Demonstração de resultado do exercício, também chamado de DRE, é um relatório financeiro que traz o resumo das atividades da empresa em um determinado período. Sua finalidade varia de acordo com o objetivo da sua construção. Visto que, por exigência legal, toda empresa deve gerá-lo, mas sua importância supera o mero cumprimento da lei.
O DRE pode ser feito sob duas perspectivas: contábil e gerencial. Compartilhando dos princípios do DRE Contábil e divergindo em sua finalidade, um DRE gerencial é construído para gerar informação relevante à gestão e, desta forma, auxiliar em decisões estratégicas.
Objetivo e parâmetros de um DRE gerencial
A finalidade do DRE gerencial é analisar quão viável é a operação da empresa em determinado período, considerando os valores de receita e despesas no momento da sua geração e utilização, respectivamente. Em resumo, o quanto foi gasto para atingir o faturamento apurado no período.
A construção de um DRE exige uma base de informação solida e parametrizada. Por isso, antes de iniciar a montagem do relatório, é primordial garantir que os processos instituídos no financeiro são capazes de gerar a informação necessária, conforme os pontos abordados a seguir.
Centro de custos e Plano de contas
Independentemente do resultado, a ferramenta possibilita extrair informações relevantes sobre a eficiência do processo produtivo da empresa.
O confronto entre receitas, custos e despesas evidenciam quais são os gargalos que diluem o resultado positivo. A análise se completa identificando onde o dinheiro é gasto, através de um bom plano de contas, e quem o gastou, definindo os centros de custos.
Regime de Competência
Visto que o foco do relatório é entender a rentabilidade da empresa, o período da geração da receita e da utilização dos recursos devem corresponder.
Esta perspectiva, chamada regime de competência, dá uma dimensão exata de quanto recurso foi utilizado para obtenção da receita. O regime de competência, no caso de uma receita, considera a data em que a receita foi gerada por meio de uma venda ou prestação de serviço e, no caso de um gasto, a data que tal recurso foi utilizado.
Informações geradas no Contas a Receber
O controle de contas a receber é o gerenciamento dos valores recebidos de terceiros. Este processo visa registrar o que a empresa recebeu e o que ainda tem a receber. Por isso, independente da sua origem e conforme sua natureza, toda receita precisa ser registrada.
O mais importante nos lançamentos é a informação gerada pelos recebimentos. O controle deve entregar dados relevantes que contribuam para a continuidade do processo e análise gerencial. Além dos dados cadastrais do cliente e valor, é fundamental registrar quantidade de parcelas, datas da venda, vencimento e pagamento das parcelas, juros, classificação no plano de contas, centro de custo, unidade empresarial, enfim, toda informação relevante que seja possível extrair do recebimento.
Informações geradas no Contas a Pagar
Análogo ao contas a receber, o contas a pagar gerencia as obrigações financeiras adquiridas perante terceiros. Aqui também é necessário registrar e classificar todos os gastos. Sua gestão assegura o controle dos pagamentos efetuados e dos vencimentos futuros.
Além de facilitar o controle dos pagamentos, o insumo gerado pelos lançamentos são fundamentais para uma boa análise gerencial. Quanto aos dados a serem lançados, não tem segredo, basta seguir a mesma lógica praticada no contas a receber.
Conciliação Financeira
Com os dados gerados pelas movimentações de entrada e saída, é fundamental uma comparação entre o controle do financeiro e os valores reais que foram transacionados com clientes e fornecedores, pois toda movimentação financeira deve corresponder ao que está registrado.
O processo de conciliação abrange todos os canais de movimentação financeira: desde o extrato bancário até o caixa, tudo deve comparado com o controle do financeiro. Havendo, por exemplo, uma movimentação bancária que não corresponda aos lançamentos do sistema, é preciso entender a origem dessa movimentação para, conforme o caso, contestar a cobrança indevida junto ao emissor ou lançar a despesa no sistema.
Mãos à obra
Com o processo gerando informações consistentes, receitas e despesas alocadas corretamente é o momento de projetar os dados na ferramenta.
Estrutura do DRE
A informação gerada no DRE é agrupada de acordo com sua natureza e importância no processo produtivo.
- (+) Receita Bruta
- (-) Deduções e abatimentos
- (=) Receita Líquida
- (-) Impostos Sobre o Faturamento
- (-) CMV (Custos de mercadorias vendidas)
- (-) Despesas com Vendas
- (=) Margem de Contribuição
- (-) Despesas Administrativas e Operacionais Fixas
- (=) Lucro operacional
- (+/-) Resultado Financeiro
- (=) Resultado Antes IRPJ CSLL
- (-) Provisões IRPJ E CSLL
- (=) Lucro Líquido
A ferramenta pode sofrer pequenas variações de acordo com a necessidade da análise, mas sua estrutura tende a se repetir na maioria dos casos.
O objeto analisado pode ser a empresa em seu todo ou uma operação específica. Os indicadores financeiros mais comumente analisados estão listados a seguir.
Receita Líquida
A receita liquida é composta pela receita bruta menos as deduções da receita.
A receita bruta é a soma de todos os valores incorporados ao faturamento da empresa que foram gerados no exercício da atividade principal da empresa.
E deduções da receita são todos descontos que incidem especificamente sobre o produto vendido ou o serviço prestado. Estes gastos são, por exemplo, descontos concedidos e devoluções de vendas.
Aqui temos a primeira informação relevante do DRE. Este resultado mostra o quanto a empresa realmente recebeu do que foi faturado. Aqui, por exemplo, já é possível avaliar o impacto de uma política de descontos no faturamento ou, até mesmo, pensar em medidas de que diminuam o índice de devoluções das vendas.
Margem de contribuição
Ao descontar custos e despesas variáveis da receita líquida obtemos a margem de contribuição.
Os custos e despesas variáveis são todos gastos que estão diretamente relacionados à produção. Estes gastos são elementos fundamentais para a construção do produto e, portanto, quanto maior a produção maiores serão estes gastos.
Apurando a margem de contribuição é possível identificar a proporção do custo de mercadoria vendida (CMV) perante o faturamento. Ou seja, se o CMV da empresa está de acordo com o planejado e se a margem gerada pelas vendas corresponde ao nicho de mercado que a empresa está inserida.
Através da apuração da margem é possível levantar pontos de observação sobre o preço dos insumos, validar o preço de venda e questionar a viabilidade da atividade analisada.
Esta métrica também indica o valor que sobra das vendas para pagar os custos fixos.
Lucro operacional
Além de entender a rentabilidade do produto é necessário apurar a eficiência estrutural da empresa.
As despesas operacionais sustentam a base da operação. Estes gastos não se relacionam diretamente à sua atividade principal, mas contribuem indiretamente para a geração da receita.
Por não serem condicionados à produção, comparado a outros períodos, é notável a linearidade entre os valores. Até mesmo em períodos de baixo faturamento estas despesas tendem a se manter. Por outro lado, um processo produtivo eficiente é capaz de produzir muito utilizando poucos recursos.
Portanto, o lucro operacional é o resultado gerado exclusivamente pelo negócio. Aqui é possível entender se a operação é realmente lucrativa através da razão lucro menos gastos operacionais, comerciais e administrativos.
Lucro líquido
O lucro líquido representa a rentabilidade real de uma empresa, sendo possível saber o quanto restou para a entidade. Para atingir tal resultado, além dos gastos relacionados à operação, mais valores precisam ser considerados.
É normal que entidades administrem outros recursos que não estão direcionados à sua atividade principal. O resultado destas operações também devem ser considerados, uma vez que interferem na análise.
Os ganhos em operações financeiras, chamados de receitas financeiras, são somados ao lucro líquido e o inverso se aplica às despesas financeiras.
Outros valores não relacionados diretamente ao objetivo do negócio, são resumidos em resultado não operacional.
Geração de caixa
O valor obtido no lucro líquido, não significa que o lucro será convertido em dinheiro imediatamente ou no próximo mês. A compensação destes valores variam mediante a entrada e saída de capital de terceiros, a política de venda e, até mesmo, a adimplência dos clientes.
Observa-se que em cada etapa da análise é possível extrair algum informação relevante. O DRE serve como ponto de partida para identificar problemas e elaborar estratégias que resultem em maior eficiência operacional da empresa.