As bicicletas elétricas começaram a ser disponibilizadas nos serviços de compartilhamento em São Paulo. Uma operação piloto do Bike Sampa vai colocar 20 bikes nas ruas da capital paulista a partir de 18 de março, próxima segunda-feira.
A startup brasileira Yellow começou a permitir e-bikes em circulação no sistema dockless no último dia 11, inicialmente nas regiões de Pinheiros e Itaim Bibi, na zona oeste da capital, onde a circulação de patinetes e bicicletas já é intensa. A princípio, as e-bikes do Bike Sampa – patrocinada pelo Itaú e operada pela startup Tembici – serão testadas no período de 3 meses também na zona oeste.
Todas as 20 serão colocadas na próxima segunda no Largo da Batata, na Avenida Faria Lima, onde a circulação de patinetes e bicicletas já é intensa. Elas poderão ser retiradas e colocadas em qualquer estação. Nesse período de teste de 90 dias, o valor cobrado será o mesmo das bicicletas tradicionais e o aplicativo não vai informar em quais estações elas estão.
Procurada, a Yellow não quis revelar o total de e-bikes que estão na rua, tampouco o cronograma de ampliação. Conforme informou o Estado, o preço das viagens das bicicletas elétricas é de R$ 5 iniciais e mais R$ 0,40 para cada minuto de uso. Os usuários podem usá-las das 8h da manhã até 21h, somente na área em que a Yellow opera patinetes atualmente – região restrita a bairros como Pinheiros, Vila Olímpia, Jardim Paulista, Itaim Bibi, Campo Belo e Cidade Monções.
Com a bateria dentro do quadro, a elétrica terá autonomia de 60 quilômetros. Na fase piloto, as bicicletas serão levadas para o galpão da Tembici no fim do dia e carregadas. Mas a ideia, segundo Tomás Martins, CEO da Tembici – operadora do Bike Sampa -, é que as elétricas sejam carregadas nas próprias estações. “Com algumas poucas alterações, as próprias estações já começam a carregar as bicicletas quando elas são encaixadas”, diz Martins.
Questionado, o CEO da Tembici ainda não confirma se as elétricas serão oficializadas no sistema do Bike Sampa. Por enquanto, afirma, não há definição se elas serão incorporadas após os 90 dias de teste. Nesse período, o fluxo de uso será avaliado para determinar a distribuição das e-bikes. “Queremos entender para onde as pessoas vão com essas elétricas. Vão para estações mais distante? Vão para onde a cidade tem relevo mais acentuado? Vamos poder observar isso (nesses 90 dias)”, explica.
Em Nova Iorque, diz ele, as elétricas rodam três vezes mais que as bicicletas sem motor. “A distância média percorrida pela e-bike também é maior do que a percorrida pela bicicleta normal. Tudo isso fez com que a gente trouxesse mais essa opção para complementar o sistema”, afirma Martins.
Elétricas viram alternativa de transporte
Capazes de atingir até 25 km/h – velocidade máxima permitida em ciclofaixas e ciclovias, segundo o Conselho Nacional de Trânsito(Contran) -, as elétricas vêm atraindo um público que tinha dificuldade de usar bicicletas pelos mais diversos motivos, como não querer chegar suado ao local de trabalho ou não conseguir transpor as ladeiras de São Paulo. Ou tinha receio de andar no meio do trânsito. Com a ajuda do motor, é mais fácil largar em um semáforo e pedalar perto dos carros.
Não é à toa que é na ciclovia da Avenida Brigadeiro Faria Lima, a rota paulistana do pedal, onde esse movimento é mais evidente. Levantamento feito pela Aliança Bike observou que as elétricas dobraram de concentração nos últimos três anos. Em 2015, representavam 2% do total de bikes circulando por ali, hoje já são 9%. Mapeamento feito pela empresa Vela junto a cerca de mil usuários também mostrou que a maioria se concentra naquela região, e nas ciclovias da Consolação, da Paulista e da Sumaré.
Críticas
A diretora da Ciclocidade, Aline Cavalcante, vê com preocupação o avanço de patinetes e bicicletas elétricas. Segundo ela, empresas têm avançado mais rapidamente do que as melhorias em infraestrutura cicloviária e políticas públicas na cidade. Sem melhorias na manutenção de ciclovias e ciclofaixas, diz ela, a infraestrutura cicloviária pode acabar sendo afetada por bicicletas que utilizam motor.
“É muito problemático que a gente infle ainda mais a demanda já saturada das nossas ciclovias e ciclofaixas com veículos elétricos que têm motor. Isso coloca em risco a vida dos ciclistas. E coloca em risco em especial o pedestre porque em vários desses casos a elétrica vai para a calçada. E as velocidades são completamente incompatíveis, tanto da elétrica, quanto do patinete elétrico”, diz.
Ela observa com cautela o avanço das elétricas. Embora defenda a entrada desse veículo na cidade, a cicloativista faz críticas à falta de regulamentação, que poderia levar a usos danosos a pedestres e ciclistas das bicicletas tradicionais.
“A elétrica tem potencial em especial em cidades maiores em que as pessoas precisam se deslocar por mais quilômetros, com declives e questões geográfica. A elétrica é uma solução concreta e muito positiva para a mobilidade. Quanto mais conseguir trazer alternativas para tirar as pessoas do carro, é melhor”, afirma.