No final do século XIX, o Brasil foi destino de muitos italianos em busca de um mundo novo e cheio de oportunidades. Entre as centenas de imigrantes que chegaram ao país, estavam os Delmonte, que se instalaram inicialmente no município de Matias Barbosa. Anos mais tarde, tomaram conta do comércio juiz-forano à frente de lojas tradicionais de roupas e calçados e, mais recente, de decoração. Os empreendimentos estão em atividade até hoje. A presença dos Delmonte na cidade já completou mais de um século e continua fazendo história.
Representante da quarta geração da família, Eduardo Delmonte, 66 anos, prepara os filhos para dar continuidade aos negócios e comemora a inauguração de mais uma unidade da Arpel no Shopping Jardim Norte, somando às outras três existentes. Além disso, está à frente da Jade, no Spazio Design, empreendimento que investe em móveis e adornos que acompanham todas as tendências de interiores.
“Meu avô começou a trabalhar como funcionário da antiga fábrica dos ingleses, depois Ferreira Guimarães. Mas nas horas vagas e momentos de folga, consertava sapatos. Depois ele criou a sua própria fábrica e produzia calçados. Meu pai, Domingos, a terceira geração, está na ativa até hoje. Nós, da quarta geração, continuamos o negócio. Atualmente há poucos Delmonte no varejo, mas ainda há representantes da quinta geração, como a minha filha, que acompanha os negócios”, ressalta Eduardo, que nasceu em Juiz de Fora e inaugurou sua primeira loja – Delmonte 2001, na Rua Marechal Deodoro – aos 18 anos.
Tribuna – Os Delmonte estão ligados a empreendimentos de moda. Como foi migrar para a decoração?
Eduardo Delmonte – Certo dia, uma cliente foi até a Arpel querendo comprar um presente de casamento. Indiquei algumas lojas, mas ela disse que não encontraria os presentes nelas. Falei com ela que, na próxima vez que viesse a Juiz de Fora, a cidade teria uma loja que vendesse o presente que ela queria. Então nasceu a Jade, no Del Center, uma loja voltada para adornos e peças decorativas. Inicialmente vendíamos peças importadas como muranos, cristais italianos e um pouco do design nacional. Depois ela foi para o segundo piso do Central Shopping, e aos poucos foi recebendo as peças de mobiliário, passando a realizar mostras com arquitetos e decoradores da cidade. A ideia era trazer uma proposta diferente para a cidade, pois sempre quis que ela tivesse ares de capital, o que estivesse acontecendo em grandes centros deveria acontecer aqui também.
– Existe diferença entre os consumidores?
– Os públicos são muitos semelhantes. O ambiente que a Arpel transita é o mesmo da Jade. A Arpel sempre foi uma loja voltada para produtos de qualidade, com marcas e etiquetas que possuem um valor agregado. Com a Jade, temos esta mesma preocupação, pois o cliente quer a garantia de um negócio benfeito e não quer ter aborrecimento. São produtos com maior valor agregado. Quando a pessoa olha um sofá, por exemplo, enxerga o que está do lado de fora, como a cor do tecido, mas não sabe a densidade da espuma, a madeira, e tudo que está ali dentro. Isso você paga sem saber e só vai descobrir a qualidade depois que compra. Isso, por sua vez, também é o foco da Arpel.
– E a visão do cliente perante esta estratégia?
– Entendemos que, principalmente nos dias de hoje, o consumidor quer resolver todos os seus problemas. Ele não tem tempo, e o dinheiro tem muito valor. Para ganhar dinheiro, ele sabe que tem que trabalhar bastante. Eu vejo no mercado uma mudança no comportamento de consumo com a ascensão das classes mais baixas. Elas estão procurando um produto melhor, pois sabem que estão trabalhando muito para ganhar dinheiro e querem comprar uma coisa que faça o seu suor valer a pena.
– Você observa que o consumo está mais consciente?
– Há consciência em todos os sentidos do consumo atualmente, principalmente sobre sustentabilidade. O mundo está passando por uma grande transformação, e essas crises que estamos vivendo demonstram isso: a mudança de consciência.
– Como você avalia a vocação da cidade?
– Juiz de Fora é uma cidade prestadora de serviços. É um grande centro comercial da Zona da Mata, mas carece de empreendimentos que tragam maior volume de divisas. A gente tem algumas limitações, como a localização. Estamos no triângulo formado por São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, e isso faz as pessoas evadirem daqui para consumir fora. Isso diminui o volume de negócios na cidade.