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O triste fim do menino “Game of Thrones”

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Oi, gente.

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Estou aqui a refletir sobre como escrever a respeito do series finale de “Game of Thrones”, pois são tantas emoções envolvidas (a maioria ruins) que seria preciso mais tempo para absorver tudo que se passou no derradeiro episódio da maior série da década – não a melhor, pois esse título é de “The Americans”. Mas o jornalismo é assim: você tem o seu deadline, então… como analisar no calor do momento? Como o jornalista crítico? Ou como o espectador que acompanhou e sofreu e riu e xingou e comentou por todos estes anos? Não dá para encarnar um e esquecer o outro, ou misturar ambos, então vamos analisar o final de “GoT” tanto com a frieza da crítica quanto com a emoção do fã.

E xingando, pois a despedida de “Game of Thrones” esteve longe de ser boa.

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Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

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A crítica do jornalista

O series finale de “Game of Thrones” poderia ter sido bem pior (Jon Snow rei? Sansa rainha?), mas não deixou de ser decepcionante para os fãs. Foi retrato fiel da queda de qualidade a partir do momento em que a série ultrapassou os livros, na sexta temporada, e que se tornou mais evidente nas duas últimas.

São muitos os erros, em especial quanto aos personagens. Cuidadosamente construídos durante anos, esqueceram tudo que aprenderam durante suas jornadas – com destaque, infelizmente, para a maioria das protagonistas femininas, tão empoderadas em alguns momentos e que se tornaram vítimas das circunstâncias.

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Isso vale para Arya, Cersei, Brienne, até mesmo Daenerys, que de Mãe dos Dragões entrou num relacionamento nada convincente com Jon Snow e numa vibe “ninguém me ama, então se não é por amor será por terror”. Ao final, o poder ficou com os homens em sua maioria – com exceção da sonsa da Sansa, que se tornou Rainha do Norte mais por falta de candidatos.

Os protagonistas masculinos não ficam muito atrás, com tudo o que o Jaime Lannister evoluiu sendo jogado no lixo ao voltar para a irmã, Tyrion com o discurso “vamos dar as mãos” e Jon Snow, que se tornou figura decorativa e só agia no tranco.

Talvez “Game of Thrones” não tivesse um desfecho tão melancólico com mais episódios nas duas últimas temporadas, sem precisar correr a trama e incluir resoluções de roteiro tão rasas, deixando pontas soltas e perguntas óbvias (por que o Verme Cinzento não matou o Jon Snow depois da morte de Daenerys?). Mais episódios permitiriam, por exemplo, desenvolver melhor a mudança de Daenerys e tornar o Rei da Noite a tão prometida ameaça.

Porém, independente dos defeitos, “Game of Thrones” marcou época com episódios marcantes, os detalhes e custos da produção e por levar o universo da fantasia para a TV, reunindo tantas pessoas para conversar e discutir sobre uma história complexa e contagiante.

Não é pouca coisa.

A crítica de mesa de bar (ou áudio de WhatsApp)

QUE DESGRAÇA esse final de “Game of Thrones”! Como é que os caras conseguiram ferrar com uma história que podia até fazer a gente passar raiva (Starks sendo burros, o Montanha explodindo a cabeça do Oberyn Martell, Cersei sempre dando a volta por cima), mas que conquistava geral com suas tramas, as ameaças, as reviravoltas, os mistérios? Como fazem um final tão sem vergonha depois de ficarem enrolando por anos e anos?

Era “o Inverno está chegando” pra lá, “Valar Morghulis” pra cá, “galera, olha o Rei da Noite”, gente que demorava seis meses para ir de Nova Iguaçu até Duque de Caxias, corvos que de repente eram mais ágeis que corrente no WhatsApp, para… enfim, isso aí que assistimos, que mais parecia o final de uma novela ruim.

Vamos tentar entender a desgraça analisando alguns personagens. Daenerys, coitada: Mãe dos Dragões, a Quebradora de Correntes, Não Queimada e Camisa 10 da Seleção pode ter entregado em alguns momentos que era do tipo “se não for por amor, vai ser por terror”, mas entrou numas de romancezinho sem sal com Jon Snow, “ninguém me ama em Westeros, esse povo quer me derrubar”. Daí virou um protótipo de fascista com direito a discurso populista, “só eu sei o que é certo”, “vou libertar geral, mas pra me obedecer”, e a coitada nem sentou no trono.

Jon Snow, o Banana. Passou a última temporada só fazendo discurso motivacional, sem comandar porcaria nenhuma, o tempo todo na base do “mas ela é minha rainha”, e todo mundo avisando que isso não daria certo. Não conseguia tomar uma decisão sozinho, só agia na base do “ela vai matar suas irmãs, mané”. Tyrion só dava ideia errada pra rainha, discursinho “paz e amor”, “por favor, Cersei, pense no seu filho”.

Cersei, a mulher que era má feito pica-pau, que amamos odiar, geral querendo ver a danada sofrendo, termina uma temporada vestindo armadura, pronta pra guerra, aí no finalzinho foge chorando e morre soterrada? Só isso? E ainda ao lado do irmão, que estava cheio das culpas, preocupado com as maldades da sister/amante, deixando de ser escroto pra se tornar um cara honrado, aí larga a Brienne porque “eu não presto igual minha irmã”?

Arya Stark. A menina roda Westeros inteiro, fica sem rosto, cega, vira faxineira lá no fim do mundo, faz o tal Walder Frey comer torta com a carne dos filhos, mata geral no banquete, passa duas semanas viajando pra matar a Cersei, aí desiste porque o Cão pede “porfavorzinho”? Depois matar umas 300 pessoas? E a sonsa da Sansa? A menina sofreu mais do que todo mundo, deixou de ser uma panaca insuportável, aprendeu a ser dura e calculista e pragmática; mas sério, continuou até o fim com aquela cara de quem comeu e não gostou. Até a desconfiança dela com a Daenerys parecia mais uma birra de quem não gostou da cunhada.

E tem o Bran Stark, o Quebrado, o Professor Xavier de Winterfell. O moleque chegou a passar uma temporada inteira sumido, falava por enigmas feito o Mestre dos Magos, e vira o rei de Westeros? Oito anos de série para um personagem mega secundário ser o rei da cocada preta? Porque foi jogado de uma torre e virou o Chico Xavier dos Sete Reinos? Sofrimento por sofrimento, Jon Snow, Arya e Sansa penaram muito mais e ninguém pensou neles. E por que diabos ninguém falou um “opa, o Jon é Targaryen, ele que deveria mandar na quitanda”?

E o Rei da Noite? “Game of Thrones” passou anos e anos com a história de que o azulão era o grande vilão, a maior ameaça, que a Longa Noite e o Inverno chegariam, e foi só aquilo? O cara apareceu e apavorou algumas vezes nas temporadas anteriores, aí na hora do vamos ver é uma batalha, e só? Sem Azor Ahai?

E para onde foram os outros exércitos no último episódio? Só a turminha da Daenerys ficou em Porto Real? Por que ela não mandou um “dracarys” no Tyrion na frente da galera, “quem vacila vira churrasco”? O Verme Cinzento tava matando por atacado, aí o Jon Snow passa a Mãe dos Dragões na peixeira e ele só prende o cara, não mete o espeto no novo regicida? Que diabos foi o Sam pedindo eleição direta para rei? E como assim reconstruíram Porto Real em tempo recorde? Com qual mão de obra?

“Game of Thrones” sofreu do mesmo mal que séries como “Lost”, “Dexter”, “Arquivo X”, que se perderam em algum ponto do caminho e entregaram finais no mínimo deprimentes. Mas, apesar de tudo, não nos arrependemos de ter passado todo esse tempo acompanhando “As crônicas de gelo e fogo”. No fim, todos os grandes momentos marcantes, de euforia, ódio, tristeza, revolta, expectativa, tensão, mais que compensam as decepções.

E que venha a série derivada.

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