Semana sim, semana também, a rotina delas consiste em levar um pouquinho de beleza – com doses de carinho, atenção e afeto – para pacientes do Instituto Oncológico. Munidas de lixas, tesouras, esmaltes, máquina de cortar cabelo e afins, entre um afazer e outro, as voluntárias Rozane Goulart, Cirene Rezende e Neide Kineipp visitam o local para cortar unhas e cabelos dos pacientes hospitalizados.
Tudo começou em 2003, quando Rozane, após se inspirar em uma amiga participante da ONG Doutores da Alegria, passou a trocar algumas horas de trabalho em seu salão, na Rua Marechal Deodoro, para atuar como cabeleireira dos pacientes da Rua Santos Dumont. “É muito gratificante. Você sente direitinho o ambiente desanimador. Com a nossa chegada, o clima muda”, diz. “Como muitos são de fora da cidade, eles acabam não conseguindo contato com nenhum cabeleireiro. Há também os que não têm uma situação financeira tão boa. Além dos cortes, levamos um pouquinho de diálogo para eles. Já teve caso de eu atender um senhor que ficou oito meses internado sem contato com a família”, lembra.
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“Eu sempre quis fazer alguma coisa que fosse útil para as pessoas. Aí uma amiga me convidou, eu experimentei, gostei e não quis sair mais”, conta Cirene, há dez anos no projeto. “Às vezes, no primeiro momento, eles até dizem que não precisam do trabalho, que não é necessário. Mas depois, costumam elogiar, falar que nunca tiveram a unha bem cuidada”, destaca. Para ela, o cuidado vai muito além de um cuidado de beleza. “Apesar de estar doente, internado, é possível ser bem tratado. Eu acredito que, mesmo que seja uma porcentagem pequenininha, nossa visita contribui para a melhora deles”, avalia.
Hospitalizado desde o dia 7 de junho na unidade, o porteiro Vandair Souza, 48 anos, foi um dos que receberam um trato no visual. “A aparência faz a diferença. As meninas chegaram em boa hora, já que, desde que cheguei ao hospital, meu cabelo foi crescendo e eu ainda não tinha cortado. E esse bate-papo ajuda”, avalia. “É uma troca de experiências, temos que trocar conversar. Aqui é lugar de se fortalecer, um é amigo de outro. A gente se torna irmãos dentro do hospital.”
Ao ser perguntada sobre qual a sensação de poder ajudar, a comerciante Neide surpreende na resposta. “Lógico que muitas vezes a gente ajuda uma pessoa que precisa de um cuidado na unha, já que está há muito tempo no hospital. Mas aí, conforme o nosso trabalho vai acontecendo, às vezes a gente acaba sendo mais ajudada do que eles”, revela.
Você pode fazer parte
Com a grande demanda, nem sempre os cuidados podem ser realizados da forma como as voluntárias gostariam. Enfrentando dificuldade de tempo e de material de trabalho, as três são unânimes quanto à possibilidade de receberem novas colegas na divisão do serviço. “Houve um período que tivemos entre cinco e seis participantes. Com a dificuldade de cada uma, não foi possível continuar. Se viesse mais gente, poderíamos atender mais e melhor”, explica Cirene.
“Já teve época, quando o número de voluntárias era maior, que, além da base, pintávamos as unhas das mulheres. Mas hoje isso não é possível”, diz Rozane. “Muitos homens pedem que façamos suas barbas, situação que também é difícil pra gente. Além disso, há períodos em que a máquina de cortar cabelo estraga e ficamos no aguardo do conserto”, explica. Ainda conforme ela, toda pessoa com boa vontade pode ajudar. O trio mostra-se aberto à doação de lixas, esmaltes, alicates, tesouras, máquinas e qualquer outro utensílio do gênero. “Tudo é muito bem-vindo”, confessa.
Interessados em participar das doações ou da própria atividade voluntária podem entrar em contato com Cirene, pelo telefone 9 9117-0720, ou através do e-mail cirenerf@gmail.com.
“Quando a gente começa, não sabe se vai dar conta de fazer. Mas aí as coisas vão acontecendo, e o trabalho vai fluindo de uma maneira que você vai se envolvendo sem ter como deixar mais”, resume Neide.
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