As versões aventureiras de hatches compactos passaram algum tempo ocupando principalmente o espaço de configurações de topo desses modelos. Algumas fabricantes ainda adotam essa estratégia para atrair consumidores movidos pelo aspecto aspiracional dos veículos. Mas a proliferação de SUVs compactos fez com que o interesse dos consumidores nesse nicho diminuísse, em função até da distância curta de preços. Isso, no entanto, abriu espaço para que as variantes de visual aventureiro fossem mais exploradas em faixas de preço intermediárias. Caso do Volkswagen Gol Track, relançado no fim do ano passado, com motor 1.0 e preço a partir de R$ 43.990.
A versão de apelo aventureiro tem um desenho exclusivo na dianteira, com capô mais alto e marcado por quatro linhas. Retrovisores e maçanetas são pintados em preto fosco – nas laterais, também estão adesivos com a inscrição “Track”. As lanternas traseiras são escurecidas e há acabamento em preto na região da placa, além de molduras nas caixas de roda. As rodas de aço são de 15 polegadas, de série, e o acabamento interior é escurecido no teto, colunas, retrovisor e no para-sol.
O Gol Track adota o mesmo 1.0 12V de três cilindros que a marca utiliza em toda a sua gama desde o ano passado. São 82 cv e 10,4 kgfm máximos com etanol no tanque e 75 cv e 9,7 kgfm com gasolina. O câmbio é sempre manual de cinco velocidades e não há mudanças em relação às outras configurações no que diz respeito à suspensão. Vocação para trilhas e aventuras, só na parte estética mesmo.
A lista de itens de série é funcional, mas se torna um pouco mais atraente com os pacotes opcionais disponíveis. Além do ar-condicionado, direção hidráulica, travas e vidros dianteiros elétricos, faróis de neblina e rádio com CD, bluetooth, MP3 e entradas USB, SD e auxiliar, é possível adicionar central multimídia – que traz junto volante multifuncional e suporte para celular -, rodas de liga leve, travamento elétrico com comando remoto, vidros elétricos traseiros, retrovisores externos elétricos, sensor de estacionamento traseiro e alarme. Sem contar com a chamativa, mas charmosa, cor laranja da unidade testada, exclusiva da versão Track.
Impressões ao dirigir
O visual despojado da versão Track deixa o Gol com um aspecto menos antiquado que as demais variantes. Mas o impacto é apenas visual. Na prática, nada muda em relação às outras versões do hatch – a concorrência aposta em mudanças na suspensão que beneficiam o rodar nas ruas esburacadas do país.
Por dentro, os plásticos duros imperam. Todos os comandos ficam à mão para o motorista e, com os opcionais da unidade avaliada, não falta qualquer informação ao condutor durante a viagem. Paga à parte, a central multimídia traz sistema de navegação GPS e volante multifuncional, melhorando a experiência de condução. E ela adiciona um suporte para celulares que facilita bastante o uso de aplicativos do aparelho, como Waze e Google Maps, bem mais eficientes que o sistema de navegação disponível para o modelo.
Quanto ao motor de três cilindros da configuração, dificilmente o motorista se decepciona. Arrancadas, ultrapassagens e retomadas são eficientes e até em subidas o vigor é maior do que se espera de um automóvel 1.0. Nas curvas e em alta velocidade, as rolagens de carroceria aparecem, mas sempre bem controladas. A suspensão firme ajuda nessa tarefa, mas deixa a desejar justamente no que mais se espera de um modelo com alguma vocação aventureira: alguma vantagem ao enfrentar a buraqueira brasileira.
Ponto a ponto
Desempenho – O motor 1.0 de três cilindros e 82 cv máximos movimenta com bastante agilidade a versão com adereços aventureiros do Gol. Desde as arrancadas às ultrapassagens e retomadas, não há decepções em comparação aos concorrentes do segmento com propulsores aspirados do mesmo tamanho. E não é preciso esperar os giros subirem muito para que o hatch se saia bem – apesar de o torque máximo de 9,7 kgfm com gasolina e 10,4 kgfm com etanol só aparecer entre 3 mil e 3.800 rpm. Nota 8.
Estabilidade – Exceto pelas rodas de 15 polegadas, não existe qualquer diferença na suspensão do Gol Track para as outras versões. Portanto, a configuração tem o equilíbrio tradicional da linha, ajudado pelo baixo peso do modelo. De maneira geral, as quatro rodas se mantêm firmes no chão, e as rolagens de carroceria são extremamente sutis quando não se explora o carro em seus limites. Nota 8.
Interatividade – Mesmo com todos os opcionais, como na unidade testada, o painel é simples, com poucos comandos. Mas tem tudo que é preciso para informar o motorista durante as viagens. Há opção de suporte para celulares de diversos tamanhos – que facilita bastante a vida do motorista. A chave tem comando para abertura das portas, mas a coluna de direção não tem ajuste de altura. Nota 7.
Consumo – No Programa de Etiquetagem do InMetro, o Gol Track teve médias de 8,8/10,3 km/l, com etanol no tanque na cidade/estrada, e 12,9/14,5 km/l, com gasolina, nas mesmas condições. O resultado lhe rendeu nota A tanto na categoria quanto no geral. Nota 9.
Conforto – O Gol é um carro compacto, mas quatro pessoas de estatura média se acomodam relativamente bem. A suspensão é firme e, em alguns casos, não absorve tanto o impacto dos desníveis das ruas. O isolamento acústico deixa um pouco a desejar nos momentos em que se exige mais força do propulsor, em rotações altas. Nota 7.
Tecnologia – A plataforma é uma simplificação da utilizada pela quarta geração do Volkswagen Polo, que já tem 15 anos de vida. O motor três cilindros de 1.0 litro, porém, é moderno, potente e extremamente econômico. Os itens mais tecnológicos ficam na lista de opcionais, o que decepciona um pouco e eleva o preço do carro. Nota 7.
Habitabilidade – Há espaço para garrafas e outras coisas nos bolsões das portas e porta-trecos. De maneira geral, é fácil acomodar carteira, celular e chaves, por exemplo. O porta-malas leva razoáveis 285 litros e não é difícil entrar e sair do modelo. Nota 7.
Acabamento – Há plásticos por toda a parte, mas de qualidade aparentemente boa e sem folgas nos encaixes. Os materiais não chegam a ser suaves ao toque, mas também não são ásperos. A Volkswagen não costuma se destacar nesse quesito, mas nas categorias de entrada não destoa tanto da concorrência direta. Nota 7.
Design – O Gol passou por uma reestilização recente. Mesmo assim, seu visual já nasceu batido e antiquado. A configuração Track, no entanto, adiciona alguns elementos estéticos que remetem à ideia de aventura. E o capô é mais alto, marcado por quatro linhas. Essas alterações não resolvem, mas amenizam a inevitável sensação de “déjà vu” causada pelo design. A cor laranja opcional, da unidade testada, ajuda a dar uma imagem mais irreverente e contemporânea à variante. Nota 7.
Custo/benefício – A Volkswagen cobra iniciais R$ 43.990 pelo Gol Track 1.0, mas completo ele chega a R$ R$ 48.807, com central multimídia. Um Fiat Uno Way 1.0 com tudo que tem direito custa R$ 49.296 e inclui assistente de partida em rampas e controles eletrônicos de estabilidade e tração. O Ford Ka Trail 1.0 é entregue por R$ 47.690, menos completo que o Uno, mas mais bem equipado que o Gol, exceto pelo sistema de entretenimento – e, assim como o Uno, tem suspensão elevada. Definitivamente, o Gol só é a melhor opção neste nicho para quem dá preferência à Volkswagen. Nota 5.
Total: O Volkswagen Gol Track somou 72 pontos em 100 possíveis.
Ficha técnica
Volkswagen Gol Track
Motor: Etanol e gasolina, dianteiro, transversal, 999 cm³, três cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, comando simples no cabeçote e comando variável de válvulas na admissão. Injeção multiponto sequencial e acelerador eletrônico.
Transmissão: Câmbio manual com cinco marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira.
Potência máxima: 82 e 75 cv a 6.250 rpm com etanol e gasolina.
Torque máximo: 10,4 e 9,7 kgfm entre 3 mil e 3.800 rpm com etanol e gasolina.
Aceleração de 0 a 100 km/h: 13,3 segundos.
Velocidade máxima: 169 km/h.
Diâmetro e curso: 74,5 mm X 76,4 mm. Taxa de compressão: 11,5:1.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, com braços triangulares transversais, molas helicoidais, amortecedores pressurizados e barra estabilizadora. Traseira interdependente com braços longitudinais, molas helicoidais e amortecedores pressurizados. Não tem controle eletrônico de estabilidade.
Pneus: 195/55 R15.
Freios: Discos ventilados na frente e tambor atrás. Oferece ABS com EBD de série.
Carroceria: Hatch compacto em monobloco, com quatro portas e cinco lugares. 3,90 metros de comprimento, 1,66 m de largura, 1,47 m de altura e 2,47 m de entre-eixos. Oferece airbags frontais de série.
Peso: 990 kg.
Capacidade do porta-malas: 285 litros.
Tanque de combustível: 55 litros.
Produção: São Bernardo do Campo, São Paulo.
Itens de série: Alerta de frenagem de emergência, sistema de partida a frio sem tanque auxiliar de gasolina, 4 alto-falantes, 2 tweeters, antena no teto, alerta sonoro de faróis acesos, ar-condicionado, banco do motorista com ajuste de altura, chave tipo “canivete” sem controle remoto, computador de bordo, direção hidráulica, retrovisores externos em preto fosco e com luzes indicadoras de direção, faróis duplos com máscara escurecida, faróis de neblina, grade dianteira em preto brilhante com friso cromado, lanternas traseiras escurecidas, moldura na caixa de roda e na lateral do veículo, retrorrefletores no para-choque traseiro, rodas de aço aro 15″, rádio com AM/FM, CD, bluetooth, MP3 e entradas USB, SD e auxiliar, tampa do porta-malas com abertura elétrica, travas e vidros dianteiros elétricos.
Preço: R$ 43.990.
Opcionais da unidade testada: suporte para celular, volante multifuncional com comando de sistema de som e do painel de informações, rodas de liga leve aro 15″, tampa do porta-malas com abertura por controle remoto, travamento elétrico com comando remoto, vidros elétricos traseiros, retrovisores externos elétricos, sensor de estacionamento traseiro, sistema de alarme com comando remoto e sistema multimídia com tela de sete polegadas, touchscreen, com GPS e App-Connect.
Preço: R$ 48.807.
Cor laranja metálica: R$ 1.780.
Preço da unidade testada: R$ 50.587.