Em uma atualização de estratégia, Padre Marcelo Rossi, que já foi campeão de vendas de CDs no Brasil em vários momentos, acaba de concluir a exibição das seis músicas do novo EP “Maria Passa à Frente e Pisa na Cabeça da Serpente”, pela Sony. O título refere-se à expressão do sacerdote dita depois de um episódio que viveu em julho, quando foi empurrado de um altar em Cachoeira Paulista (SP) por uma mulher com transtornos psiquiátricos. O vídeo com a queda do padre viralizou na internet. No dia seguinte, um outro vídeo trouxe o religioso dizendo que estava ali para guerrear, porque “a fúria do inimigo .. vocês viram”, referindo-se ao episódio como de autoria do que chama de “inimigo”. “Mas Deus é maior”, seguiu o padre. “E o mais importante, ele (o inimigo) a odeia (Virgem Maria). Se você duvida, veja ontem. Mas, creia, eu fui salvo.”
O empurrão inspirou o título do EP e a canção que Marcelo Rossi divide com o cantor sertanejo Gusttavo Lima. Até quarta-feira (25) uma postagem no YouTube contava com mais de 5 milhões de views. Na música, Padre Marcelo começa cantando, sempre com um coro ao fundo uma letra que diz “o inimigo pode até tentar / Mas nunca vai te derrubar / Você pode até cair / Mas logo vai se levantar / Quem tem Maria como mãe / Tem sempre o amor de Jesus. ” E Gusttavo entra no refrão, no momento em que a música ganha uma levada de sofrência: “Maria passa à frente / Pisa na cabeça da serpente / Intercede junto a Jesus / Cruz Sagrada, seja minha luz”.
As outras músicas do EP são “Fiel Guardião”, “Sopra em Nós”, “Jesus Me Deu Uma Mãe”, “Rainha dos Anjos do Céu” e “Colo de Mãe”, que teve um clipe lançado no último dia 23, com Rossi e Padre Adriano Zandoná, com quem divide os vocais. Ao jornal O Estado de S. Paulo, Padre Marcelo, referindo-se ao trabalho agora com foco no conceito digital com EP em vez de CD, por exemplo, diz que a comunicação precisa ser eficiente para que sua mensagem chegue a mais pessoas. “É preciso se comunicar”.
Sobre o susto que sofreu em Cachoeira Paulista, voltou a dizer que foi salvo por um milagre. “Eu nunca vi alguém ser empurrado daquele jeito e sobreviver. Quando voltei para casa, caí no choro, mas na hora não senti nada. Hoje eu posso dizer que nasci de novo. Meu médico afirmou que eu, com 52 anos e o peso que tenho, só poderia ser um milagre o fato de não ter acontecido nada.” Ele diz que pretende escrever um livro sobre o episódio e ainda lançar uma série de podcasts religiosos.
Padre voltou a falar também dos dias em que sofreu uma forte depressão, que o fez perder peso e ficar visivelmente fragilizado. “Foram sete meses e 22 dias, ao menos é o tempo em que eu tive consciência de que estava com isso. Eu não acreditava em depressão. Sei hoje que é uma doença que não escolhe classe social, raça, idade, nada. Esse é o mal do milênio e as pessoas precisam de informação.”
As pessoas, segundo o sacerdote, dizem que depressão é algo de quem não tem Deus no coração. “Mas é o contrário, foi a fé que me salvou.” Ele conta que não tomou remédios anti depressivos porque não podia, já que havia tido complicações estomacais com outros medicamentos. E que não fez terapia. “Minha terapia foi a melhor de todas, a oração.” Ele mesmo diz que, no passado, ouvia fiéis reclamarem dos sintomas da depressão e respondia passando trabalhos voluntários para ocupá-los. “Eu mudei.”
Os números que circundam a carreira do padre brasileiro mais conhecido na mídia, que faz 25 anos de sacerdócio nesse mês de dezembro, são impressionantes. Ao todo, desde seu primeiro álbum de 1998, foram 11 milhões vendidos. Seu livro que mais vendeu, “Ágape”, faturou mais de 10 milhões de cópias até hoje. Um sucesso comercial não passa, nos dias atuais, de 2 milhões.
Há uma certa irritação do padre diante da pergunta: ele faria shows para promover o novo álbum? “Veja, eu nunca fiz show. Não faço show. O que eu faço é evangelização, está bem entendido?” É uma questão séria que já provocou discussões técnicas nas altas esferas da Igreja Católica. A própria celebração do padre, alinhada com o calor da Renovação Carismática, foi considerada por alas mais conservadoras algo mais próximo de um espetáculo do que da celebração. E sobre o Vaticano? A respeito de medidas do Papa Francisco, como a que aboliu o segredo pontifício nos casos de violência sexual e de abuso de menores cometidos por clérigos? “Se fosse há 15 anos, eu falaria várias coisas. Mas hoje, sobretudo depois da depressão, eu sei que sou apenas um padre a serviço da Igreja Católica.”