No ano passado, o empresário Gustavo Santos, 31 anos, estava perambulando na internet pelos market places da vida, procurando uma motocicleta para comprar. Viu um anúncio que dizia “a moto do Judas Priest”. Ele, fã da banda britânica de heavy metal desde moleque, chegou a considerar a possibilidade, mas… “nahh… isso não dá pra mim”. Acabou comprando outra no início deste ano, uma Harley-Davidson Heritage, ano 2006, que foi buscar em São Paulo com os companheiros do motoclube Jaguar do Asfalto, de Ubá (MG). Mal sabia ele que, menos de um ano depois, a montanha viria a Maomé: na quarta-feira passada (14), Rob Halford, o Deus do Metal, icônico cantor do Judas Priest, entrava no palco do show da banda em Belo Horizonte cavalgando a máquina de Gustavo. “Foi muito louco.” Não diga.
O que levou Halford a montar a motocicleta do empresário ubaense, também cantor da banda local Rock N’ Geral, foi uma boa dose de cara de pau. “Quando eu soube do show do Judas em Belo Horizonte, isso foi há uns três meses, eu enviei uma mensagem na fan page da banda e outra para a Tickets 4 Fun, produtora do evento, oferecendo minha moto para ser usada no show. Mandei fotos, informações sobre a moto… e alguns dias depois o pessoal da T4F me respondeu, perguntando se estava de pé.” E estava. Gustavo já havia estado em um muito aguardado show do Judas, na companhia do primo Vitor, também em Belo Horizonte, em 2011. Foi quando decidiu que viraria mesmo motociclista, mas nada pode se equipar em questão de ansiedade aos dias de espera pelo inimaginável 14 de novembro de 2018.
“Saí de Ubá na terça com minha esposa, Thaiane, na garupa e, na quarta de manhã, mandei lavar a moto e levei para o KM de Vantagens Hall, onde aconteceria o show”, recapitula o Jaguar do Asfalto. E aí veio a primeira boa surpresa: preparado para entregar a máquina e ir embora para casa esperar a hora do show, ele foi convidado a manobrar a danada e colocá-la atrás do palco, já na posição que Halford a pegaria para fazer seu mis-en-scène. “Eu me senti o próprio Halford”, diverte-se. “O palco já estava todo pronto, bateria, set list, pedaleiras. Foi muito louco.” Não diga.
Sonho não sonhado
Para quem já tinha oferecido, não custava pedir. Gustavo perguntou à produção se poderia ir ao camarim tirar uma foto com a banda depois do show. “O produtor, um cara muito gente boa chamado Giulliano, não garantiu, mas disse que tentaria e que teria de ser antes do show. Meu telefone não tocava, o show de abertura do Black Star Riders parecia que não acabaria nunca, até que chegou a mensagem.” Gustavo foi conduzido ao camarim, quebrou os protocolos, agradeceu um por um pelos serviços prestados à música universal, tirou foto. “Estavam todos lá, Scott Travis, Ian Hill, Halford já com os fones de ouvido. E o show depois foi um arraso, bom demais, aproveitei cada minuto.”
A relação entre motociclismo e Judas Priest é praticamente indissociável. Desde 1978, na turnê americana do álbum “Killing machine/Hell bent for leather”, Halford entra no palco em determinado momento de moto. Já tomou alguns bons tombos, inclusive. E para Gustavo, essa imbricação, que já era forte, tornou-se indissolúvel. “A motocicleta foi o que me proporcionou a realização desse sonho que eu nunca havia sonhado. Ele entrou no palco na moto na hora de tocar ‘Hell bent for leather’ e ficou com ela até o fim do show. Voltava a montá-la, se encostava nela, acelerava, cantava. Agora ela tem um nome: Painkiller (nome de uma das mais famosas canções do Judas Priest.” E preço, tem? “Agora não mais.” Ungida pelo traseiro sagrado de Halford, a moto retornou a Ubá na sexta-feira, debaixo de muita chuva. “E desconfio até que ela veio dando uns agudos que não atingia antes.”
Cenas pós-créditos
Quando o show acabou, as luzes da arena se acenderam e o circo do metal estava prestes a ser desmontado. O produtor chamou Gustavo para tirar a moto do palco. Mais uma sensação de êxtase para o fã de Judas. Ele só não imaginava o que estava por vir. “A saída para o estacionamento passava por onde o público se deslocava para ir embora. ‘Como vou passar aí?’, eu pensei. Então o Giulliano chamou dois seguranças, e eles foram meus ‘batedores’, abrindo espaço para eu sair. Quando os fãs perceberam que era a Harley montada pelo Rob Halford, começaram a aplaudir, gritar, tirar fotos, botar as mãos na moto, meio que se abençoando com o toque nela. Foi muito louco.” Não diga.