câmera. A cena é ridícula, mas, além do medo de ser assaltado, ter recurso em espécie melhorava as condições de negociação.

Com a máquina nas mãos, comecei em outubro daquele ano um dos ciclos mais importantes da minha vida, com um significado e uma força que transcenderam o lado profissional. Foi um período de muito aprendizado. Ver e registrar o mundo me proporcionou muita alegria, satisfação, amigos, risadas e memórias. Mas não seria completo sem as raivas, angústias, tristezas e frustrações diante de algumas situações e realidades que as lentes me fizeram enxergar.

Para mim, tão importante quanto as fotografias que fiz são as histórias que carrego de todo esse tempo. Uma infinidade de causos que vivi e presenciei na minha estrada como fotojornalista. Entre tantos relatos, escolhi relembrar aqui um que aconteceu em 2014, pois é de longe o que mais me colocou frente a uma pergunta que sempre me perseguiu: qual é o momento em que um fotógrafo deve abaixar a câmera?

Era algo bem simples, eu tinha apenas que ir ao Parque Independência e fotografar um condomínio em construção. Mas na entrada do bairro, ouvi uma gritaria e me deparei com três rapazes batendo em um jovem. Os gritos eram de desespero da mãe que tentava defender o filho das agressões. Pedi ao motorista que parasse ao lado e corri na direção dos envolvidos. Diante daquela violência, fiz o que julguei certo naquele momento para dissuadir ou intimidar os agressores: comecei a fotografar a cena bem de perto. E sempre me aproximando, numa tentativa de mostrar que tudo aquilo estava sendo registrado. Um deles se afastou imediatamente, talvez por medo de ser identificado. Um homem apareceu tentando separar a briga e foi ameaçado. Eu continuei fotografando até o momento em que eles desistiram e foram embora. Liguei para polícia, me identifiquei como sendo da imprensa e relatei o ocorrido. O rapaz e a mãe foram acolhidos por um morador. Seguimos em direção ao Parque Independência e fomos ameaçados pelos agressores. Decidimos voltar e no caminho não encontramos mais ninguém. Nenhum boletim de ocorrência foi registrado.

Se me perguntarem se fiz tudo o que podia pelas vítimas naquele dia, responderia que não. Mas posso garantir que fiz o meu melhor, pelo menos o que foi possível naquele momento. No dia seguinte, alguém me mostrando a foto na capa, ecoando uma avalanche de críticas que recebi nas redes sociais do jornal, perguntou: você viu e não ajudou? Ajudei, sim, eu fotografei. E foi o que fiz, ou tentei fazer, em mais de uma década como repórter fotográfico da Tribuna de Minas.

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