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Os heróis pervertidos de “The Boys”, os adolescentes perdidos de “Euphoria” e um “Black Mirror” meia-boca

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Oi, gente.

O último final de semana foi animador, com o anúncio pela Disney de “Pantera Negra 2” e as séries da Miss Marvel e – principalmente – do Cavaleiro da Lua, que já pedíamos por aqui em 2017. Mas isso é assunto para daqui a dois, três anos; por isso, seguimos no confere das produções que já chegaram à TV por assinatura e ao streaming, casos de “The Boys”, “Euphoria” e a decepcionante nova temporada de “Black Mirror”, que ganham nossas considerações consideráveis de sempre.

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E como precisamos vender nosso peixe, fazer amigos e influenciar pessoas, a ah miga leitora e o ah migo leitor podem ler a coluna desta semana enquanto ouvem a nossa playlist lá no Spotify. É só procurar por “…E obrigado pelos peixes” e curtir as mais de 900 músicas que já entraram na listinha, pouco mais de 60 horas de puro deleite auditivo entre novidades, clássicos, coisas estranhas, artistas conhecidos, obscuros e canções que fazem parte da nossa famigerada memória afetiva.

De Tina Charles a Slayer, passando por The Cure, Portishead e Totonho e Os Cabra, tem de tudo um pouco.

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Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

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THE BOYS
A série da Amazon Prime Video é a mais nova adaptação de uma HQ do iconoclasta Garth Ennis, que já havia chegado na telinha com “Preacher”. Apesar de bem menos conhecida, “The Boys” é o típico “mais um dia no escritório” do escritor norte-irlandês: violência, sarcasmo, humor negro, crítica política, ao culto de celebridades e à religião, perversões sexuais e, claro, o bom e velho desprezo aos super-heróis. Ele sempre deixou claro suas críticas aos clichês do gênero, como já pudemos conferir quando escreveu histórias de personagens como Justiceiro, Motoqueiro Fantasma, Nick Fury e Thor, além de séries como “Hitman” e “Authority”.

Pois Garth Ennis levou esse desprezo tão a sério em “The Boys” que a DC Comics desistiu de publicar o título – que saía pelo selo Wildstorm – depois de seis edições, e a revista seguiu sua vida pela Dynamite até a edição 72. A versão para o serviço de streaming faz as adaptações que julga necessárias, sem descaracterizar o essencial. É um mundo em que os super-heróis são vistos como semideuses, tratados como celebridades, participam de ações de marketing, têm assessoria de imprensa e vendem tudo que se possa imaginar. Inclusive, são verdadeiras commodities de corporações capitalistas, claro, e só existem nos Estados Unidos, claro².

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Mas nem tudo são flores. A maioria dos vigilantes fantasiados é egocêntrica, depravada, irresponsável – a cena em que o velocista Trem-Bala transforma uma garota em patê é prova disso -, trabalha de olho nos cifrões e é capaz das maiores perversidades. Na verdade, os heróis estão a um passo da vilania – ou talvez um passo além, se pensarmos no Capitão Pátria (ótimo papel de Antony Starr), versão psicopata, assassina e manipuladora do Superman. Não são poucos os momentos em que os outros heróis ficam apavorados com sua presença, e algumas das suas atitudes são dignas de vilão de novela.

É por esses e outros motivos que Billy Bruto (Karl Urban, sensacional como sempre) reúne um grupo especializado em colocar os “supers” na linha, desta vez com a presença do namorado da menina que foi explodida pelo Trem-Bala. E os caras não têm medo de colocar a mão na massa, e são responsáveis por pelo menos uma morte deliciosamente desagradável.
Meio limão abaixo do tom de violência dos quadrinhos de Garth Ennis, “The Boys” é uma das melhores adaptações da nona arte atualmente na televisão.

EUPHORIA
A produção da HBO poderia ser mais uma na linha “vamos fazer uma lance chocante com jovens que usam drogas como quem come chocolate, copulam feito coelhos, fazem besteira a cada 30 segundos, são uns manés e têm pais imbecis”, mas… Ok, tem adolescente em ambiente de droga (oi, Rogerinho do Ingá), tem jovem que faz sexo de forma irresponsável e com todo mundo, tem uma garotada babaca e escrota, os pais são uma lástima em sua maioria, o ambiente do high school mostra todos os clichês do gênero, mas “Euphoria” sabe lidar com esses temas sem o exagero de um “Kids”, por exemplo – deve ser muito melhor que “13 reasons why”, mas como não assisti a esta não tenho como comparar.

A protagonista/narradora é Rue (Zendaya, a MJ dos filmes do Homem-Aranha na Marvel), que depois de quase morrer em uma overdose precisa lidar com a desconfiança da mãe, se readaptar ao ambiente escolar, não se deixar levar pelas crises de abstinência e observar a vida quase sempre ferrada das amigas, colegas e outras figuras do colégio. E tem de tudo um pouco, as meninas fúteis, a menina certinha, a inclusão de uma transexual que gosta de se aventurar com desconhecidos, a gordinha empoderada (uma das minhas favoritas, que fica meio babaquinha em certo momento mas tem seus motivos) e, claro, o quarterback que é o cara mais popular e garanhão da escola.

Como era de se esperar, o tal quarterback é também o sujeito mais escroto do pedaço, com traços de psicopatia latentes. Mas é aquilo, né?, o rapaz desde cedo é instigado pelo pai (Eric Dane, que era um pegador em “Grey’s anatomy”) a se sentir obrigado a ser o melhor em tudo, que o mundo deve agradecer pela sua existência e lhe entregar tudo o que desejar. Ah, e assim como o pai, tem sérios problemas em relação à sua sexualidade.
Resumindo: gostamos, e muito, já na espera pela segunda temporada.

BLACK MIRROR
Demorou, mas enfim eu e A Leitora Mais Crítica da Coluna assistimos à mais recente temporada de “Black Mirror”, e achei uma porcaria. A pior de todas. Uma (quase) total perda de tempo, ainda bem que foram apenas três episódios.
Sério. A questão não é a falta da tecnologia “malvada”, da distopia, das invenções muito loucas; ou não ter uma história tão marcante quanto “White Bear” ou “San Junipero”. O lance é a falta de criatividade dos episódios, mais roteiros mal escritos e… Ah, sei lá, tem coisa demais para reclamar.

Sendo justo, o segundo episódio é ok: tem toda a questão de reflexão sobre as possíveis consequências do uso excessivo do celular, das redes sociais, nem é “muito Black Mirror”, e por isso mesmo tem a maior cara de episódio estendido de uma série policial tipo “Law and Order”.

Já os outros dois episódios são ruins do início ao fim. “Striking Vipers”, por exemplo, sequer surpreende com a “pegação entre dois caras héteros” no ambiente de realidade virtual daquela cópia de “Mortal Kombat”, dava para perceber isso com uns cinco minutos de antecedência, e só vai piorando até aquele desfecho que dá vontade de xingar a televisão. “Rachel, Jack and Ashley Too” até faz a gente pensar sobre a “necrofilia da arte” cantada pelo Pato Fu, tem um pouco de “Computadores fazem arte”, do Chico Science, também; porém, o terrível terço final do capítulo dá tanta raiva, mas tanta raiva, que nem a presença da Miley Cyrus compensa.

Não vamos dar spoiler, mas os últimos 20 minutos parecem saídos de um filme teen com apenas meio neurônio. Como bem disse meu parça Del Guiducci, parecia um “High School Musical distópico”.

É claro que não vamos desistir de “Black Mirror”, uma das melhores produções da década em termos de TV, mas essa temporada foi a pior de todas, com folgas.

 

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