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‘Gente que fez a Tribuna’: o jornalismo 24h de Marise Baesso

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Jornalismo se constrói no coletivo, na rua e no calor de uma Redação

Marise Baesso, trabalhou na Tribuna entre 1995 e 2019

Greve de fome no antigo Presídio de Santa Terezinha, rebelião na Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires, crimes bárbaros, como as mortes em séries de idosas provocadas por um matador ou os adolescentes mortos e enterrados em uma construção no Granbery. A saga da família da aposentada Delizete Carnaúba, de Mar de Espanha, em busca da condenação de dois motoristas, um médico e um empresário, que realizavam um “pega” na estrada que acabou levando à morte de cinco pessoas de sua família. Estas e tantas outras duras reportagens na área de segurança pública marcaram meus primeiros anos na Tribuna a partir de meados dos anos 1990.

Ainda jovem, deixei a reportagem de rua depois de dois anos e me tornei editora. Começava ali um trabalho de mais de duas décadas e a compreensão de que o jornalismo só se constrói de forma coletiva. Passei quase 25 anos entre pautas, apurações, reportagens e edições, ajudando a construir as histórias impressas nas páginas do jornal, principalmente sobre Juiz de Fora e região. Fui repórter, editora de cidades e editora executiva de integração. Foram muitas as narrativas presenciadas numa Redação vibrante e ruidosa. Acompanhei a trajetória de evolução gráfica do jornal, a chegada da internet e as profundas alterações provocadas pelo celular e as redes sociais.

Nesse período, casei, tive filho – amamentado muitas vezes no frenesi da Redação – e consolidei amizades. Foram dezenas de colegas queridos e queridas com quem dividi sonhos, projetos, reportagens e cadernos que trouxeram um jornalismo vivo e cidadão para Juiz de Fora. Acompanhei chegadas e partidas de muita gente amada, entre elas o fotógrafo Antônio Olavo Cerezo, parceiro em tantos registros, que nos deixou tão jovem, aos 50 anos de idade, em 2011, e o querido chargista Bello, que partiu no mesmo ano, aos 55. Em 2019, quando deixei aquela calorosa Redação para abraçar novos caminhos, já havia me encharcado pelo jornalismo de todas as formas, mas ainda havia e ainda há muito a aprender.

O corre-corre às vezes podia ter um fechamento inusitado. Retomo um fato registrado em 2004 no dia do julgamento do caso dos envolvidos no “pega” que matou cinco integrantes da família de Delizete Carnaúba. A tragédia familiar, ocorrida em 1996, atravessava quase uma década sem desfecho. O júri, realizado em Bicas em 2004, tinha avançado madrugada adentro e não haveria condições de publicar o resultado na edição daquela manhã. As redes sociais ainda estavam começando a ser conhecidas no país, e dar aquela notícia em primeira mão no impresso seria importante. Mas, por aquelas coincidências da vida que a gente diz que só acontece com jornalista (para valorizar), a rotativa do jornal parou. A edição atrasou e, claro, a matéria foi redigida pelo repórter Ricardo Bedendo a tempo de sair como manchete. A edição chegou nas casas dos assinantes e nas bancas horas depois do costume, mas estava lá, quentinha, com a informação “mais importante” da madrugada. O veredito, porém, não se manteve, e a Tribuna acompanharia Delizete na busca por “justiça” até sua morte em 2012.

Em outras tantas vezes, formávamos uma equipe para editar uma única reportagem. Lembro-me que – também por algum problema nos computadores – fomos encerrar a edição em minha casa da primeira reportagem que envolvia denúncias contra a direção da Santa Casa de Misericórdia. O ano era 2000. Daniela Arbex, repórter especial e investigativa do jornal, autora da matéria, eu e as editoras Lilian Pace e Oseir Cassola nos debruçamos sobre os textos.

A edição, que também entraria pela madrugada, ainda passaria pelo pente-fino de Denise Gonçalves, editora executiva, que nos cobrava o princípio do bom jornalismo: checagem e provas das denúncias nas mãos, conferindo documento por documento. O “mantra” do editor geral Paulo César Magella também martelava em nossas cabeças: – “Denúncia não se publica, se apura”. A reportagem, que ganhou o nome de “Dossiê Santa Casa”, daria a Daniela, e consequentemente ao jornal, seu primeiro Prêmio Esso, na categoria especial interior. A série trazia à tona a crise financeira da maior instituição hospitalar da região, que, na época, tinha uma dívida milionária. Trazia também a certeza de que estávamos abrindo caminhos no jornalismo que acreditávamos. Quanto aprendizado!! Quanta saudade de aglomerar naquela Redação!!

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