Murilo é um menininho que, ainda na barriga da mamãe, já mostrava o que queria fazer quando de lá saísse. Brincava e brincava, chutando em todas as direções. Nasceu sapeca e cresceu curioso, querendo fazer circo, pular amarelinha e ir com o seu cavalinho de pau para o outro lado do mundo. Ele é personagem de um livro, mas a inspiração para sua criação, além de seu nome de batismo, veio da vida real. É que a autora da história, a juiz-forana Marisa Timponi, acabou de tornar-se avó. Murilo Timponi Cosendey nasceu no dia 2 de dezembro, e a escritora está vivendo as emoções do primeiro netinho. É claro que a novidade também refletiu em sua escrita. E Todos que a conhecem sabem da paixão que ela tem pelo poeta Murilo Mendes, objeto de suas pesquisas há vários anos.
Foi vendo os movimentos do pequeno Murilo no ventre da filha Raquel, à luz da obra do autor de “A idade do serrote”, que ela teve a ideia de escrever a obra em homenagem aos dois Murilos. “Ele nasceu, trazendo consigo um destino: já é protagonista de uma história alinhavada à poesia! É um menino atento ao mundo, observa atentamente tudo ao redor, comunica-se com sorrisos, gritinhos, mãos e pés em movimento, e criou um código para dizer quando quer mamar, tal como eu falo no livro à página sete, quando quer comer, dormir e descansar. Trouxe alegria por ter vindo para perto de nós”, conta, toda orgulhosa, a vovó coruja, que faz o lançamento oficial de “O menino que pulava” (Alva Editora, 28 páginas) no próximo sábado (8), às 16h, no Espaço Excalibur. Ilustrada por Alberto Pinto, a obra concorre como melhor livro infantil de 2019 no Prêmio Ecos da Literatura.
A data para o lançamento não foi escolhida ao acaso. A intenção de Marisa era escolher um dia que coincidisse com o retorno das aulas. “E 8 traz consigo a plenitude do infinito”, explica a autora, adiantando que terá o netinho ao lado no momento em que contará a história para os que lá estiverem. Além disso, haverá cantigas de roda com Thiago Miranda e declamações de poesia com alguns escritores da cidade. “Que tal uns pulinhos de grilo com o Murilo e a autora?”, convida Marisa, convidada do Sala de Leitura de hoje.
Marisa Loures – O que mudou na escritora Marisa Timponi com a chegada do Murilo?
Marisa Timponi – A escritora Marisa colocou seus óculos e écharpe de contadora de histórias, deixou fluir a linguagem infantil das múltiplas leituras e cursos como professora de literatura brasileira e pensou nos pulos como impulsos e etapas de vida para seu netinho Murilo, desde o ventre materno, passando pelas atividades no mundo, selecionadas pelo viés do esporte, via atletas reconhecidos e os da família.
– Tornar-se avó intensificou sua vontade de produzir para crianças? Ou já era desejo seu investir na literatura infantil?
– Fiquei superligada aos assuntos que envolviam meu neto. E como faço parte da Leiajf (Liga dos Escritores e Ilustradores de Juiz de Fora) agilizei o projeto de escrever literatura infantil, especialmente â luz de autores de Juiz de Fora e ou de mineiridade. Esse livro pretendo que seja o carro-chefe nas idas a escolas e feiras literárias. Estou concorrendo com ele na categoria de melhor livro infantil, no Prêmio Ecos da Literatura, mas as votações pela internet vão até 6 de fevereiro. Está disponível no Facebook e no Instagram de Marisa Timponi. Sou co-autora em um outro livro infantil, de contos, esgotado, “Histórias de arrepiar”.
– Ele foi inspirado na história de Murilo Mendes. Quais são as referências da infância do poeta juiz-forano que estão ali na obra?
– Tal como Murilo Mendes, meu neto Murilo Timponi nasceu em Juiz de Fora, sendo aqui registrado. Importa lembrar aqui as páginas 11 e 12 do livro, que retomam o desejo muriliano de desbravar o mundo: Sabe o que o Murilo queria? Queria ir com seu cavalinho de pau para o outro lado do mundo. O que ele queria? “O grande sonho: ir do Brasil à China a cavalo” (igualzinho ao poeta seu xará, Murilo Mendes, nascido em Juiz de Fora, em 1901, que assim nos conta seu sonho em “A idade do serrote”).
– É preciso, desde cedo, fazer as nossas crianças entenderem a importância da poesia de Murilo Mendes? Aliás, há um incentivo a isso aqui na cidade? Existe algum projeto nesse sentido?
– Sim! Sempre importante você despertar o gosto pela literatura, especialmente para uma criança. A poesia traz consigo a possibilidade de desbravar mundos, tal como nos diz o próprio poeta Murilo Mendes no livro “O discípulo de Emaús”, no aforisma 198: “a poesia não pode nem deve ser um luxo para alguns iniciados: é o pão cotidiano de todos, uma aventura simples e grandiosa do espírito.”
– Por falar nisso, você diz que esse novo trabalho é uma forma de trazer um pouco dos escritores locais para as crianças. É sua intenção lançar outros títulos, homenageando outros autores da cidade?
– De fato tenho um projeto nessa linha. Inclusive venho trabalhando a lenda do morro da boiada, resgatada pelo escritor juiz-forano Lindolpho Gomes, autor da letra do hino de Juiz de Fora. Já até publiquei um conto na Antologia Juiz de Fora ao Luar, pela Editora Griphon, em que e retomo o autor.
– Segundo você, esse projeto reflete uma necessidade de tradução da literatura para crianças. Quando você faz essa observação, leva em conta a quantidade ou a qualidade de obras voltadas para os pequenos? Como avalia a literatura infantil produzida no Brasil?
– A literatura produzida no Brasil para criança é uma literatura criativa, de qualidade e precisa de reconhecimento ainda maior, não só aqui no país como no exterior. Felizmente tenho visto o interesse crescente por obras específicas direcionadas a idades variadas, que tem trazido um trabalho sistemático. Conheço de perto, inclusive aqui em Juiz de Fora, o trabalho feito por alguns escritores, tais como os da Leiajf, que mostram como é importante a atuação com livros infantis e contação de histórias. Aliás, quero destacar aqui no meu livro a presença do ilustrador Alberto Pinto, meu co-autor, já que fez a arte do livro com belíssimos desenhos, que é da editora Alva, editoria de Valéria Magalhães (impresso pela Gráfica Juiz-forana). São membros da LeiaJf e fizeram um trabalho magnífico desse meu livro “O menino que pulava”.
– De alguma maneira, a sensibilidade necessária para escrever para crianças é diferente da exigida para se comunicar com gente grande?
– Escrever para criança é um grande desafio. Além de termos que ser sucintos, precisamos saber falar de forma a atingir e atrair os pequenos. É preciso clareza e o domínio de técnicas para os livros infantis que têm se aprimorado crescentemente. Tenho muitos livros de crítica e pesquisa de literatura para adulto, mas confesso que gosto de contar histórias e conversar com os pequenos. Fui aluna de contação do Celso Sisto, na época do Proler (Programa Nacional do Livro Infantil).
“O menino que pulava”
Autora: Marisa Timponi
Ilustrador: Alberto Pinto
Editora: Alva, 28 páginas
Lançamento: 8 de fevereiro, às 16h, no Espaço Excalibur (Rua São Mateus 265 – São Mateus).
Sala de Leitura: Todo sábado, às 10h15, na Rádio CBN Juiz de Fora (91.3 FM)