O sucesso estrondoso dos SUVs no cenário global tem dificultado bastante a vida dos sedãs médios. Inclusive no Brasil. Talvez por isso, recentemente, quase todos os modelos passaram por algum tipo de atualização. Primeiro, pela queda nas vendas da categoria, que vem sendo preterida por muitos consumidores que preferem apostar na nova tendência dos utilitários esportivos compactos. O único modelo que parece não se abater pelo fenômeno é o Toyota Corolla, que reina absoluto na liderança nacional de três volumes médios. A Citroën, neste cenário, até demorou para promover um face-lift no C4 Lounge — que afetou principalmente a parte frontal —, lançado por aqui há três meses. A mudança já melhorou os números de vendas do modelo, que emplacou média de 319 unidades no primeiro semestre deste ano — em 2017, foram 217 exemplares mensais de média ao longo dos 12 meses. Só no último mês, em junho, foram emplacadas 403 unidades. Para isso, contribui o bom espaço do carro, aliado à lista generosa de comodidades presente, principalmente, na configuração Shine, a topo da linha.
O face-lift adotado no C4 Lounge, que chega importado da Argentina, segue o estilo do modelo C4 chinês. Visualmente, as mudanças se concentraram na frente. O friso duplo da grade, que desenha a logomarca do “double chevron”, traz luzes diurnas em led e se estende à parte superior dos faróis. O conjunto ótico ganhou uma série de repartições com frisos cromados para separar as parábolas de farol alto e baixo e a luz dianteira de direção. A configuração Shine ganha ainda iluminação em full led. Atrás, apenas as seções internas das lanternas foram redesenhadas.
As alterações, no entanto, não ficaram restritas ao design. O sedã médio também ganhou um novo painel de instrumentos, totalmente em LCD, com o velocímetro digital e os demais mostradores em barras, como conta-giros, marcador de combustível e até uma espécie de econômetro que acende suas luzes de acordo com o índice de consumo. No console central da versão Shine fica uma central multimídia com tela touch de sete polegadas que espelha celulares através da compatibilidade com Apple CarPlay, Android Auto e Mirror Link. Nessa mesma tela, são projetadas as imagens da câmara de ré, que trabalha sozinha na assistência ao estacionamento traseiro, já que não há sensores de obstáculos.
O motor do C4 Lounge Shine é o mesmo das outras versões mais baratas. Segue inalterado o eficiente 1.6 turbo com 165/173 cv com gasolina/etanol e 24,5 kgfm de torque. Ele é suficiente para levar o sedã de zero a 100 km/h em 9,1/9,4 segundos com etanol/gasolina. A máxima fica em 215 km/h. Nada mau para um carro que ultrapassa 1,7 tonelada de peso em ordem de marcha.
A lista de itens de série contempla alguns equipamentos interessantes nesta categoria. Além do sistema multimídia, há rodas de alumínio de 17 polegadas, ar-condicionado automático bizona, assistência de partida em rampa, controle de cruzeiro com limitador de velocidade, faróis de neblina dianteiros com iluminação lateral em curvas, computador de bordo, alarme, trio elétrico e controle de estabilidade e tração. Sensor de chuva e luminosidade, revestimentos em couro e airbags frontais, laterais e de cortina estão também no pacote da variante mais cara, que ainda recebe chave presencial e teto solar. O preço não chega a ser o mais instigante na categoria, mas também não decepciona: parte de R$ 103.890.
Impressões ao dirigir
O Citroën C4 Lounge está claramente alinhado à proposta clássica dos sedãs médios: oferecer bom espaço interno e garantir o conforto a bordo. Os assentos recebem bem seus ocupantes, a área para cabeças, ombros e pernas é grande em todas as posições e, apesar do espaço amplo, a cabine é refrigerada rapidamente pelo sistema de climatização. O acabamento é visivelmente superior ao que se vê na concorrência, com superfícies de toque suave aliadas a uma aparência sóbria e, ao mesmo tempo, elegante.
A interação entre o motorista e o carro é um ponto a favor. As informações têm leitura fácil, a central multimídia espelha telefones e não é preciso retirar a chave do bolso para entrar no modelo e dar a partida. O isolamento acústico é bastante eficiente, mesmo em velocidades mais altas, e a suspensão tem uma atuação impecável: além de absorver bem os impactos dos desníveis das ruas, mantém a carroceria neutra nas curvas.
A combinação do motor 1.6 THP flex com o câmbio automático de seis marchas é um dos principais destaques do modelo. Aliás, bem antes das concorrentes apostarem em propulsores turbinados no Brasil, o Grupo PSA já adotava essa estratégia no modelo. Arrancadas e retomadas são feitas sem que seja preciso se esforçar muito e as ultrapassagens são acompanhadas de uma agradável sensação de segurança. Além disso, a adoção do turbo garante ainda outra vantagem importante: a economia no consumo.
Por outro lado, há alguns detalhes que decepcionam um pouco. A começar pelo teto solar, que apesar de estar presente, é pequeno. Além disso, surpreende — negativamente — a falta de sensores de obstáculos dianteiros e traseiros mesmo na configuração mais cara. Há câmara de ré, mas em algumas situações — como dias de chuva ou locais com iluminação prejudicada — o alerta sonoro facilita bastante as manobras. Uma economia difícil de compreender.
Ponto a ponto
Desempenho
O Citroën C4 Lounge não chega a ser um automóvel focado na esportividade — sedãs médios sempre foram mais voltados para o conforto em função da vocação familiar. Porém, o trem de força impressiona. O 1.6 THP flex de 173 cv, aliado à transmissão automática de seis marchas, empolga em qualquer faixa de giro, já que seu torque máximo — de 24,5 kgfm — se mostra presente entre 1.400 rpm e 4 mil rpm. Na cidade, esse vigor se expressa em excelentes arrancadas. Já na estrada, retomadas e ultrapassagens são seguras e a sensação de força é plena e constante. Nota 9.
Estabilidade
O C4 Lounge é bem estável. As rolagens de carroceria até aparecem, como de costume entre os sedãs, mas sempre de maneira leve. As curvas mais acentuadas não são um problema e, diante de qualquer excesso cometido pelo motorista, o três volumes médio tem controle eletrônico de estabilidade, que intervém a favor do condutor. Nota 8.
Interatividade
Há alguns bons trunfos para o C4 Lounge Shine nesse quesito, mas nada tão diferente do que se vê na concorrência. A chave é presencial e há um novo painel de instrumentos totalmente em LCD, com velocímetro digital. A versão de topo tem teto solar, mas ele é bem pequeno. A central multimídia tem tela touch de sete polegadas e faz conexão com celulares via bluetooth ou, com cabo, via Apple CarPlay, Android Auto ou Mirror Link. Nessa mesma tela, são projetadas as imagens da câmara de ré. Por outro lado, o sedã não tem sensores de estacionamento, uma economia um tanto irracional para um carro que ultrapassa a barreira dos R$ 100 mil. Nota 7.
Consumo
O InMetro aferiu o consumo do C4 Lounge com motor 1.6 THP e transmissão automática. O modelo registrou média de 7,1/9,0 km/l na cidade/estrada com etanol e 10,5/13,2 km/l com gasolina no tanque, nas mesmas condições. Recebeu nota A na categoria e B na geral. Ou seja, para seu porte, é econômico. Nota 8.
Tecnologia
A plataforma é a PF2, do Grupo PSA, cuja primeira aplicação se deu no Peugeot 307, em 2001 e foi retrabalhada para a primeira geração do 308. Não é nova, porém era uma das mais modernas na época e favorece o C4 Lounge. A lista de itens de segurança, entretenimento e conforto é boa, mas está aquém dos recursos que aparecem em configurações de topo de alguns concorrentes — Chevrolet Cruze e Ford Focus, por exemplo, chegam a oferecer assistente de estacionamento automático. De qualquer forma, ainda se trata de um carro bem equipado para o uso diário. Nota 7.
Conforto
O espaço interno do C4 Lounge é condizente com a categoria em que atua. A suspensão consegue absorver com competência as imperfeições do piso e os bancos recebem muito bem seus ocupantes. O sistema de climatização refrigera rapidamente o ambiente e o teto solar, apesar de pequeno, amplia um pouco a noção de espaço dos ocupantes da frente. Nota 8.
Habitabilidade
Entrar e sair do sedã é fácil. Há porta-objetos no habitáculo em bom número e tamanho. O porta-malas carrega 450 litros — é menos que o que alguns sedãs compactos entregam, porém isso é comum na comparação entre a maior parte dos três volumes médios e compactos. Nota 8.
Acabamento
Esse é um ponto em que a Citroën se destaca desde seus modelos de entrada. Os plásticos usados são de bom toque e o couro usado no revestimento dos bancos é aparentemente de alta qualidade. Para qualquer lugar que se olhe, há um toque de requinte que normalmente só se vê em marcas superiores. O interior transmite a ideia de muita qualidade e elegância, apesar do visual mais tradicional. Nota 9.
Design
As alterações estéticas promovidas pelo recente face-lift foram bem leves. De qualquer forma, design nunca foi um problema para o C4 Lounge. Agora, o friso duplo da grade, que desenha a logomarca, contém as luzes diurnas em led e avança na parte superior dos faróis. O conjunto ótico ganhou uma série de repartições com frisos cromados para separar as parábolas de farol alto e baixo e também a luz dianteira de direção. Na traseira, o formato externo das lanternas e o uso de led se mantiveram, com as seções internas redesenhadas. Nota 8.
Custo/benefício
O Citroën C4 Lounge Shine tem preço inicial de R$ 103.890. Entre os sedãs médios com motor turbo no Brasil, ele só é mais caro que o Peugeot 408, que custa R$ 89.990, mas seu nível de equipamentos é superior – chave presencial, por exemplo, não aparece no Peugeot. O Ford Focus Fastback não é turbo, mas é mais potente que o C4 – são 178 cv – e tem nível de equipamentos superior por R$ 101.800 na configuração 2.0 Titanium. O C4 Lounge Shine não é caro na comparação com a concorrência, mas também não chega a ser a opção mais racional. Nota 7.
Total
O Citroën C4 Lounge Shine somou 79 pontos em 100 possíveis.
Ficha técnica
Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.598 cm³, turbo com intercooler, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro. Comando duplo de válvulas no cabeçote com sistema de variação de abertura na admissão e escape. Injeção eletrônica multiponto e acelerador eletrônico.
Transmissão: Câmbio automático de seis marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Controle de tração.
Potência máxima: 173 cv com etanol e 166 com gasolina a 6 mil rpm.
Torque máximo: 24,5 kgfm com gasolina/etanol a 1.400 rpm.
Aceleração de zero a 100 km/h: 9,1 segundos com etanol e 9,4 s com gasolina.
Velocidade máxima: 215 km/h.
Diâmetro e curso: 77,0 mm x 85,8 mm. Taxa de compressão: 10,2:1
Suspensão: Dianteiro tipo pseudo McPherson e traseira com travessa deformável. Molas helicoidais, amortecedores hidráulicos telescópicos e barra estabilizadora nos dois eixos. Oferece controle de estabilidade de série
Pneus: 225/45 R17
Freios: Discos ventilados na frente e sólidos atrás. Oferece ABS com EDB
Carroceria: Sedã em monobloco, com quatro portas e cinco lugares. 4,62 m de comprimento, 1,79 m de largura, 1,50 m de altura e 2,71 m de entre-eixos. Airbags frontais, laterais e de cortina.
Peso em ordem de marcha: 1.790 kg.
Capacidade do porta-malas: 450 litros
Tanque de combustível: 60 litros
Produção: El Palomar, Argentina
Lançamento no Brasil: 2013.
Itens de série: Direção elétrica, central multimídia de sete polegadas touchscreen com espelhamento de smartphone com Android Auto e Apple CarPlay, câmara de ré, ar-condicionado digital de duas zonas e saída de ar para bancos traseiros, luzes diurnas e faróis dianteiros em full led, bancos em couro, teto solar, rodas de alumínio de 17 polegadas, volante multifuncional, regulador e limitador de velocidade, faróis de neblina, apoio de braço dianteiro, volante com regulagem de altura e profundidade, acendimento automático dos faróis, sensor de chuva, chave presencial, sistema Isofix para fixação de cadeirinhas infantis, retrovisor interno eletrocrômico, assistente de partida em subidas, alarme perimétrico e volumétrico, vidros elétricos com antiesmagamento e retrovisores elétricos.
Preço: R$ 103.890.