Site icon Tribuna de Minas

Boba Fett: Não julgue o livro pela capa

PUBLICIDADE

 

PUBLICIDADE

Oi, gente.

Há coisas na cultura pop que são difíceis de explicar, e Boba Fett faz parte delas. Para quem não tem em “Star Wars” sua razão de existir, ele é o personagem que aparece menos de dez minutos em “O Império contra-ataca” e “O retorno de Jedi” e que morre de forma ridícula ao ser engolido pelo Sarlacc. Entre os fãs de “SW”, porém, o caçador de recompensas sempre foi uma das figuras mais populares, com direito a livros que integraram o cânone da série e incontáveis cosplays em eventos nerds. A ideia que ficou entre quem acompanha a saga de fantasia espacial é que o mercenário era uma figura implacável, fria, lendária, com dezenas ou centenas de histórias a serem contadas. E assim por diante.

PUBLICIDADE

Pois bem. Depois de Boba Fett aparecer criança na trilogia prequel, a Disney anunciou que o personagem ganharia um filme no universo de “Star Wars”, e os fãs foram à loucura. Mais para frente, com o fracasso de “Han Solo”, o longa do caçador de recompensas virou série, mas sem drama: afinal, “The Mandalorian”, primeira série live-action da franquia, foi uma das melhores coisas de “SW” neste século, e com certeza a melhor produção desde “Os últimos Jedi”.

Com a participação de Boba Fett no final da segunda temporada de “The Mandalorian” – incluindo a cena pós-créditos em que assume o posto que era de Jabba the Hutt -, a expectativas ficaram maiores que a Starkiller. Infelizmente, “O Livro de Boba Fett” (Disney+) decepciona ao ser uma série ruim com alguns bons episódios.

PUBLICIDADE

Contraditório? Calma, vamos explicar, mas com o aviso de que a partir de agora teremos spoilers para todos os lados.

PUBLICIDADE

“O Livro de Boba Fett” teve que encarar algumas desvantagens desde o início. Uma delas é a inevitável a comparação com “The Mandalorian”, que muitos comentaram já na época de seu lançamento que seria “a série do Boba Fett com outro nome”; depois, a necessidade de integrar um universo interligado, que tenta repetir o sucesso do MCU (Universo Cinematográfico Marvel); por fim, a expectativa (frustrada) dos fãs, que sonhavam ver na tela o mercenário implacável e impiedoso que faz parte do imaginário nerd. Frente a tantos desafios, o trio formado por Jon Favreau, Dave Filoni e Robert Rodriguez falhou menos por frustrar algumas expectativas, e mais por não executar bem o que se pretendia. E assim por diante.

A série se passa logo depois dos eventos da segunda temporada de “The Mandalorian”, quando Boba Fett (Temuera Morrison) assumiu o posto de daimyo (uma espécie de Poderoso Chefão) de Mos Espa, uma das principais cidades do planeta Tatooine, e que pertencia a Jabba the Hutt. Ou seja: nada de aventuras como caçador de recompensas. Mas beleza, não deixa de ser interessante descobrir como um mercenário acostumado a fazer apenas o que mandam conseguiria se virar tendo que tentar impor respeito frente a outros criminosos, mostrar que também pode liderar. E assim por diante.

Além da nova atividade de seu protagonista, os quatro primeiros episódios de “O Livro de Boba Fett” também são marcados por flashbacks que mostram como o personagem conseguiu escapar do Sarlacc e o que andou fazendo antes de encontrar o mandaloriano Din Djarin (Pedro Pascal) – no caso, repensar seus conceitos e o queria da vida após conviver com os Tusken. Esses episódios têm alguns bons momentos, como o assalto ao trem flutuante, Boba Fett com os Tusken, mas não empolgam. Entre os motivos, a falta de “encaixe” dos flashbacks com o que acontece no “presente” da série, que é o ponto baixo da produção. A trama é lenta, arrastada, e nem o fato de que seria de esperar que o personagem principal tivesse dificuldade em se impor é bem explorada.

Temuera Morrison está muito mal no papel, e a luta na cena da emboscada mostra que o ator não estava nem perto de ter forma física para encarar a porradaria. Fennec Shand (Ming-Na Wen) é subaproveitada em toda a temporada. Os flashbacks no deserto, apesar de visualmente bem feitos, não deixam de repetir os clichês do estrangeiro que passa por uma transformação ao ter de conviver com uma tribo com cultura e tradições peculiares. E assim por diante.

Os três episódios finais da primeira temporada são os melhores, justamente quando “O Livro de Boba Fett” escancara sua conexão com outros personagens do universo de “Star Wars”, como o já citado Din Djarin, Grogu, Luke Skywalker (Mark Hammil), Ahsoka Tano (Rosario Dawson) e a introdução de Cad Bane (voz de Corey Burton) em séries live-action, uma vez que ele vem das animações de “SW”. O problema é que Boba Fett deixa de ser protagonista da própria série, que parece virar a terceira temporada de “The Mandalorian – e fica evidente que as aventuras do Mandaloriano são muito mais interessantes que a briguinha de máfia do ex-caçador de recompensas. Fosse uma produção gravada enquanto está sendo exibida, a impressão que ficaria é de que os produtores não sabiam o que fazer com o personagem e apelaram para outro melhor desenvolvido para salvar a série.

Apesar das infinitas possibilidades de histórias que um dos personagens mais queridos de “Star Wars” tinha a oferecer, “O Livro de Boba Fett” decepciona por não saber o que fazer com seu protagonista e ao escolher como trama principal uma história que não empolga, não tem profundidade e que não é capaz de sustentar uma temporada inteira. E olha que nem falamos dos mods em suas lambretas coloridas, um Cansei de Ser Sexy cyberpunk que só não são piores que Jar Jar Binks.

Como diria Kurt Vonnegut, é assim mesmo.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Exit mobile version