Linthe/Alemanha – Tecnologias que chamam a atenção nos automóveis muitas vezes não foram criadas pelas marcas ostentadas em suas grades. São criação dos sistemistas, empresas que desenvolvem sistemas automotivos, que chegam prontos às linhas de montagem automotivas e são incorporados aos veículos. Esse ano, ocorreu uma movimentação importante no setor. No último dia 15 de maio, a alemã ZF Friedrichshafen AG finalizou a incorporação da norte-americana TRW Automotive, anunciada em setembro do ano passado. Agora, a multinacional alemã opera em cerca de 230 unidades instaladas em mais de 40 países. Seu portfólio unifica os sistemas de transmissão e tecnologia de chassis com os sistemas de segurança ativa e passiva. Ou seja, a ZF produz praticamente todos os componentes necessários para a condução autônoma – um dos atuais “fetiches” da engenharia automotiva mundial. Para comemorar o negócio, foi realizado um evento que levou representantes da imprensa especializada de todo o mundo a um campo de provas na cidade alemã de Linthe, na periferia de Berlim.
A atração do evento foi o protótipo Smart urban vehicle, ou Veículo urbano inteligente, que reúne várias inovações tecnológicas e será a atração do estande da ZF no próximo Salão de Frankfurt, em setembro. A proposta é oferecer uma solução moderna e ecologicamente correta, com zero emissões, para o uso urbano. A bateria fica alojada em três módulos instalados nos eixos dianteiro e traseiro. O acionamento elétrico do eixo traseiro eTB – do inglês electric Twist Beam -, instalado perto das rodas, define a arquitetura. O eixo dianteiro oferece um ângulo esterçamento inusitado, de até 75°, que permite grande manobrabilidade do veículo e mais agilidade no trânsito urbano. O diâmetro de giro do Veículo urbano inteligente é de menos de sete metros. Uma manobra de retorno de 180° em uma estrada convencional de duas faixas pode ser efetuada com facilidade. O esterçamento do eixo dianteiro é auxiliado pelo sistema torque vectoring do acionamento do eixo traseiro, que distribui o torque de forma independente em cada roda. O volante vem com um sensor de toque – HOD, do inglês hands on detection -, que cobre toda a superfície da direção. Um display Oled instalado diretamente no campo de visão do motorista oferece informações adicionais. Segundo a ZF, o protótipo alcança uma velocidade máxima de 150km/h.
Linthe/Alemanha – Além das inovações tecnológicas para melhorar a mecânica e tornar o carro mais ecológico, o Veículo urbano inteligente traz duas funções semiautomatizadas de assistência ao motorista. A primeira é o Smart Parking Assist, um assistente de estacionamento que coloca o veículo em praticamente qualquer vaga, remotamente controlado através de dispositivos portáteis como um “smart watch” – um relógio inteligente -, um tablet ou um simples smartphone. O motorista pode até estar fora do carro. Um total de 14 sensores – 12 de ultrassom instalados no veículo e por dois sensores infravermelhos próximos ao eixo dianteiro – detectam as vagas e determinam as mudanças na posição do automóvel durante a manobra. Uma unidade de controle eletrônico coordena os sistemas para que o motorista consiga estacionar até em vagas com apenas quatro metros de comprimento. Pode estacionar em paralelo ou a 90°, do lado direito ou esquerdo.
Já a função Prevision cloud assist usa tecnologia em nuvem para fazer uma análise dos dados após a condução e utilizar essas informações para otimizar o desempenho. Em cada trajeto, o programa coleta todas as coordenadas relevantes para a posição do carro, a velocidade atual, bem como a aceleração transversal e longitudinal, e armazena essas informações na nuvem. O veículo literalmente “aprende” ao longo do caminho e passa a disponibilizar as melhores opções de performance toda vez que voltar àquele trecho, mesmo que seja com outro motorista. Ao usar esses dados juntamente com o material de mapeamento do GPS instalado no sistema, a função calcula o modo ideal de condução para cada seção do caminho rodado. Como o sistema capacitivo reconhece se o motorista está segurando o volante, pode ser mantida automaticamente a distância necessária com o veículo da frente ou até acionado o freio, caso necessário – mesmo quando o motorista não está com as mãos no volante. O próprio motorista pode assumir o comando sobre o processo de assistência a qualquer momento e controlar a função com um kick-down.
Rodovias
Mas não foi apenas o Veículo urbano inteligente que brilhou no evento. A ZF também aproveitou para apresentar outras tecnologias, como o sistema de direção assistida em rodovias Highway Driving Assist. Ele combina o controle de velocidade adaptável e a centralização na faixa, para manter o carro na pista e distante do veículo à frente, sem que o motorista precise intervir. A evolução prevista para o sistema incluirá sensores 360° com capacidades laterais, que possam “assumir o controle” e realizar as necessárias de mudança de faixa, quando houver algum veículo parado ou com velocidade reduzida à frente. Os mais modernos câmbios produzidos pela ZF também estavam disponíveis para avaliação.
As câmeras e sensores eram pontos fortes da norte-americana TRW e agora são utilizados pela ZF no desenvolvimento dos futuros sistemas autônomos ou semi-autônomos. Protótipos desses novos sistemas, que atuam sobre os freios ou sobre a direção para desviar de impactos frontais ou parar para evitar atropelamento de pedestres, puderam ser avaliados no evento da ZF para a imprensa global. Pelo que indicam as pesquisas em desenvolvimento na empresa alemã, o objetivo da engenharia automotiva é que os carros se tornem cada vez mais “foolproof” – à prova de tolices ou, simplesmente, infalíveis.