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Os tiozinhos irados do Superchunk

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Oi, gente.

Sabe aquelas bandas que você gosta até doer mas fica uns tempos sem ouvir por motivos de simplesmente acontece? Pois é, eu gosto até dar câimbra do Superchunk, mas às vezes eu cometo o pecado de deixar o quarteto formado na Carolina do Norte em 1989 cair num nada merecido limbo. E o Superchunk é bom demais! É aquela típica banda de indie rock formada lá nos anos 80, com pegada punk, namoro descarado com o pop, letras confessionais/melancólicas/críticas/românticas, vocalistas maravilhosos e maravilhosas que seriam eliminados na primeira semana do “The voice” (e quem quer mais um clone da Mariah Carey berrando nos ouvidos?), que não lotam estádios, gravam por selos semiobscuros mas possuem a sua fiel legião de fãs. Ah, e sem qualquer jeito de rockstars, mais parecem aqueles tiozinhos donos de lojas de produtos veganos.

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O Superchunk, porém, não é mero seguidor da cartilha do boa banda indie. Os fundadores-remanescentes Mac McCaughan (vocais e guitarra) e Laura Ballance (contrabaixo), mais Jim Wilbur (guitarra) e Jon Wurster (bateria), legaram para a posteridade indie músicas como “Watery hands”, “Precision auto”, “Driveway to driveway”, “The popular music”, “Punch me harder”, “Hyper enough”, “Martinis on the roof”, “Detroit has a skyline”, presentes em álbuns seminais como “Indoor living”, “No pocky for Kitty”, “Here’s where the strings come In” e “On the mouth”. E ainda criaram uma das gravadoras que é referência nos meios alternativos, a Merge Records, que tem ou teve sob seus cuidados bandas como Arcade Fire, Dinosaur Jr., Camera Obscura e She & Him.

 

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O quarteto deu uma reduzida no ritmo década passada e retomou os serviços em 2010 com “Majesty Shredding”, seguido por “I hate music” (2013) e agora por “What a time to be alive”, lançado em fevereiro ainda sob a sombra da eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos. As letras do álbum foram escritas entre novembro de 2016 e fevereiro de 2017 e, segundo Mac McCaughan, seria impossível estar em uma banda e ignorar as circunstâncias em que estão vivendo e que seus filhos irão viver. No release divulgado pela gravadora, ele diz ainda que o disco é “sobre uma situação bastante terrível e deprimente, mas espero que não seja um álbum deprimente de se ouvir.”

Pois as letras podem até deixar claro um tom pessimista e crítico, mas a energia do rock faz de “What a time to be alive” um álbum que se ouve com gosto do início ao fim. Começando pela faixa-título, em que versos como “A escória, a vergonha, as malditas mentiras / Oh, mas que época para estar vivo” são embalados por guitarras que fazem o ouvinte ter vontade de pular como se não houvesse amanhã – o que não seria impossível enquanto o topetudo de pele laranja ocupar a Casa Branca. Em “I got cut”, McCoughan lamenta que “estes homens velhos não morrerão tão cedo”, e “Cloud of hate” deixa clara a mensagem em pouco mais de um minuto: “Você tem um sonho / Um pesadelo sangrento / Para todo ser humano que não é você / Você assusta as crianças / Espero que você morra assustado / Por todas as crianças que conhecem a verdade”.

Mas não para por aí. Músicas como “Dead photographers”, “Black thread”, “Bad choices”, “Erasure” e “Reagan Youth” mostram que o Superchunk, mesmo com quase 30 anos de carreira e 11 álbuns nas costas, continua a ser uma das melhores e mais apaixonantes bandas do rock alternativo americano. Daquelas que são um pecado mortal você deixar de ouvir.

Eu, pelo menos, não quero morrer como um maldito pecador.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

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