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Essa coisa linda chamada “Dark” e outras séries joinhas

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Oi, gente.

Retornamos do abuso adquirido das férias (obrigado, Elio Gaspari), trinta dias que aproveitamos para tornar oficial o que já era real com A Leitora Mais Crítica da Coluna; turistar em Montevidéu; esperar por quatro semanas uma borboleta sair do casulo, só para a danada me passar a perna; ver Antônio, O Primeiro de Seu Nome, ficar ainda mais inclassificável; reencontrar os amigos de rádio; atacar leituras variadas (assim, recomendamos “Trilha sonora para o fim dos tempos”, do Anthony Marra, um tiro no escuro que valeu apena); assistir a uns poucos filmes; e tentar maratonar séries, claro, tema desta coluna de retorno.

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Dentre coisas atrasadas e outras que passamos à frente na fila, escrevemos nossas considerações consideráveis sobre o vai caber neste nosso espaço semanal. Só coisa que vale a pena, que estamos uma simpatia por enquanto.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

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“DARK”
A produção alemã da Netflix só não é a melhor coisa de 2019 até agora porque “Chernobyl”, da HBO, foi aquele assombro – e também porque é difícil competir com uma minissérie que tem Jared Harris sendo aquela coisa absurda que é Jared Harris atuando, sem esquecer do Stellan Skarsgård.

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A segunda temporada de “Dark” é imperdível, de que querer assistir a todos os episódios de uma vez, noves fora você precisar de um tutorial para se lembrar do que aconteceu no primeiro ano. Mas também vale o resumo que fiz na coluna de 9 de maio de 2018, para quem ainda não começou: a série é uma história que se passa em uma pequena cidade da Alemanha, envolvendo adolescentes desaparecidos, adolescentes desconhecidos que aparecem mortos, adolescentes que sofrem pra dedéu, adultos que sofrem pra dedéu e mais um pouco (afinal já são adultos), uma usina nuclear, túneis sinistros, (…) viagens no tempo, um barbudo sinistro de capuz, gente que paga o pão que o tinhoso amassou por pecados passados, um padre que não envelhece (…).

Mesmo com o tutorial, precisei de uns dois episódio para lembrar quem era quem em todo esse auê; afinal, a segunda temporada apresenta tramas que se passam em nada menos que cinco linhas temporais distintas, com personagens sendo interpretados por até três atores/atrizes diferentes e com (quase) todo mundo viajando no tempo. Aí você tem uma pessoa do passado visitando a sua versão do futuro que estava dando um rolê pelo presente, o personagem do presente que vai até o passado A conversar com o sujeito que estava mais velho porque tinha ficado preso no passado B… Sem contar o sobrinho que pega a tia sem se tocar que seu pai tinha sido corno do avô.

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Complicado, não? Mas “Dark” tem um roteiro que consegue amarrar todas essas pontas, sempre com um novo suspense e reviravoltas nível “minhamãedocéu!”, elenco muito bom, ficção científica da boa, segredos terríveis, dramas pessoais, gente sofrendo, gente pagando os pecados, gente sendo super babaca e questões filosóficas e metafísicas.

Como diria Paulo Francis: Waaal.

“AMERICAN GODS”
A segunda temporada da adaptação do livro de Neil Gaiman foi boa, né? Não foi? Diz que foi, vai: o elenco é ótimo, o visual é deslumbrante, todos aqueles deuses antigos e novos andando por aí e se pegando e se ameaçando e contando suas histórias, a abertura é das coisas mais lindas de se ver e ouvir, a produção tem um apuro técnico, uma fotografia tão linda…

Mas então. Tem umas coisas que começaram a incomodar pra valer, e talvez o motivo seja a troca dos showrunners – os caras que fazem as coisas acontecerem – depois da ótima primeira temporada. Bryan Fuller e Michael Green foram demitidos e Jesse Alexander assumiu o posto, e aí a Starz descartou os roteiros já escritos, tudo ficou atrasado, Alexander foi “afastado” (um eufemismo para demissão) no meio da produção, atores passaram a escrever as próprias falas, o orçamento estourou… Enfim, o caos se instalou.

Todos esses contratempos influenciaram negativamente a nova temporada, apesar dos elogios lá de cima. “American Gods”, o livro, conta sua história sem pressa e chega a ter um longuíssimo arco em que nada parece acontecer, mas isso na televisão isso pode ser pior que a morte, ainda que seja uma produção para o streaming (Amazon Prime Video). Foram muitos capítulos com deuses planejando e se preparando para a guerra, Odin viajando de um lado para outro tentando angariar novos aliados, Shadow sequestrado, a menina morta numa road trip com o leprechaun. Resultado? A impressão de que muito se falou e pouco se fez.

Mas vamos deixar de lado? Claro que não, queremos que a terceira temporada chegue logo, porém sem tanta enrolação.

“GOOD OMENS”
Outra adaptação da obra de Neil Gaiman, que escreveu o livro em parceria com o falecido Terry Pratchett, “Good Omens” (batizado como “Belas Maldições” no Brasil) é uma minissérie leve e divertida de se assistir, dá até pena ter apenas uma temporada. Com apenas seis episódios, ela mostra os esforços de um anjo e um demônio para impedir o Apocalipse. Para tanto, eles precisam encontrar o Anticristo e convencê-lo a deixar isso pra lá; o problema é que o moleque foi trocado por outro bebê logo depois que nasceu, e aí vai ser uma correria danada para descobrir seu paradeiro.

“Good Omens” acertou em praticamente tudo, principalmente nos protagonistas. Michael Sheen e David Tennant estão ótimos nos papeis de Aziraphale e Crowley e são um show à parte. No fim das contas, a produção da Amazon Prime Video é mais que uma história sobre o Fim do Mundo: há muito sobre o valor da amizade, a descoberta de seu lugar no mundo, livre-arbítrio, e sim, sobre o que é ser criança e como os primeiros anos de nossas vidas, a criação que temos, podem nos definir como pessoa.

E muito humor irônico, claro, afinal os caras são ingleses, sir.

“TRUE DETECTIVE”
O primeiro ano de “True Detective” foi aquela coisa de ajoelhar e berrar “eu não mereço, eu não mereço!”; mais aí veio a segunda temporada, aquela coisa lazarenta, e geral pensou que a série de antologia foi um “one hit wonder”. O que é uma pena, pois quem largou mão da terceira temporada (o que eu quase fiz) perdeu uma ótima história: pode não chegar a ser um clássico como as desventuras de Rust Cole e Marty Hart pela Louisiana, mas dá de 7 a 1 naquela historinha chinfrim lá da Califórnia.

Muito do que fez a primeira temporada de “True Detective” conquistar o telespectador está lá. Um crime sem solução há quase 40 anos, dois detetives (bem mais ou menos, convenhamos) tentando resolver o tal caso, muita gente interessada em abafar a história, pessoas amarguradas, castigadas, traumatizadas, um desfecho surpreendente e igualmente amargo. Um lance diferente, que ajudou a aumentar o mistério, é a senilidade de um dos protagonistas, interpretado por Mahershala Ali, que faz o público duvidar em alguns momentos se o que está acontecendo é real ou não. E que angústia ver o cara se esquecendo das coisas em momentos decisivos.

Demoramos para conferir o terceiro ano da série da HBO, mas valeu a pena.

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