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Fernanda Bittar: “Temos muito mais coisas em comum do que diferenças”

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De Paris, a escritora juiz-forana Fernanda Bittar reconta histórias do cotidiano de pessoas de 18 países  em livro trilingue – Foto: acervo pessoal

Seu José nasceu em Juiz de Fora. É nosso conterrâneo, filho das montanhas de Minas Gerais. Lá nos idos dos anos 1940. Já Pamela veio ao mundo em 1980. E é de Kigali, capital da Ruanda. Eles não se conhecem, mas suas histórias, pelo que apresentam de humanidade, estão, de alguma forma, conectadas. Ele é pai da escritora Fernanda Bittar, a responsável por coletar os relatos dos dois e de pessoas de outros 16 lugares do mundo e recontá-los no livro “O país do coração” (Paratexto, 40 páginas), lançado recentemente, na versão trilingue (português/inglês/francês), com ilustrações da paulista Elizabeth Rabelo Gonçalves. O público-alvo é o infantojuvenil.

Pelas páginas da obra, passeamos não só por Brasil e Ruanda, mas também por Irã, Costa do Marfim, Japão, Marrocos, Espanha, Líbano, França, Ucrânia, Polônia, Romênia, Finlândia, Estados Unidos, Vietnã, Itália, Portugal e Indonésia. Fernanda é de Juiz de Fora, mas é radicada em Paris há 16 anos, e conta que não conhece todas essas localidades. Apenas algumas. Também conta que o mais relevante não é o país. Na verdade, quando estava em fase de produção e apuração, ela só fazia questão de Portugal. De resto, o que importava mesmo eram as histórias. Procurou encontrar aquelas que possibilitam ao leitor ter acesso a um “aprendizado para a vida toda”. Garante a autora.

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E não é que o relato da portuguesa Ana foi o mais difícil de ser encontrado? A escritora só chegou até a personagem nascida em Loulé, no Algarve, depois de conversar com cinco portugueses. E só as lembranças dela estavam dentro da proposta do livro. Fernanda buscou reunir histórias simples, retiradas do cotidiano e que marcam a infância daquelas 18 pessoas. “Vejo um mundo de infinitas possibilidades na vida cotidiana”, afirma a escritora, que não se limitou a fazer cópias fiéis do que ouvia. “Eu escutava e reescrevia com as minhas palavras. A parte do aprendizado, ou da mensagem de cada texto, sempre é minha”, destaca. “Houve muita licença poética”.

Mencionei lá em cima que o livro foi escrito para as crianças. No entanto, qualquer leitor, de qualquer idade, pode se identificar com as breves narrativas que lá estão. Por falar nisso, é escrevendo para os pequenos, no ano de 2017, que Fernanda estreou na literatura. Lançou “Maria borboleta e suas aventuras” e, no ano seguinte, “O vale das corujas/La vallée des hiboux”.  Já, em 2019, focou no o púbico adulto ao enviar para as prateleiras  “Contos do avesso”, obra que debe ganar uma continuação.

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Marisa Loures – Quando conversamos para o lançamento de “Contos do avesso”, você me disse que as narrativas haviam nascido da sua observação.  Elas tratam de vivências cotidianas, e essa é a matéria-prima do cronista.  Vejo que você tem o olhar de uma cronista…

Fernanda Bittar – O meu processo de criação sempre parte da realidade, eu não sei fazer diferente. Claro que existem outras inspirações, como livros e autores que admiro, mas a fagulha inicial sempre vem da realidade. Gosto de crônicas também, mas prefiro os contos, justamente pela liberdade de sair do real e ir para o imaginário.

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– Você começa com Juiz de Fora, trazendo um relato do seu pai. Algum motivo especial, para começar por aqui e terminar em Kigali, na Ruanda?

A história do meu pai poderia ter acontecido em qualquer lugar do mundo e a de Ruanda também. O objetivo era selecionar histórias universais, que nos conectam, nos unem e nos mostram que enfrentamos os mesmos desafios, em qualquer lugar do planeta. O que fica evidente no livro é que temos muito mais coisas em comum do que diferenças.

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– Recebi seu livro com a informação de que é uma obra voltada para o público infantojuvenil. Na sinopse diz que ele “nos conecta pelo que temos de mais precioso: a nossa humanidade”. Consegui sentir essa conexão ao ler algumas das histórias. E tive a sensação de que tinha em mãos um livro que não foi feito pensando só na criança e no adolescente…

Ele é dedicado ao público infantojuvenil, mas não existe limite de idade. Outro dia fiquei sabendo que um senhor de mais de 80 anos estava lendo para a esposa dele, que estava hospitalizada. Todas as noites, quando ele ligava para falar com ela, ele lia uma história. Achei incrivel!

– Este é seu primeiro livro trilíngue. Como está sendo a repercussão desse projeto?

A repercussão está bem interesante, e os retornos que estou recebendo também. Como tem pessoas de vários países envolvidas,  era quase uma necessidade estar em português, inglês e francês. Acho que isso pode, também, aguçar a curiosidade da criança também de saber como é tal palavra ou frase em outro idioma e incentivá-la à descoberta. Para professores, é uma boa ferramenta de trabalho.

“O país do coração”

Autora: Fernanda Bittar

Editora: Paratexto  (40 páginas)

 

 

 

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