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“Ser diferente é legal”: um livro de uma criança corajosa e cheia de sonhos

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A juiz-forana Juliana James lança “Ser diferente é legal” com contação de histórias e apoio do Instituto Aviva – Foto Divulgação

Foi no início do ano que passou que a escritora e professora de teatro Juliana James e o pequeno Enzo se encontraram. Ele é um garoto de 8 anos. Cheio de sonhos, a todo o momento, ele dá provas de que quer voar, e bem alto. “Os pais dele estavam procurando um curso que aceitasse a condição dele de cadeirante. Foi amor à primeira vista, não tinha como dizer ‘não’”, conta a autora juiz-forana que, de tão emocionada com a história do corajoso aluno, resolveu levá-la para um livro. “Ser diferente é legal” (21 páginas) tem apoio do Instituto Aviva e será lançado no próximo sábado, dia 24 de fevereiro, às 14h, na Arteria. A ocasião, de tão especial, vai contar com contação de história, dirigida por Hussan Fadel e apresentada pela própria autora, além do músico Rogério Nascimento e da atriz Carú Rezende.

Se coragem é o que nunca faltou a esse garoto, ele logo foi superando as dificuldades das primeiras aulas.  No começo, precisava da ajuda dos colegas durante os exercícios que eram propostos. No entanto, aos poucos, a vontade de participar era tão grande, que ele começou a arriscar, sozinho, os primeiros giros com a cadeira de rodas. E as outras crianças vibravam a cada conquista do novo amigo. Misturando um tanto de ficção em meio a muita realidade, Juliana traz, na obra, o nascimento do protagonista, o drama da mãe, Geórgia, quando descobriu, nos cinco meses de vida do filho, que ele não poderia andar, as descobertas no mundo mágico do teatro e o preconceito sentido inúmeras vezes na pele.

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“Um dia, eu estava andando pela rua, pensando no que o Enzo e a Geórgia me contavam sobre os problemas que eles estavam passando na escola em que ele estudava, as dificuldades com a mediadora e com professor, e até mesmo com a vaga de deficiente pela qual ela teve que lutar para conseguir. Ficava muito chocada com o preconceito em relação à condição dele e com os que vivem como se essas pessoas que têm alguma deficiência fossem invisíveis. Isso tudo foi mexendo  muito comigo”, afirma a professora, que é autora de outros cinco títulos voltados para o público infantil. No novo livro, lançado de maneira independente, o texto de Juliana ganha o colorido das ilustrações de Tâmara Lessa.

Marisa Loures – Como está sendo para o Enzo ter a própria história contada em um livro?

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Juliana James – O Enzo está amando. Ele mesmo me disse, um dia, muito empolgado: “Posso dizer que já virei um livro”. Ele está felicíssimo. Se você olhar no facebook, você vai ver que ele está postando vídeos, anda falando que dia 24 o livro dele está aí. Está muito animado. Ele tem plena consciência da condição dele, porque a família sempre deixou isso claro. O cognitivo dele é perfeito, é um menino muito inteligente e, quando ele era pequeno, começou a questionar por que ele não podia pegar os objetos como as outras crianças e por que  ele não podia correr. Então, eles foram explicando. Ele é cheio de sonho, cheio de vontade, um menino muito corajoso mesmo.

– O livro passa a mensagem de que ser diferente é legal. Você é mãe de um menino. É fácil passar esse ensinamento para uma criança?

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– Continuo teimando com esses temas. Alguns amigos que leram até falaram: “Puxa vida, você escreveu outro livro que faz a gente chorar e se emocionar.” É triste, mas é real, é corajoso e é bonito, porque a Geórgia e o Enzo vivem essa realidade com muita coragem. E é difícil, porque nem todo mundo tem uma mãe igual à Geórgia, nem todo mundo tem tanta condição de poder fazer tanto para o filho. É difícil falar sobre esse tema com as crianças, mas não é impossível. Eu já li a história para o meu filho e para os amigos dele, e eles ficaram todos quietinhos ouvindo. Ficaram curiosos para saber o que aconteceu na gravidez, como é que ele se machucou dentro da barriga, que lesão é essa no cérebro. Eles se interessam, é só uma questão de conversar. Se você nunca falar sobre isso com a criança, ela nunca vai tomar conhecimento. Mas, a partir do momento em que você dá uma oportunidade de ela querer saber e aprender, funciona superbem. E acho legal porque você já começa a transformar essa criança. Trabalho com crianças, e a gente vê que elas excluem criança diferente, faz bullying com o outro. É uma oportunidade de falar que se diferente é legal, para que eles respeitem uns aos outros.

– Como é trabalhar no teatro com crianças especiais?

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– Está acontecendo a questão da inclusão, porque não dou aula para uma turma só de deficientes. Coloco uma criança com deficiência numa turma em que todos os outros não têm nenhuma necessidade especial. Planejo uma aula, mas sempre tenho que improvisar algo para que a aula flua, adaptar para aquela criança. A turma do Enzo tem crianças de 4 a 8 aos de idade. Há crianças bem pequenas, e eu converso com elas. Expliquei que ia entrar uma criança com necessidade especial, que a gente ia fazer um trabalho de inclusão. Expliquei como era difícil, ainda, fazer a inclusão acontecer, de verdade, no Brasil, porque eu queria fazer isso do meu jeito. Falaram que eu não vou modificar a educação no Brasil, mas, dentro da sala de aula, tenho o poder de mudar, de tentar fazer diferente, de tentar ajudar uma, duas , três, quatro famílias. Percebo que estou ajudando não só o Enzo, mas as outras crianças também. Os personagens que estão nesta história são reais, eles existem. As deficiências  de que eu falo são reais.

– E mais uma vez você se volta para uma história real. Essa já virou sua marca registrada?

– Acabei, de novo, fazendo uma história que fala da vida real. Gosto mesmo de fazer isso. Acho que há um grande valor nisso e me sinto mais à vontade para escrever sobre algo que me emociona e em que eu acredito e valorizo. Não tive um plano de lançar outro livro. O último que lancei foi em 2015. Foi uma coisa mesmo de a história do Enzo ter mexido comigo. Desta vez, fiz até diferente. Queria tanto contar essa história que nem procurei uma editora. Fiz uma publicação independente. Esse livro existe porque amigos meus apoiaram a ideia. Cada um ajudou financeiramente para pagarmos a gráfica. E o instituto Aviva, quando soube do projeto, apoiou e está cuidando desse lançamento, está cuidando para que as crianças do instituto recebam o livro e que ele seja distribuído para outros lugares.

– A letra da música criada pelo Rogério Nascimento especialmente para a história do Enzo diz que ele é um menino que queria voar. Sabia que seria difícil, mas precisava ter coragem. Seu livro nos faz perceber que o Enzo voou mesmo, porque ele é uma criança feliz. Nesse processo, o fundamental foi a força da família, o apoio dos amiguinhos ou o teatro?

– A primeira coisa é o apoio da família, essa base que ele tem, que permite que ele chegue aos lugares, que ele ande pela cidade esburacada, que ele suba a escada quando não tem uma rampa, quando não tem elevador. A família levou-o para esse lugar de magia que é o teatro, onde ele pode ser o que quiser. No teatro, ele se transforma em todos os personagens que ele gostaria de ser. Ele anda, corre e voa nos exercícios. Ele está voando devido a um conjunto de fatores que está acontecendo na vida dele. Desejo que ele continue assim, que ele vá sempre muito longe e que sirva de inspiração para outras crianças.

 

“Ser diferente é legal”

Autora: Juliana James

Ilustradora: Tâmara Lessa

21 páginas

Lançamento: 24 de fevereiro, às 14h, na Arteria (Rua Oswaldo Aranha 545 – São Mateus)

 

 

 

Sala de Leitura

Quinta-feira, às 9h40, na Rádio CBN Juiz de Fora (AM 1010)

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