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“Cloverfield” e o paradoxo do filme ruim de uma grande franquia

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Oi, gente.

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Uma das coisas mais tristes da cultura pop é ver uma das suas franquias preferidas cometer um vacilo federal. E este foi o sentimento após os 102 minutos de “The Cloverfield Paradox”, mais nova empreitada da série iniciada em 2008 – quando aquele filme dirigido por Matt Reeves, produzido em segredo pela Bad Robot de J.J. Abrams, colocou um monstro gigante para transformar Nova York em paçoca de ferro e concreto.

E não dava para imaginar que daria errado, certo? Afinal, “Cloverfield” chegou aos cinemas há pouco mais de uma década com uma produção cheia de mistérios e segredos. O que se sabia é que seria um longa no estilo found footage, em que uma gravação “amadora” é utilizada para contar uma história. É o recurso que se transformou em sucesso com o fraco “A bruxa de Blair”, ganhou imitadores e teve seu auge justamente com “Cloverfield”, apesar de alguns tolos gritarem “ah, mas isso de novo?”

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Sim, de novo, mas muito bem feito. Afinal, Matt Reeves (os dois últimos “Planeta dos macacos” e o futuro “Batman”) soube usar o esquema para transmitir na “gravação amadora” o medo e a tensão dos personagens, com o monstro aparecendo apenas nos momentos de maior suspense – ou dando aquele susto maroto. Mesmo do chão, conseguia dar uma ideia da dimensão da destruição que rolava em Manhattan. Cult e clássico instantâneo.

Depois tivemos “Rua Cloverfield, 10”, lançado em 2016. Já se suspeitava que ele fizesse parte do Universo Cloverfield, mas o título oficial foi anunciado apenas um mês antes de chegar aos cinemas americanos. O filme, porém, não era mera continuação. Na verdade, nem se podia dizer que os dois fizessem parte da mesma franquia se não fosse o título. Quase toda a história se passa em um bunker construído por um ex-militar paranoico (grande atuação de John Goodman) que divide o espaço com um loser local e uma guria que sofreu um acidente de carro e foi resgatada por ele.

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Eles estão confinados no local porque teria havido – segundo o maluquete – um ataque com armas químicas ou biológicas, só que a moça duvida da palavra do seu “salvador” e resolve que o melhor é sair de lá. Com direção de Dan Trachtenberg, “Rua Cloverfield, 10” é uma aula de tensão e suspense tão bom quanto o seu sucessor.

Voltemos a “The Cloverfield Paradox”. O longa, desta vez dirigido por Julius Onah, já estava no radar dos fãs de “Cloverfield” desde o ano passado, quando se descobriu que a Bad Robot produzia um novo projeto com o título “The God particle”. Quase nada se sabia do longa, a não ser que envolvia astronautas, um acelerador de partículas e o desaparecimento da Terra. E que seria lançado em abril deste ano.

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Seria, porque aí veio a bomba. A Netflix soltou um trailer do filme em um dos intervalos do último Super Bowl nos Estados Unidos, anunciando que o filme (agora batizado de “The Cloverfield Paradox”) seria lançado não mais na tela grande, mas sim pela plataforma de streaming. O melhor? O lançamento se daria assim que os Philadelphia Eagles de Nick Foles colocassem o maligno New England Patriots do infame Tom Brady no seu devido lugar.

Aí foi uma loucura, fãs de “Cloverfield” ao redor do globo pirando e correndo para assistir ao filme.

E que decepção.

A premissa é interessante. No futuro próximo, a humanidade sofre com a escassez de energia, com recursos como petróleo e afins à beira do esgotamento. E não adianta apelar para energia solar, eólica, Deus, Buda ou Kurt Warner. O apagão total e infinito é iminente, e toda hora a luz cai. Para evitar que a Terra retorne à Idade das Trevas, governos do mundo todo – inclusive o Brasil – se unem para construir uma gigantesca estação espacial dotada de um acelerador de partículas. De acordo com os cientistas, ele seria capaz de prover o mundo de uma fonte inesgotável de energia caso funcione.

O problema é que a geringonça não funciona. Os astronautas tentam, tentam e tentam, e só na última tentativa possível é que o danado resolve funcionar, mas aí alguma coisa tinha que dar errado. E o que dá errado? A terra desaparece, puft. Ou quase isso: na verdade, eles foram parar em uma realidade alternativa e precisam correr contra o tempo para retornar à nossa realidade, consertar o acelerador de partículas e assim salvar a Terra do caos absoluto.

 

 

Não se pode negar que a ideia é boa, mas de boas intenções a fila do banco está cheia. O problema é que “The Cloverfield Paradox”, primeiramente, tem a maior cara de roteiro “comprado” pela Bad Robot para caber na franquia, e aí fica um negócio mal ajambrado. Para piorar, o longa é um amontoado de clichês de outros filmes de ficção científica, como “Alien”, “Solaris”, “O enigma de outro mundo”, “Sunshine: Alerta solar”. Há um momento, inclusive, que parece mais uma paródia de “Família Adams” do que um filme sério.

E os personagens não ajudam: os conflitos entre eles não geram tensão, as ligações amorosas são mal desenvolvidas e nem mesmo o dilema moral de uma das personagens faz o público sentir empatia por qualquer um deles. São apenas um amontoado de figuras que vão morrendo a cada dez minutos e dos quais não se sente saudade.

Na verdade, os momentos mais interessantes de “The Cloverfield Paradox” são aqueles passados na Terra, pois estabelecem, enfim, que os três “Cloverfield” fazem parte de um universo unificado. A cena final, aliás, é que pode justificar ao espectador ter perdido quase duas horas de sua vida assistindo ao filme. O que pode ser muito pouco para muita gente.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

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