Conciliar o processo de produção de bens com alternativas que possibilitem o reaproveitamento completo dos resíduos industriais. Essa é a proposta englobada no conceito chamado de “aterro zero”, considerado uma das principais chaves na construção de caminhos dedicados à preservação ambiental e à produção sustentável. A política, que foi formalizada no início dos anos 2000 por um grupo de cientistas, define que os materiais utilizados nas atividades humanas devem ser aproveitados ao máximo, de maneira que, no mínimo 90% dos resíduos de uma comunidade ou empresa sejam reciclados – reduzindo assim as possibilidades de descarte ou incineração destes materiais. Ocupando uma área de quase três milhões de metros quadrados às margens da rodovia BR-040, no Distrito Industrial II, a fábrica da Mercedes Benz do Brasil em Juiz de Fora recentemente se tornou mais uma empresa certificada na reciclagem de todos os resíduos advindos do processo industrial.
Em entrevista à Tribuna, o diretor da planta juiz-forana, Herick Borges, ressaltou que a iniciativa conquistada no segundo semestre de 2022 reforça o compromisso da empresa com o meio ambiente. “Acima de tudo, ela é um alinhamento com a estratégia mundial da companhia, baseada nos pilares do ESG (sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa). Desta forma, a partir de um processo chamado de coprocessamento, nós conseguimos reciclar atualmente 100% de nossa produção industrial. Ou seja, nós deixamos de enviar, no período de um ano, aproximadamente 140 toneladas de resíduos advindos da produção das cabinas dos caminhões para aterros industriais. Além disso, todos os resíduos orgânicos gerados na alimentação de nossos funcionários são destinados à compostagem”, garante.
Já o analista de meio ambiente da planta, Rodrigo Lisboa, relembra que a política ambiental começou a ser implementada gradativamente na empresa a partir do início de 2021, com a reciclagem dos resíduos orgânicos. “Ao longo desses anos, por meio de campanhas internas de conscientização, nós conseguimos ir reduzindo pouco a pouco a quantidade de resíduos gerados aqui na fábrica. Anteriormente, por exemplo, tínhamos a produção de aproximadamente 210 toneladas de resíduos, e hoje temos 140 toneladas por ano, algo que configura uma queda de um terço do quantitativo, praticamente. No coprocessamento, para onde são destinados os materiais que não são orgânicos, os resíduos são 100% reaproveitados. Uma parte deles se transforma em biomassa, e a matéria prima advinda deste processo também é utilizada como combustível para os fornos da empresa”, relata.
A destinação destes resíduos, portanto, acontece por meio empresas terceirizadas, localizadas em outros municípios, que são contratadas pela montadora. “Isso ocorre devido à necessidade de contarmos com empresas que possuem as certificações e licenças necessárias para realizarem esse tipo de atividade. Todas elas são homologadas em um processo advindo da matriz alemã, que determina esse padrão de qualidade”, ressalta Lisboa. Além das iniciativas já existentes que contribuem para a redução de emissões de gases CO2 para a atmosfera, o complexo industrial, que emprega aproximadamente 800 colaboradores diretos e 150 indiretos, também está sendo readequado gradativamente para ser cada vez mais amigável com o meio ambiente, conforme explica Borges. “Além da substituição de toda a iluminação interna dos prédios da fábrica por lâmpadas LED, queremos, nos próximos anos, realizar essas transformações na área externa da planta. A ideia é que, em um futuro próximo, nós também venhamos a conseguir implementar um sistema de captação da água da chuva maior do que já possuímos hoje em nosso prédio verde”, relata.
Planta possui prédio autossustentável na produção de energia e no reaproveitamento de água da chuva
Outro elemento que também auxilia o processo de tornar a planta juiz-forana da montadora cada dia mais sustentável é a idealização do chamado “prédio verde”. Nele, através da geração de energia por meio de placas solares, além da captação, tratamento e armazenamento da água advinda das chuvas, todo o processo de limpeza das estruturas utilizadas na pintura das cabinas dos caminhões se tornou 100% sustentável. “Nesse prédio, acontece o processo que nós chamamos tecnicamente de decapagem. Nele, as estruturas que são suporte na pintura das cabinas, que eventualmente também acabam recebendo tinta, são limpas por meio de um processo de lavagem, que envolve a utilização de aproximadamente quatro mil litros de água diariamente. A diferença, portanto, é que toda energia elétrica utilizada nesse processo é gerada no próprio prédio, e a água utilizada na decapagem é advinda das chuvas. Nós possuímos um sistema onde essa mesma água é retratada sempre em um circuito fechado”, afirma Ronnie de Oliveira, gerente de infraestrutura e manutenção da Mercedes Benz em Juiz de Fora.
Além disso, mesmo com a evaporação natural da água envolvida no processo de limpeza, Oliveira garante que a existência de um reservatório de 15 mil litros possibilita a reintrodução das águas advindas da chuva nesse sistema. “Outra iniciativa que é possível no prédio verde é a limpeza 100% sustentável da frota interna de veículos da montadora, por meio de um lava-jato automatizado no edifício. Por outro lado, como são gerados cerca de 10 mil kW/h por ano com os painéis solares, toda energia que não é consumida pelo próprio prédio sustentável é redistribuída na rede elétrica interna da fábrica, podendo auxiliar outros prédios e setores da empresa”, indica.
Para que os caminhos autossustentáveis continuem a nascer na companhia, o diretor da planta juiz-forana indica que iniciativas locais que visem diretamente o meio ambiente também são incentivadas e valorizadas aos funcionários da montadora. “Nós estamos sempre trabalhando ativamente para ouvir as sugestões dos nossos próprios funcionários, porque já foram várias iniciativas criadas internamente e que foram espelhadas para as outras plantas da empresa no Brasil e no mundo todo. Inclusive, de maneira a incentivar a criatividade de nossos colaboradores, foi feito um projeto interno para a criação de uma arte a ser empregada no prédio verde. Sendo assim, a pintura que temos nele atualmente foi criada e executada por um funcionário da planta daqui de Juiz de Fora”, celebra Borges.