Dilemas do PMDB
Foco de resistência e estuário de todas as tendências políticas durante a ditadura com a sigla MDB, o PMDB, herdeiro direto, passa por uma crise sem precedentes. É governo em Brasília, mas paga uma conta imensurável pelo modo como seu principal dirigente, o presidente Michel Temer, tem operado. O chefe do Governo atua única e exclusivamente para manter o mandato, mas deixa a conta do desgaste para a sua legenda. Mas esse dilema não se esgota na instância federal. Em Minas, os dirigentes também vivem um impasse de comando. O presidente do diretório estadual, Toninho Andrade, está isolado, sobretudo após queimar etapas e romper com o governador Fernando Pimentel sem consultar os demais “cardeais”. O resultado foi o enfrentamento com o presidente da Assembleia Legislativa, Adalclever Lopes, o verdadeiro líder da bancada peemedebista na Assembleia e com autonomia para dizer ao governador Pimentel que o PMDB manteria seu apoio ao Governo, inclusive com vista à reeleição.
Causa própria
Essa autonomia de Adalclever incomodou o ex-governador Newton Cardoso, que não quer perder o controle do partido em Minas. Há cerca de 15 dias, ele chamou Toninho e Adalclever para uma conversa e pediu a boa convivência entre ambos para o bem do partido. O gesto, porém, foi interpretado em algumas frentes como uma ação de viés pessoal. Newton não estaria preocupado com o impasse entre o vice-governador e o presidente da Assembleia, e sim com o seu controle da legenda. Esse dado foi detectado por vários diretórios regionais, que já se articulam para dar uma nova configuração ao partido em Minas, isto é, querem tirar Newton de cena, pois, como Temer, ele só traz desgaste para o partido.
Olhar no futuro
O PMDB também tem preocupações locais. Vários atores estão de olho no futuro, especialmente nas eleições de 2020. Se o prefeito Bruno Siqueira deixar a Prefeitura no ano que vem, para uma eventual disputa a senador ou deputado federal, o município será comandado pelo tucano Antônio Almas, que teria o direito à reeleição. Os peemedebistas temem que ele amplie a participação tucana na Administração, embora vários filiados do partido já estejam atuando nos escalões de governo. Nesse aspecto, a bancada na Câmara tem feito pouco para ganhar espaço, salvo algumas exceções, preferindo atuar em demandas próprias, sem se preocupar, necessariamente, com a legenda.
Meia reforma
Diante de tantas demandas que ainda estão em aberto, dificilmente o Congresso irá fazer uma reforma política de porte, antes de setembro, para vigorar já nas eleições do ano que vem. O deputado Júlio Delgado (PSB) destaca que não haverá tempo para grandes mudanças, já que a pauta está tomada por temas como a denúncia com o presidente Michel Temer e sua possível sucessão – mesmo temporariamente – pelo deputado Rodrigo Maia. “Acho que a mudança vai ficar apenas no fim das coligações proporcionais e na cláusula de desempenho. Não será votado mais nada”, advertiu. O deputado admite a criação do Fundo Partidário, mas está convencido de que ele será em valores bem menos expressivos do que a previsão inicial, e o financiamento de pessoa física. Quanto às demais mudanças, Delgado acha que há dificuldades para os dois lados. “Nós não temos ainda os 342 votos para afastar o Temer e nem eles têm os 308 para fazer as reformas.”