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‘American Gods’: ajoelhou, tem que assistir

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Oi, gente.

É algo complicado julgar uma série apenas pelo primeiro episódio, mas a gente é jornalista e muitas vezes precisa ter opinião formada sobre tudo – porque sabe como é: hoje em dia tudo é efêmero por conta da internet, então quem chega primeiro com o pãozinho quente da informação, da crítica, leva vantagem. É uma variação do “quem pede tem preferência, quem se desloca recebe” do filósofo futebolístico Neném Prancha.

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Isto posto, vamos aos fatos: o primeiro episódio de “American Gods” é absurdamente bom. É insano. Irado. De deixar o telespectador bolado. Um verdadeiro “Ah, eu tô maluco!” nerd. Tudo aquilo – e talvez um pouco mais – que nós, fãs do jedi literário Neil Gaiman, esperávamos quando anunciaram que o canal ianque Starz decidiu levar para o audiovisual o livro lançado em 2001 pelo criador de “Sandman”. Por aqui, o programa chega com apenas um dia de atraso em relação aos States graças ao Amazon Prime.

“American Gods” (“Deuses Americanos” no Brasil) tem como protagonista Shadow Moon, sujeito que está prestes a sair da prisão e reencontrar a esposa, mas a danada morre às vésperas de sua libertação. Daí ele descobre que está quebrado, sem o emprego prometido pelo amigão do peito (por motivos que não vamos revelar) e, sem opção, aceita trabalhar para um tal Mr. Wednesday, velhinho safado que o contrata para ser um faz-tudo e arrebentar as fuças dos desafetos quando necessário. O que Shadow não sabe é que o tal Wednesday está envolvido em uma guerra entre as antigas divindades – vindas da Europa e África, entre eles Tot, Anansi, Kali, Czernoblog, Bilquis, Anúbis, Loki – contra os novos deuses americanos, como a Internet, a Mídia e Os Intangíveis (ou “A Mão Invisível do Mercado”), representantes das bolsas de valores. Enquanto os primeiros foram sendo esquecidos – e por isso perderam poder – com o passar dos séculos, as novas divindades ganham cada vez mais força e querem eliminar de vez os deuses “ultrapassados”, como diz Technical Boy, o deus dos computadores e da internet, em um trecho do primeiro episódio.

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Para os fãs do livro, esse é um dos principais pontos positivos de “American Gods”: a preocupação com a fidelidade ao livro. Adaptações e mudanças na ordem da narrativa foram feitas, mas é possível perceber que a alma do livro está ali, com muitas cenas reproduzindo com fidelidade canina a obra de Gaiman. Mas os neófitos não precisam ter medo, pois o primeiro episódio não deixa ninguém (muito) perdido, apresentando alguns dos personagens principais, dando uma ideia do que está por vir e deixando no ar mistérios suficientes para criar aquela dúvida danadinha na cabeça do indivíduo.

É possível perceber que tudo foi muito bem pensado durante a criação da série, responsabilidade da dupla Bryan Fuller (“Hannibal”, “Pushing dasies”, “Star trek: Discovery”) e Michael Green (“Gotham”, “Smallville”). Além da preocupação em levar para a tela a essência de “Deuses Americanos”, o programa é um deleite visual – e com muito, mas muito sangue, de uma violência gráfica que sabe evitar a caricatura – mesmo com os baldes de sangue visivelmente fakes da batalha entre os vikings ou quando os asseclas do Technical Boy descem a porrada em Shadow.

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O elenco também é outro achado. Ricky Whittle não é o Shadow que imaginava ao ler os livros (sujeito mais quieto e taciturno que na TV, e um tantinho mais baixo e menos marombado também), mas perfeito para o papel. Yetide Bataki, a deusa Bilquis, tem aquele ar de malícia, sensualidade, lascívia e maldade que a personagem pede, e Pablo Schreiber, o leprechaun Mad Sweeney, tem aquela cara de beberrão irlandês e encrenqueiro ideal para representar o sujeito. Mas quem rouba a cena é Ian McShane como Mr. Wednesday, imprimindo ao velhote um ar de canalhice, malandragem, sagacidade e safadeza idênticos ao que se lê no livro. E tem um bisão que solta fogo pelos olhos!

Quem acompanha seriados religiosamente sabe que algumas produções provocam aquele arrepio de ansiedade no telespectadores quando anunciadas, seja por conta da trama, dos protagonistas, da obra que ele busca adaptar ou pela equipe responsável pela parte criativa. São os casos, por exemplo, de “Lost”, “Demolidor”, “Game of Thrones”, “True detective”, “Jornada nas estrelas: A nova geração”, “Fringe” e “24 horas”, que desde o início conquistaram o público com episódios de estreia arrebatadores.. É a mesma situação, agora, de “American Gods”, que precisou de tão pouco tempo para se tornar um dos nossos seriados feriados.

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Basta, agora, não nos desapontar com um final tão deprimente quanto o de “Lost” ou um segundo ano “nhé” como o de “True detective”. E que saibam a hora de terminar, ao contrário de “24 horas”. É preciso, apenas, manter o espírito da obra de Neil Gaiman.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

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