por Caroline Delgado, estudante colaboradora, sob supervisão da editora Isabel Pequeno
Situada em uma região em que a cultura hip-hop é forte, a Escola Estadual Francisco Bernardino, no Bairro Bairu, foi o local onde tudo aconteceu. Segundo o professor Cláudio Melo, após uma aula sobre arte afro-brasileira, nasceu o projeto Ateliê Aberto. “Eu ensinava um aluno a fazer uma caricatura do Cartola, quando outro aluno, Jamal, rapper da cidade, sabendo que eu estava inscrito em um evento de grafite, disse: ‘Fessô, manda o Cartola na parede, vai ficar doido’.
Depois dessa aula, tudo mudou na escola. As paredes não eram mais brancas. Aos poucos, tudo foi ganhando vida, cor e imaginação. O primeiro grafite aconteceu em um sábado letivo. Professores, funcionários, familiares, visitantes e todos os alunos da escola pintaram o “Jardim da diversidade”. Cada pessoa deixava, ali, o seu traço, uma flor, um pólen… do primeiro desenho de muitos que estavam por vir.
“A recepção do projeto foi espetacular. Formamos um coletivo, como se cada um fosse uma célula de um único cérebro, somos uma cabeça que pensa e produz arte. Outros professores e funcionários se envolveram no projeto. A diretoria deu carta branca, acreditou e confiou. Isso foi fundamental”, conta Cláudio, que, no princípio, doou material do próprio bolso, além de cada aluno ter contribuído com R$ 0, 90 para a compra das tintas. Depois, passaram a promover rifas e outras atividades visando a arrecadar fundos para o material. “Agora, somos autossustentáveis, os alunos customizam objetos para vender e, assim, adquirimos o material”, explica Cláudio.
Para muitos, a escola se resume em estudar português, matemática, entre outras matérias. Mas não é assim que pensam os alunos da escola Francisco Bernardino. Para eles, a arte tem um papel fundamental na criação de um pensamento crítico e da criação do caráter. “A arte, ao lado da educação, tem o papel de transformar, e isso é muito bonito. Além de deixar belo o espaço, traz o papel crítico sobre o que você está vendo”, ressalta o aluno Lucas Patrick, 17 anos.
Além da transformação social, a arte também cria laços de amizades e envolvimento entre os alunos. A aluna do 1° ano do ensino médio, Jheniffer Oliveira, disse que teve a ajuda de todos e criou grandes amizades nas aulas: “Todo mundo trabalha muito junto, todo mundo é unido. Formei muitas amizades com as aulas de grafite”.
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Arte da resistência
O professor Cláudio almeja voos mais altos. Para ele, o envolvimento desses alunos é muito importante e gratificante. “Os alunos adoraram, eles são a razão de tudo isso. Tem dia que eu não vou para casa, porque tem aluno que quer ficar aqui para pintar. Se existe uma desvalorização da arte, há também uma grande força para esta existir e resistir, através da escola.”
Hoje o projeto conta com a ajuda de vários professores, além da visita de artistas de fora da cidade. A escola já recebeu Davidson Lopes e a australiana Sophie Wilson, que pintaram com os alunos e conversaram sobre o processo criativo. Além de outras participações como Aneg, Tia Kiss, Stain, Cadu GloobMund, Lyvre, CND, Tarsilia Palmiere e Igor Tenxu.
Alunos protagonistas
Todo projeto tem algum benefício, e não foi diferente com o Ateliê Aberto. A diretora do colégio, Therezinha Motta, disse que a escola abraçou a ideia e que os alunos são os protagonistas desse projeto: “Além da beleza que a escola ganhou, os estudantes tiveram sentimento de pertencimento à escola, eles abraçaram a ideia, eles conservam o nosso patrimônio, a disciplina melhorou muito.”
Grandes sonhos, grandes ideias, a aula de arte da escola Francisco Bernardino não coube somente dentro do quadro negro, ela teve que se espalhar pela escola. E a parede branca se transformou, virou um grande colorido, e ficará lá, até quando existir pessoas com o dom de querer transformar e voar mais alto.