Sobre jornalismo e esperança
Táscia Souza, repórter da Tribuna entre 2007 e 2012
“No fim da Vila Esperança, numa invasão margeada pela linha férrea de um lado e pela rodovia federal de outro…” Era assim, exatamente com essas palavras, idênticas em ambas, que começavam duas reportagens que escrevi para a Tribuna de Minas no ano de 2010. A primeira, no período da disputa eleitoral presidencial daquele ano, durante a qual, no caderno Voto & Cidadania, nos propusemos, entre tantas pautas, discutir o impacto do Bolsa Família e o voto dos eleitores beneficiários do programa federal de transferência direta de renda direcionado às famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza em todo o país.
A segunda matéria, por sua vez, saiu poucos meses depois, às vésperas do Natal, e revisitava as famílias do primeiro encontro para saber em que o resultado eleitoral e a proximidade de um novo ano e um novo governo afetavam suas esperanças e desesperanças. Se é que afetavam, tão invisibilizadas costumavam – e ainda costumam – ser.
Naquele momento eu completava meu quarto ano como repórter da editoria de Política da Tribuna. Era também minha segunda cobertura de um processo eleitoral. Foi na Tribuna que mergulhei nos meandros dos trâmites legislativos (minha principal fonte de trabalho diário, acompanhando as reuniões da Câmara Municipal), mas também onde aprendi que jornalismo político precisa ser feito com gente e de gente. Gente como repórteres e editores sim; como analistas e detentores de mandato eletivo também. Mas, sobretudo, gente feita de cidadãos e cidadãs, porque é isso o que política significa, em sua origem: a relação que se constrói pelos grupos sociais que compõem a cidade.
Foi justamente pela proposta de tentar abrir os olhos a quem existe e tantas vezes não é visto, bem como de alargar os ouvidos para escutar vozes que ecoam, mas tantas vezes são silenciadas, que essas duas visitas à Vila Esperança me marcaram. E não porque me encheram do sentimento que dá nome ao lugar; até pelo contrário. Mas porque me mostraram que esperança não é o mesmo que espera e que o jornalismo tem um papel social fundamental. Que bom poder ter feito isso na Tribuna.
Melhor ainda ter podido fazer isso ao lado do querido e saudoso repórter fotográfico Antonio Olavo Matos, o Cerezo, falecido poucos meses depois. Foi comigo também que ele fez sua última pauta, na entrega da Medalha da Inconfidência à Tribuna, no dia 21 de abril de 2011, em Ouro Preto. Isso, sim, é de se guardar no currículo e na memória.