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Os sonhos e as lutas de Ícaro Renault, um poeta de 15 anos

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Com apenas 15 anos, Ícaro Renault foi vencedor de 2018 do Slam Interescolar Nacional e lança, no próximo sábado, o livro “Sonho e luta” – Foto de Barbara Bisaggio

 Ícaro Renault é um menino poeta que, aos 15 anos, expressa, em sua poesia, a maturidade de um adulto. Cresci e vi que a realidade/ Não é igual à de uma criança,/ Mas sei que com papel e caneta/Posso trazer esperança/ Para o mundo ser melhor,/ É só sair do meu caminho/Igual fazia Belchior”, dispara ele em versos que dialogam com o presente e apontam para um futuro repleto de sonhos. Grita por um mundo melhor, livre de preconceitos e de desigualdades. “Minha poesia é de luta! /Olha que eu queria/Ser romântico como Vinicius de Moraes,/ Mas tenho que lutar pra me expressar como Paulo Leminski,/ E avisar pra quem acha poesia brincadeira/ Que os poetas que eles chamam de vagabundos/ Já dominaram o Brasil/ Daqui a pouco, vão dominar o mundo.”

Criado em meio aos livros, Ícaro começou a escrever poesia aos 12 anos. Aos 13, teve um de seus escritos incluído na Antologia Poética publicada pela Editar. Em 2018, iniciou sua trajetória no Slam. De imediato, venceu cinco das seis batalhas que participou. Sagrou-se campeão Interescolar de Minas Gerais. Em seguida, alçou voos mais altos e abocanhou o primeiro lugar no Slam Interescolar Nacional. E, por causa dessa sua última proeza, recebeu o convite para se apresentar na Copa do Mundo de Poesia, que ocorrerá em Paris, em maio deste ano.

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Antes disso, no próximo sábado, dia 16, apresenta ao público o livro “Sonho e luta”, com o qual pretende arrecadar dinheiro para sua viagem à França. O lançamento da publicação está programado para as 13h, no Bar da Fábrica. Terá apresentação de poesias, intervenções poéticas com Laura Conceição, Duda Masiero, Igor Gervason, Sararau Crioulos e quem mais quiser declamar. Também vai ter show de Luizinho Lopes, WSMC e Banda Boca suja.

Hoje, conversamos sobre poesia, livros, autores preferidos, slam, política e, é claro, sonhos e lutas de um adolescente de 15 anos. “Entendo que todo poeta é um grande sonhador, cada dia sonho com algo diferente, sonho em viajar pelo mundo e mostrar minha arte e minha forma de pensar. Quero fazer uma faculdade e sonho com escolas que formem pensadores. Sonho com uma sociedade mais justa e igualitária, livre de preconceitos e rótulos. Sonho com uma mudança no sistema para que as pessoas possam andar com tranquilidade, em um mundo em que o diálogo prevaleça, porém os sonhos mudam, e posso, daqui a alguns meses, estar traçando outros rumos. As lutas são constantes para que os sonhos sejam realizados. Vejo sonhos e lutas caminhando lado a lado.”

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“Entendo que todo poeta é um grande sonhador, cada dia sonho com algo diferente, sonho em viajar pelo mundo e mostrar minha arte e minha forma de pensar. Quero fazer uma faculdade e sonho com escolas que formem pensadores. Sonho com uma sociedade mais justa e igualitária, livre de preconceitos e rótulos. Sonho com uma mudança no sistema para que as pessoas possam andar com tranquilidade, em um mundo em que o diálogo prevaleça.”

Marisa Loures – Quem é Ícaro Renault e como ele se tornou poeta?

Ícaro Renault é um adolescente de 15 anos, aluno do 1º ano do Ensino Médio do Colégio dos Santos Anjos, que gosta de estar entre os amigos, de atuar (participa do grupo de teatro do Colégio), gosta de esporte, joga handebol e futsal e adora escrever. Começou a escrever poesia no colégio, incentivado pelo professor e poeta Sandro Mendes.

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– Você foi uma criança que sempre esteve próxima dos livros?

Sempre estive próximo dos livros. Nasci numa família de leitores, e os livros sempre me rodearam.  A leitura é algo natural na minha casa, meus pais e minha irmã leem muito, e sempre me presentearam com livro, passeavam comigo pelas livrarias. Eu era estimulado a pegar livros na biblioteca do colégio, e no meu quarto havia uma cesta com livros, mesmo antes de eu aprender a ler. Meus autores preferidos são Paulo Leminski , Wladimir Mayakoviski e Vinicius de Moraes.

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“Acho que, para enxergar a realidade, é só ter um pouco de sensibilidade para os problemas dos outros e não entender que o mundo gira em torno de si.”

– Em um dos seus poemas, você diz que, quando criança, ser poeta ainda não era um sonho e que seus amigos te achavam estranho porque você gostava de ouvir Geraldo Pereira. Ainda diz que cresceu e viu que a realidade não é igual à de uma criança. “Mas sei que com papel e caneta/Posso trazer esperança/ Para o mundo ser melhor,/É só sair do meu caminho/Igual fazia Belchior”. O que abriu seus olhos para essa nova realidade? O estranhamento diante das suas escolhas já passou?

Quando criança, não enxergava as injustiças sociais, a vida era uma brincadeira como as do Menino Maluquinho, ou das músicas/poesias da Arca de Noé, de Vinicius de Moraes. Não sei dizer quando passei a enxergar o mundo de forma diferente, acho que foi gradativo. Na minha casa, o debate é constante, e tudo que trazemos de fora gera uma conversa. Isso nos faz refletir e contestar. Quando digo que a realidade não é igual à de uma criança, estou falando da criança que eu fui, pois vejo muitas crianças com realidades mais duras e que já passaram por muitas adversidades. Acho que, para enxergar a realidade, é só ter um pouco de sensibilidade para os problemas dos outros e não entender que o mundo gira em torno de si. Acho que o estranhamento passou porque meus amigos entenderam que não precisamos gostar das mesmas coisas.

 

Ícaro Renault recebeu convite para participar da Copa do Mundo de Poesia, que ocorrerá em Paris, em maio deste ano – Foto de Barbara Bisaggio

– E seus amigos te leem e compartilham os mesmos sonhos e lutas?

Meus amigos leem minhas poesias, me escutam e me apoiam, mas não são todos que compartilham os mesmos sonhos e lutas, mas estão do meu lado.

– Você foi campeão do Slam Interescolar Nacional em 2018. Como foi essa experiência e como se aproximou do Slam?

Eu Conheci o Slam através da confraria dos Poetas, que organiza em Juiz de Fora o Slam Poético da Ágora. Fui convidado pelo presidente da confraria, Éric Meireles, para contribuir com o projeto que ele estava trazendo na cidade. Era uma experiência nova, e não sabia direito como funcionava. Tinha 12 anos, na época, e já escrevia, mas não declamava nas competições, e, em pouco mais de dois anos, eu me deparo com uma competição nacional. A competição foi em BH, e eu fui com meus pais, minha irmã e alguns amigos poetas. Competi com dois poetas de São Paulo e Espírito Santo, dois caras muito bons.  No dia da batalha, meus pais e minha irmã conversaram comigo para que eu não encarasse aquele momento como uma mera competição e que eu brincasse com a minha poesia, pois eu era o mais novo dos três e o que tinha menos experiência. Chegar entre os três já era um grande feito, importante era mostrar meu trabalho. Fiz isso, e as pessoas gostaram. Ser campeão brasileiro daquilo que você mais gosta de fazer é inexplicável.

– E agora, sua meta, com o lançamento do livro, é conseguir recursos para participar da Copa do Mundo de Poesia Falada, que ocorre em maio, na França. O que estar lá representa para você e para a sua luta?

Estar na França mostrando a minha poesia representa a realização de um sonho e mostra que a poesia pode literalmente te levar para qualquer lugar. Mostrar a realidade brasileira através de versos para outros países é uma grande responsabilidade. Tenho que honrar a poesia juiz-forana, mineira e brasileira, principalmente porque não vou competir, vou me apresentar no evento e, provavelmente, em algumas escolas francesas.

– Uma de suas poesias diz assim: “Então, deixe-me ir,/ Preciso andar, /Vou por aí/A procurar/Tipo Laura Conceição”. A Laura se tornou referência do Slam aqui em Juiz de Fora. Já alçou voos que ultrapassam nossas fronteiras. Além dela, quais são suas outras referências dentro da poesia da periferia e que merecem ser ouvidas e conhecidas?

Laura Conceição além de “ídola” é amiga, é a minha maior referência. Laura é uma das grandes responsáveis pelo meu amor à poesia.  Outra pessoa que me inspira é o poeta e professor João Paiva, ele me emociona com seus versos, já foi campeão brasileiro de Slam e tenho o sonho de conhecê-lo pessoalmente.

– Você diz que sua poesia é de luta, mas que queria ser romântico como Vinicius de Moraes.  Você se vê fazendo uma poesia que fala de amor, descomprometida com os problemas do seu tempo?

Fiquei os últimos dois anos fazendo apenas poesia de resistência com versos livres. Estou escrevendo, agora, versos metrificados e com outros temas. Quero abordar vários conteúdos em meus poemas.

– Seu livro traz um recado para quem acha que poesia é brincadeira: “Que os poetas que eles chamam de vagabundos/Já dominaram o Brasil/ Daqui a pouco, vão dominar o mundo.” Acredita que a poesia pode causar impacto na política?

Acho que a arte tem uma grande importância no pensamento coletivo. A poesia pode levar ao pensamento crítico e causar impacto político e social.

– Já que os poetas vão dominar o Brasil e o mundo. O que pretende fazer para levar sua poesia para o maior número de pessoas?

Pretendo escrever muito para que possa levar a poesia para o maior número de pessoas. Acredito que as escolas têm esse papel, quero estar no maior número de escolas possível .

Sala de Leitura – Toda quinta-feira, às 9h40, na Rádio CBN Juiz de Fora (AM 1010).

Lançamento de “Sonho e Luta”

16 de março, às 13h, no Bar da Fábrica  (Av. Getúlio Vargas 200 – Centro),

Apresentação de poesias, intervenções poéticas com Laura Conceição, Duda Masiero, Igor Gervason, Sararau Crioulos e quem mais quiser declamar.

Show de Luizinho Lopes, WSMC e Banda Boca suja.

 

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