Juiz de Fora voltou a ser o palco central de uma campanha presidencial na tarde de sexta-feira (21). Desta vez, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cumpriu compromissos de campanha na cidade, onde se reuniu com apoiadores em uma caminhada na Avenida Francisco Bernardino, no Centro. A passagem de Lula pelo município foi finalizada com a realização de um comício na Praça da Estação.
Antes de chegar a Juiz de Fora, Lula iniciou o dia com uma caminhada pelas ruas de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri. O candidato pousou no Aeroporto da Serrinha por volta das 15h, acompanhado da senadora Simone Tebet (MDB/MS) e da recém-eleita deputada federal Marina Silva (Rede/SP). Ele também concedeu entrevistas à imprensa, no Trade Hotel. A caminhada na Avenida Francisco Bernardino começou por volta das 18h, duas horas depois do previsto. A chuva chegou a assustar os apoiadores e a militância presentes, que se espalhava pela avenida do trecho que ia da Rua Benjamin Constant até a Praça da Estação.
Lula abriu a fala agradecendo a boa votação que obteve em Juiz de Fora no primeiro turno. O ex-presidente ainda defendeu que seus apoiadores permaneçam mobilizados para desmentir possíveis fake news na reta final de campanha. “Vocês ainda vão ouvir muitas mentiras e muitas promessas falsa de nossos adversários. Faz quatro anos que ele não dá reajuste com ganho real para o salário mínimo”, exemplificou.
Lula ainda defendeu que o país já viveu dias melhores. Assim, voltou a sinalizar reajustes com ganho real do salário mínimo e reafirmou que “quem ganha até R$ 5 mil não vai pagar Imposto de Renda”. “Queremos voltar ao Governo com o compromisso de gerar empregos”, disse, sinalizando a retomada de obras e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), sinalizando, inclusive, melhorias na BR-040, que corta a cidade.
Sem privatizações
O ex-presidente ainda defendeu a equiparação salarial de mulheres e homens. “Precisamos respeitar as nossas mulheres.” Outra sinalização é de que não fará a privatização de grandes estatais em seu governo. “Vamos fazer muitos investimentos em novas universidades e nas atuais universidades.” Lula ainda disse que pretende recriar o Ministério da Cultura e retomar o programa “Minha Casa, Minha Vida”.
“Vamos reforçar a escola em tempo integral no Brasil”, prometeu Lula, encampando proposta de campanha de Simone Tebet. O ex-presidente ainda disse que quer avançar em políticas públicas de combate ao racismo. “Todos são iguais.” Em sinalização a Marina Silva, que estava em cima do trio elétrico, Lula disse que “vai cuidar da Amazônia como se fosse o quintal de nossa casa”.
Durante as atividades, também falaram a senadora Simone Tebet, a ex-ministra Marina Silva, o deputado federal André Janones (Avante) e a prefeita Margarida Salomão (PT), entre outros. O ex-prefeito Tarcísio Delgado também estava em cima do trio elétrico. A maioria das falas foi no sentido de manter a mobilização da militância até o dia 30 de outubro.
Marina Silva e Simone Tebet tiveram papel de destaque na atividade e entraram com tudo na campanha de Lula. “A partir de agora, estamos em estado permanente de campanha”, afirmou Marina, que destacou o fato de “duas mulheres estão ajudando a realizar esse projeto de eleger um operário presidente por três vezes”. Já Tebet condenou a conduta de Bolsonaro na pandemia. “Você (Bolsonaro) vai entrar para o lixo da história, porque você foi o responsável pela morte de mais de cem mil brasileiros. Eu estava lá. Ninguém me contou”, disse referindo-se à CPI da Covid-19, em que teve papel de destaque.
Simone Tebet e Marina Silva abraçam campanha
A senadora Simone Tebet acompanhou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a agenda de campanha em Juiz de Fora. Terceira colocada no primeiro turno das eleições presidenciais, a senadora não poupou o presidente Jair Bolsonaro de críticas e disse ver em Lula o único candidato do campo democrático. “Eu só reconheço um candidato à Presidência da República neste segundo turno. Porque eu não posso admitir nem reconhecer como candidato alguém que seja um autocrata; que militariza a política e politiza as forças armadas; que não aceita, que questiona o resultado das urnas. Portanto, eu estou aqui porque eu estou ao lado do único candidato que é democrata.”
Para Tebet, Bolsonaro é “desumano”. “Eu não aceitaria, jamais, estar ao lado de um presidente que é desumano, que não ama as pessoas, que não coloca as pessoas em primeiro lugar. Foi isso que nós vimos, lamentavelmente, nesses três anos e meio de governo Bolsonaro. Foi isso que eu presenciei na CPI da Covid. Quando o Brasil mais precisou do seu presidente, ele virou as costas ao povo brasileiro. Isso resultou em centenas de milhares de mortes prematuras, mães chorando sobre o leito dos seus filhos e viu o presidente andar de motociata e ser incapaz de entrar num hospital para abraçar uma mãe que estava chorando pela morte de seu filho”, afirmou.
Já a ex-senadora e atual deputada federal Marina Silva (Rede-SP) também endossou apoio a Lula. “É muito natural que estejamos todos aqui, em um movimento para unir o Brasil. E unir o Brasil em torno de quem reúne as melhores condições de defender a democracia”, afirmou. Ela ainda pontuou que acertou com o ex-presidente a retomada da agenda socioambiental adotada quando integrou o primeiro Governo Lula. “Ninguém melhor do que o ex-presidente Lula para fazer o resgate da agenda socioambiental que deu certo, porque começou em 2003, no governo dele. Enquanto o governo Bolsonaro, em três anos e meio, é responsável por um terço das florestas virgens destruídas no mundo, de 2003 a 2008, Lula foi responsável, no seu governo, por 80% das áreas protegidas criadas no mundo. Por isso é a melhor pessoa para fazer esse resgate.”
Vice de Zema apoia Lula
Vice-governador eleito em 2018 na chapa encabeçada por Romeu Zema (Novo), Paulo Brant (PSDB) também acompanhou a comitiva do ex-presidente Lula na agenda em Juiz de Fora. “Nessa eleição, eu vou votar no Lula pela segunda vez. Talvez seja o voto mais convicto da minha vida, porque eu acho que além das agendas do atual presidente serem completamente equivocadas, o que está em jogo é a manutenção da democracia no Brasil. Nós estamos vivendo risco de ruptura da democracia. Temos grandes ditadores que são eleitos e reeleitos na Polônia e na Hungria, por exemplo. Então democracia é além de eleição, é respeitar os poderes, a imprensa, a liberdade e o respeito às minorias”, pontuou.
Cidade teve papel central na disputa presidencial
A nove dias do segundo turno, que acontece no dia 30 de outubro, já é possível dizer que Juiz de Fora teve um papel central na disputa presidencial, que marca uma corrida renhida entre o ex-presidente Lula e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição. Entre o período chamado de pré-campanha e a campanha propriamente dita, os dois candidatos visitaram a cidade em cinco oportunidades.
Antes desta sexta-feira, Lula já havia passado por Juiz de Fora no dia 11 de maio, em atividade de pré-campanha. Na ocasião, o ex-presidente cumpriu uma extensa agenda que contou com pelo menos três atividades. Ele se reuniu com reitores de universidades públicas, com lideranças políticas da cidade e região, e, no ponto alto da visita, encontrou-se com a militância e com apoiadores em um ato no ginásio do Sport Club Juiz de Fora.
Por sua vez, o presidente Jair Bolsonaro esteve em Juiz de Fora em três oportunidades. A primeira vez aconteceu ainda na pré-campanha, no dia 15 de julho, quando o candidato à reeleição participou de uma motociata e de um encontro com lideranças religiosas e visitou a Santa Casa de Misericórdia.
A segunda passagem aconteceu no dia 16 de agosto, quando o Bolsonaro inaugurou sua campanha à reeleição na cidade. Na ocasião, ele também participou de uma motociata e de um novo encontro com religiosos e fez um comício na Rua Halfeld. O último ato de campanha do candidato à reeleição na cidade aconteceu nesta terça (18), quando Bolsonaro se encontrou com lideranças políticas e religiosas no Aeroporto da Serrinha e realizou um comício na Praça da Estação.
O voto mineiro
O interesse dos dois principais candidatos envolvidos na disputa por Juiz de Fora nesta reta final de campanha é justificado pela ferrenha disputa travada por Lula e Bolsonaro pelo voto do eleitor mineiro. Segundo maior colégio eleitoral do país, o estado é considerado chave pelas duas candidaturas e também é cercado de simbolismos.
Isso porque, desde a redemocratização e as eleições presidenciais de 1989, todo candidato a presidente mais votado entre os mineiros venceu as eleições e assumiu a Presidência. Foi assim com Fernando Collor de Mello, em 1989; com Fernando Henrique Cardoso, em 1994 e 1998; com Lula, em 2002 e 2006; com Dilma Rousseff, em 2010 e 2014; e com Jair Bolsonaro, em 2018.
No primeiro turno das eleições deste ano, Lula foi o mais votado pelos mineiros. No estado, o ex-presidente recebeu 5.802.571 votos, 48,29% dos votos válidos. Foram 563.307 votos a mais que Bolsonaro, que somou 5.239.264 votos, 43,6% da votação válida. Em termos percentuais, em Juiz de Fora, a vantagem de Lula sobre Bolsonaro foi ainda maior. Na cidade, o petista obteve 167.048 votos, ou 52,6% da votação válida; o candidato à reeleição computou 121.945 votos, o que corresponde a 38,4% dos votos válidos.
Sem Zema
Em sua entrevista coletiva, Lula afirmou que irá ganhar as eleições em Minas e no país mesmo sem o apoio do governador reeleito Romeu Zema (Novo). “Eu vou ganhar as eleições em Minas mesmo sem o apoio do Zema. Esse aqui é o estado da independência. Durante o primeiro turno, o Zema não apoiou o Bolsonaro de jeito nenhum porque as pesquisas mostravam que 40% dos eleitores dele votariam em mim. Assim que acabou o primeiro turno, ele viu que o candidato dele estava perdendo e ele se definiu para o outro lado”, afirmou. O ex-presidente também criticou a postura de Bolsonaro enquanto presidente. “Um cidadão que tem o cargo de presidente da República deveria ter um comportamento mais respeitoso, sabe? Sobretudo com as mulheres. E com a sua família”, declarou.