O mineiro de Cataguases Joaquim Branco tinha 21 anos quando se uniu a outros jovens estudantes e escritores e formou o Totem. Era o ano de 1961. O movimento começou suas atividades literárias com o jornal “O muro”. Depois, veio o SLD – Suplemento Literatura Difusão, em 1968. Já em 1975, o “Totem”. Como conta Joaquim, cartas e mais cartas e notas em jornais e revistas catalogados dão conta da repercussão dessa iniciativa no meio artístico. Os textos que publicavam eram, na maioria das vezes, experimentais. Uma produção que caminhava em consonância com as vanguardas poéticas que ocorriam no mundo em meados do século XX.
Essa turma, formada majoritariamente por estudantes da Fafic (Faculdades Integradas de Cataguases), seguiu reunida até 1980, quando cada um foi “cuidar de si”. E toda a trajetória dela está registrada no livro “Totem e as vanguardas dos anos 1960/70”, que será relançado na nona edição da Jornada Literária, do Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários, da UFJF. Joaquim é um dos convidados da mesa “Poéticas da Pós-modernidade”, marcada para a próxima quinta-feira, às 11h. Ao lado dele, estarão as professoras da Universidade Federal de Viçosa Francis Paulina Lopes da Silva e Joelma Santana Siqueira. “Vou relançar ‘Totem e as vanguardas’, minha tese de doutorado na UERJ, porque será uma fonte significativa para minha fala no dia da mesa-redonda. No livro, retrato os anseios de renovação da literatura, a busca de novos caminhos”, adianta o autor e também professor de literatura brasileira.
Joaquim Branco é autor de 34 títulos lançados, entre eles “O menino que procurava o reino da poesia”, “Consumito”, “Textuagens”, “Refugiados” e “Passagem para a modernidade”. Escreve crítica literária, ficção e poesia. E, para começar esse bate-papo de hoje, suas inquietações: “Estou sempre voltado para mim e para o mundo. Isso torna meu trabalho de criação tão pessoal quanto social. Os temas aparecem naturalmente na tela das minhas inquietações. Isso me lembra um verso de Cassiano Ricardo: ‘O mundo nunca foi tão belo/tão bélico’, em ‘Jeremias sem chorar’, um dos melhores livros da época.”
Marisa Loures – Em que momento da vida Joaquim Branco se percebeu poeta?
Joaquim Branco – Nunca percebi isso. Acho que seria muita pretensão da minha parte. As coisas acontecem, inclusive o fato de começar a escrever. Não sei nem quando isso se deu. A leitura nos conduz a um novo mundo, mesmo para quem não faz literatura.
– “O menino que procurava o reino da poesia”, relançado no ano passado, é o seu primeiro trabalho dedicado à literatura infantil. Como é o percurso percorrido pelo garoto Leonardo para encontrar o reino da poesia?
– Esse livro, agora em segunda edição, é o meu primeiro trabalho em literatura infantojuvenil. Escrevi-o de um só jato, pois já estava rondando a mente há algum tempo. Acho que surgiu da experiência com os movimentos literários em sala de aula. O percurso do protagonista da estória passa pela história da literatura brasileira e seus principais autores do Quinhentismo ao Simbolismo, sempre buscando a lição que cada autor foi ensinando ao personagem principal.
– Ao longo do livro, o garoto encontra alguns poetas brasileiros em cada região do país e, com isso, vai aprendendo uma lição poética. Esses poetas que aparecem no livro são suas referências literárias?
– Sim, os poetas encontrados por Leonardo são referências de cada momento literário, tendo em vista sempre algo peculiar que poderia interessar ao jovem leitor. As regiões do país em que os autores se encontram servem como moldura para o que vai se passando e mostram como o país é rico em acontecimentos e sensações.
– Por falar em poesia, o que ela significa na sua vida?
– Não faço apenas poesia (como se fosse pouco), mas atuo na crítica, na história e na ficção (como nesse livro). Mas a poesia centraliza meu interesse maior, meu poder de fogo, como se poderia dizer, pois ali encontro o centro de meu interesse em me comunicar.
– Frequentemente, ouço que a poesia é pouco valorizada aqui no Brasil. Como o vê o mercado para os poetas brasileiros?
– Nosso país é rico em artistas e em público, no entanto falta, da parte da organização governamental (em todas as esferas) um empenho mais forte e ordenado, que seria muito bem exercido por profissionais criativos e competentes para auxiliar nesta função. No momento, passamos por “trevas” muito espessas em nossa cultura.
– No período em que o movimento Totem existiu, estávamos em plena Ditadura Militar. Isso, de alguma forma, influenciou a literatura que vocês faziam?
– Seria impossível deixar de lado um fato político tão arrasador para a cultura nacional. Vivemos um período difícil e sufocante. Conseguimos sobreviver não sem lutar bastante nas lides artísticas, especialmente na correspondência e troca de poemas e publicações. “Totem e as vanguardas” é um registro e uma análise dos movimentos literários mais expressivos das décadas de 1960 e 70 no Brasil, com referências internacionais também.
– Aqui na Jornada, o senhor vai fazer parte da mesa Poéticas da Pós-modernidade. Como vai ser essa conversa?
– Minha conversa (isso mesmo) vai ser bem objetiva, direta, terra-a-terra, onde vou tentar mostrar os aspectos das rupturas que aconteceram do Modernismo para a Pós-Modernidade. Os pontos em que isso, a meu ver, aconteceu, as contribuições dos poetas mais significativos da literatura brasileira, suas intervenções que caracterizaram mais profundamente a preparação para as mudanças e elas em si.
“Totem e as vanguardas dos anos 1960/70”
Autor: Joaquim Branco
Editora: Funcec (167 páginas)
IX Jornada Literária, do Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários
De 06 a 08 de novembro, na Faculdade de Letras, da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Programação completa em www.jornadaliterariauf.wixsite.com/jornadaliteraria?fbclid=IwAR1DqcNc88tO61uBcLIY6tp6_HQduFHvFxVMK0zQOAqKI8naJBXNJWjJyfs