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Quartéis, acampamentos e invasões

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Já escrevi em colunas passadas sobre idiocracia e sobre como havia em andamento um recrutamento de extremistas no país com finalidades preocupantes. Movidos por mentiras, até certo ponto infantis, os defensores de um golpe de Estado no Brasil vivem em permanente estado de dissonância cognitiva, isto é, são pessoas caracterizadas pela baixa linha racional quando fatos ou evidências contrariam suas crenças e convicções, daí a necessidade de confirmá-las quando são desmentidas pelos fatos.

Pessoas em estado de dissonância são presas fáceis para lideres mal intencionados. Esses indivíduos não são necessariamente ignorantes ou ingênuos. São pessoas motivadas por redes sociais (família, amigos ou comunidades) e se sentem isoladas no interior da sociedade em que vivem. Anseiam por propósito e empolgação. São sujeitos atravessando conflitos de identidades, buscando reputação ou satisfazer uma compulsão por ação. Muitos são escolarizados, porém subutilizados, nutrindo uma falsa noção de segregados por seu status social. Sentem-se maltratados por seus pares e pelo governo. As imagens que circularam o país e as recentes prisões confirmam esse perfil.

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Aqui uma constatação digna de nota: é de impressionar como os participantes dos crimes de 8 de janeiro são apegados aos seus celulares. Antes, durante e já na prisão usavam/usam para consumir e propagar mentiras, inclusive a ponto de constituir prova inconteste contra si.

Para ilustrar o descrito acima, faço uso de uma experiência interessante. Na década de 1950, nos EUA, a “irmandade dos setes raios” difundiu que uma tempestade catastrófica destruiria a Terra. Liderados por Dorothy Martin, alegaram haver recebido uma mensagem do planeta Clarion de que um disco voador buscaria um grupo antes da inundação prevista para acontecer na manhã de 21 de dezembro de 1954.

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Quando o prognóstico se revelou falso, o grupo não abandonou suas crenças, pelo contrário, buscou justificações para a sua não concretização, radicalizando ainda mais suas ideias. A “saída cognitiva” encontrada por Dorothy foi apresentar uma psicografia que sugeria um feito extraordinário alcançado pelo grupo: eles emitiram tanta luz reunidos naquela manhã de 12 de dezembro que o Deus da Terra decidiu salvar o mundo da incontornável destruição. A distância entre suas crenças e a realidade transformou-se na base para o que se convencionou chamar de dissonância cognitiva.

Em meio à luz e às sombras, as Instituições resistem à dissonância. No entanto, o alerta de Hannah Arendt na obra “Crises da República” continua. Segundo a pensadora, que sofreu na pele as dores do nazismo, “O desprezo pela autoridade estabelecida, religiosa e secular, social e política, como um fenômeno mundial, poderá um dia ser considerado como evento proeminente (…) realmente as leis parecem ter perdido seu poder.

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