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“Para além do arco-íris” traz histórias reais e conscientiza sobre homofobia

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Robson Filho aposta no financiamento coletivo para publicar ‘Para além do arco-íris” – Foto de Naiara Silva

Três milhões de pessoas se reuniram, neste domingo, em São Paulo, para comemorar o Orgulho Gay. A parada, que faz parte da agenda de eventos da capital paulista, levou para as ruas o tema “Independente de nossas crenças, nenhuma religião é lei. Todas e todos por um estado laico”. O slogan é uma forma de a comunidade LGBT afirmar para a sociedade que essa onda de conservadorismo que atravessa o Brasil não faz sentido, uma vez que redunda em discriminação, perseguição, violência e em outras maneiras de silenciar a dignidade das pessoas em razão da sua orientação sexual.

Entre as vozes que se ergueram ontem na Avenida Paulista, estava a do jornalista e jovem escritor Robson Filho. Nascido em Santa Cruz das Palmeiras (SP), ele quer quebrar o silêncio imposto pelo preconceito e, assim como os milhões de participantes da Parada do Orgulho Gay, mostrar ao Brasil e, por que não ao mundo, que as pessoas LGBT não aceitam mais a invisibilidade. Para defender seu pensamento, Robson também transformou seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na Faculdade de Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa, no livro “Para além do arco-íris.”

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A publicação, lançada no dia 3 de maio por um financiamento coletivo pelo Catarse (www.catarse.me/paraalemdoarcoiris), traz a história de 20 gays de idades, lugares, ocupações, raças, classes sociais e tipos físicos variado. Entre os temas abordados e associados às cores do arco-íris, estão homofobia, HIV, preconceito, família, religião, casamento e adoção.  “Gostaria, realmente, que esse livro alcançasse a comunidade gay e a sociedade em geral, porque a gente aborda temas muito importantes. Precisamos levar informações para as pessoas, porque, só com informação, vamos conseguir reeducar a nossa sociedade”, adverte Robson.

Foi difícil convencer as pessoas a participarem? O medo de se expor ainda é um empecilho?

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Procurei fazer com que os entrevistados fossem bastante diversos. Desde lugares diversos, idades, classes sociais, ocupação, raça, para dar uma diversidade aos perfis que seriam abordados. Encontrei essas pessoas em grupos de LGBT, grupos gays no Facebook, matérias na mídia e indicação de conhecidos. Fiz contato com alguns, outros me procuraram, mas a gente percebe que, em alguns casos, ainda é meio complicado, porque, afinal de contas, são nossas próprias histórias. Mas várias pessoas se interessaram pela proposta tanto para se ajudar a contar o que passaram quanto para ajudar outras pessoas que passaram pelo mesmo.

Você utilizou o livro para se assumir. Como sua família reagiu, e o que te fez tomar essa decisão?

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Tinha essa vontade há bastante tempo. Quando estava produzindo o TCC, resolvi criar coragem de me assumir. Acho que seria uma forma de contar para meus familiares e amigos que ainda não sabiam sobre mim. Minha mãe só ficou sabendo por causa do livro. Ela foi à minha apresentação de TCC, foi muito emocionante. Todo mundo se emocionou. Foi um momento muito especial por ter sido como foi.

Sua intenção é fazer com que a comunidade gay se sinta representada ali?

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Procurei destinar o livro para a comunidade gay, para que eles se sintam representados, para que eles se reconheçam nas experiências relatadas ali. E também fazê-los pensarem em algumas questões, como por exemplo, o preconceito que ainda acontece no próprio grupo gay, contra negro, contra idosos, pessoas com deficiência. E também dedico o livro à sociedade em geral, de modo a trazer discussões importantes, quebrar estereótipos e combater a discriminação que ainda existe bastante.

A comovente história de Jonathan é um dos 20 relatos que compõem o livro – foto de Naiara Silva

 

 

O livro traz histórias duras, como de um jovem que foi agredido na rua. Apesar disso tudo, pode-se dizer que há avanços ou a situação ainda é muito crítica no nosso país quando se trata da temática LGBT?

A gente avançou bastante no sentido do casamento, da adoção e de vários direitos que a comunidade gay conseguiu, comparados aos direitos dos heterossexuais. Mas acho que ainda há bastante que evoluir. Falta uma lei, por exemplo, para criminalizar a homofobia. No caso do Jonathan, que foi agredido na rua, ele está enfrentando um processo já faz um ano, mas os agressores ainda não foram punidos, justamente, por causa da ausência de uma lei que criminaliza a homofobia. Às vezes, a homofobia é ignorada, a palavra nem aparece no processo.

Você resolveu fazer um livro-reportagem, que mistura a técnica jornalística com a subjetividade da literatura. Esse casamento deu certo?

É uma modalidade de que eu gosto muito, do jornalismo literário, porque conseguimos passar a informação de forma sensível, humana, até porque estamos mostrando pessoas. E a gente consegue fazer isso de uma forma até poética também. Acho que o jornalismo literário e os perfis permitem uma empatia, que o leitor se coloque no lugar da pessoa de quem a gente está contando a história. Até preferi escrever em terceira pessoa, o único momento do livro que é em primeira pessoa é quando conto minha história.

Como está o financiamento coletivo?

Preferi fazer o financiamento coletivo, porque acho que é uma forma de mobilizar as pessoas. Após a campanha, com o dinheiro arrecadado, todos os livros serão impressos e entregues às pessoas em todos os lugares do Brasil. Estamos em 11 por cento da meta que precisamos atingir. Fica aqui o apelo para que as pessoas possam contribuir com a gente para fazer o projeto se realizar. Pode contribuir com valores diversos. A partir de R$ 45, a pessoa já adquire o livro com o frete incluso. Dependendo da contribuição, ela vai adquirindo outros brindes do projeto.  A meta é chegar a R$ 25 mil.

 

 

“Para além do arco-íris”

Autor: Robson Filho

200 páginas

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