Ana Luiza Gonzaga tem 17 anos. É aluna do Ensino Médio da Escola Estadual Ali Halfeld e é a única adolescente juiz-forana a ter um conto publicado no livro “Meninas que escrevem” (Jandaíra, 136 páginas). Lançada, virtualmente, no dia 17 de outubro, a obra foi idealizada e organizada pelo Coletivo Nós, Marias, que integra a rede Girl Up, uma iniciativa da Organização das Nações Unidas para o empoderamento de meninas em todo o mundo. “Acredito no papel transformador de uma arte representativa, e é isso o que me motiva a buscar amadurecimento artístico”, comenta Ana Luiza, que prefere ser chamada de Nalu, apelido que ela também usa em suas redes sociais. Aliás, o conto “Ana Cecília”, do “Meninas que escrevem”, não é sua primeira incursão pela escrita, pois seus seguidores no Instagram e Facebook já acompanham, há algum tempo, suas criações em prosa e em verso.
Para participar do projeto, Nalu passou por um processo de seleção que contou com inscrições de meninas menores de 18 anos, de 25 estados brasileiros. No total, 261 textos chegaram às mãos das organizadoras, responsáveis por selecionar os 17 textos que entraram para a publicação. “Em muitos momentos, as autoras trazem um olhar crítico sobre a realidade de mulheres ou meninas marginalizadas, seja pela cor da pele, seja pela classe social, ou simplesmente pela condição de ser mulher, tecendo temas tão densos quanto a homofobia, o machismo e o racismo estrutural, abordados em narrativas simples apenas na superfície. Muitas dessas histórias não deixam de apontar caminhos de superação, alcançada pela sororidade e pela compreensão, sob a perspectiva feminista e empática dessas jovens autoras em formação”, anuncia a editora.
É preciso dizer que o “Meninas que escrevem” é um livro feito todinho para elas e por elas. Sem dinheiro e sem experiência no ramo editorial, o grupo de meninas do Ensino Médio que estão à frente do Nós, Marias decidiu que lançaria um livro. Pois bem, foram atrás de uma editora, e as autoras selecionadas participaram do processo de produção e de divulgação da obra. Se você quiser conferir o resultado dessa empreitada feminina adquirindo um exemplar, isso pode ser feito por meio do site da editora Jandaíra. Agora, quem é de Juiz de Fora, pode encomendá-lo diretamente com a Nalu. Nesta entrevista, nossa autora conta como foi a experiência coletiva de lançamento do livro e o que aprendeu com ela. Confira!
Marisa Loures – Você é uma menina que escreve. Tem apenas 17 anos. Como começou sua história com a literatura? A escola exerceu alguma influência na sua decisão de ser escritora?
Ana Luiza – Minha história começou bem cedo! Minha mãe sempre me incentivou a ler, quando eu saía com ela, sempre voltava com um daqueles livros infantis que contavam histórias de bichinhos,sabe? Em relação à escola, me lembro que no ensino fundamental as minhas aulas preferidas eram as que se passavam na biblioteca, porque eu podia pegar livros emprestados e assistir às contações de histórias. Além disso, no quarto ano, a professora de português ensinou a minha turma a escrever todos os gêneros textuais possíveis, aí cada aluno montou um portfólio com biografias, contos, poesias, crônicas… Isso foi bem marcante para mim! Daí em diante, não parei de escrever. Escrevia cartinhas para os meus pais, e nos meus cadernos sempre tinham frases soltas. Eu até brincava que era escritora e estava sendo entrevistada por um jornal importante! Haha!
– Quais são os autores e autoras que fizeram parte da sua formação leitora?
– Quando eu era mais nova, lia muito as obras de Ruth Rocha. “Os bichos que tive” é um livro dela que até hoje eu gosto. No ensino médio, passei a ler Clarice Lispector, Cora Coralina e Lygia Bojunga. Mais ou menos nessa época, embarquei na literatura contemporânea através de Thalita Coelho.
– Gostaria que apresentasse o projeto “Meninas que escrevem”. Como se deu o processo de seleção dos textos e produção do livro? Vocês, autoras, participaram de todo o processo. O que aprendeu com tudo isso?
– O “Meninas que escrevem” surgiu através de um concurso que foi organizado pelo clube Nós Marias e foram as meninas do clube que selecionaram os contos. Elas criaram uma página na internet que explicava o projeto e nos direcionavam para o formulário de inscrição, aí a gente respondia colocando os nossos dados, os dados dos nossos responsáveis e o nosso conto, que deveria conter uma temática social. Nós recebemos um e-mail bem fofo quando fomos selecionadas, dizendo que a última etapa da seleção seria uma reunião online com o responsável de cada uma de nós. Quem teve a sorte de obter a permissão dos pais, entrou no grupo de autoras que foi criado no whatsApp e passou a participar de cada partezinha do processo do livro. A gente se reunia uma vez por semana, através de aplicativo de videochamada, para decidir sobre a divulgação do livro e coisas assim. Depois que essa parte estava decidida, mais para perto da pré-venda, as reuniões passaram a ser mensais, com o objetivo de a gente se conhecer melhor mesmo. Falávamos sobre as nossas vidas, contávamos nossas histórias e nos apoiávamos. Aí criamos uma amizade. O grupo no whatsApp ainda existe e estamos sempre nos falando. Com essa experiência toda, aprendi a trabalhar em equipe, ouvir o outro e pensar coletivo.
– As organizadoras do projeto receberam 261 textos de meninas de 25 estados brasileiros. O seu está entre os 17 escolhidos para o livro. Sei que você já publica nas redes sociais, mas agora você é uma escritora de livro publicado. Como se sente? A publicação em um livro físico era um sonho?
– Ah, são muitos os sentimentos! Eu me vejo muito surpresa ainda, mesmo eu já tendo o livro em mãos, porque eu não imaginava que a minha arte iria receber um reconhecimento tão rápido assim. Mas, acima de tudo, eu sou imensamente grata, afinal, ser publicada era, sim, um sonho, porque acredito que o leitor cria um laço afetivo muito forte quando ele tem a obra literária em mãos, e isso pode proporcionar encontros pessoais profundos.
– Por falar nisso, você escreve em prosa, acaba de lançar um conto, mas também escreve em versos. O que mais está presente nas suas redes sociais são seus poemas. Transita entre os dois sem muitas dificuldades?
– Os contos são ótimos para contextualizar os pensamentos e sensações que eu coloco no poema como algo repentino, por isso não vejo grandes dificuldades em escrever ambos os gêneros.
– E o que achou da ideia de esse ser um livro só de meninas? É da opinião de que a literatura pode atuar no fortalecimento da voz feminina?
– Eu amei isso, porque nossas referências de sucesso e qualidade são, na maioria das vezes, figuras masculinas. A literatura pode e deve fortalecer a voz feminina, porque uma das suas funções é falar sobre o mundo ao nosso redor.
– Você já tem novos projetos literários? Como pretende fazê-los circular?
– Sim. Eu tenho dois zines prontinhos para serem impressos e vendidos. O legal desses livrinhos feitos de forma independente é que eles podem ser vendidos por um preço bastante acessível, o que permite que a minha arte chegue a todos e todas.
Sala de Leitura – Toda sexta-feira, às 11h35, na rádio CBN Juiz de Fora (91,30)
“Meninas que escrevem”
Livro organizado pelo coletivo Nós, Marias
Editora: Jandaíra (136 páginas)
Onde adquirir o livro: “Meninas que escrevem” está disponível no site da editora Jandaíra
Quem é de Juiz de Fora, pode adquiri-lo diretamente com a Ana Luiza Gonzaga. Basta
procurar por Nalu Gonzaga no Instagram ou no Facebook.