Oi, gente.
A primeira coluna de 2018 faz justiça a quem diz que alguma coisa acaba somente quando termina. Afinal, foi apenas na última semana de 2017, quando tudo já parecia dentro da nova ordem mundial, que descobri sem querer “American vandal”, série da Netflix que estava rodando no serviço de streaming há alguns meses, elogiada por meio mundo, pequenos animais distraídos e que eu não tinha a menor ideia que existia. Erro devidamente remediado com uma pequena maratona que matou os oito episódios antes que começasse a queima de fogos do Réveillon de Kiribati, Vanuatu e Estados Federados da Micronésia.
“American vandal” faz parte daquela lista de produções com premissas tão improváveis e/ou absurdas que a gente precisa largar o que está fazendo – ou abandonar outras séries que já perderam a graça – e sentar o traseiro em frente à TV para assistir ao primeiro episódio e, quando menos se espera, mandar o sono dar um passeio em Uberlândia e arriscar se tornar um zumbi no dia seguinte. A série, uma ideia da dupla Tony Yacenda e Dan Perrault, satiriza esses programas de investigação criminal como “Making a murderer”, da própria Netflix, conhecido por mostrarem criminosos notórios e casos que marcaram o imaginário coletivo e eram presença constante nos noticiários.
A ideia por si só, é arriscada, afinal quem poderia querer assistir a um programa que satiriza séries documentais de investigação? A solução, a princípio, é criar uma história absurda naquilo que o gênero costuma propor, e é aí que “American vandal” ganha os corações dos curiosos. A série (totalmente ficcional) mostra dois alunos de uma escola de uma cidadezinha litorânea da Califórnia, Peter Maldonado (Tyler Alvarez) e Sam Ecklund (Griffin Gluck), que decidem produzir um documentário para descobrir quem pichou vários pintos – ou pênis, se preferirem – nos carros de 27 professores do colégio, e ao mesmo tempo inocentar o único suspeito, Dylan Maxwell (Jimmy Tatro), expulso ao ser apontado como autor do ato de vandalismo – outro aluno diz ter visto o jovem pichando os veículos.
Confesso que, no início, achava que “American vandal” seria uma série que apenas transformaria em piada as séries do gênero, mas não é isso que acontece. Mesmo que provoque um riso aqui, outro ali, a produção prende o telespectador por tratar o assunto como coisa séria, mesmo quando as situações beiram o ridículo. Tudo ali é tratado com muita seriedade pelos alunos-documentaristas, que entrevistam alunos, professores, parentes, namorados e namoradas, produzem infográficos, criam teorias, reproduzem depoimentos gravados, fazem trabalho de pesquisa, reencenam o “crime”, utilizam imagens de arquivo e conversam em frente às câmeras, tudo em episódios repletos de reviravoltas em que a testemunha de hoje pode ser o principal suspeito de amanhã. E ter a história situada numa típica escola americana, com a sua fauna habitual, só torna a trama ainda mais insólita e interessante.
A verdade é que chega um momento que você esquece que tudo aquilo é ficção da boa e passa a acompanhar a história como se fosse um bom drama policial investigativo, torcendo para que cada nova descoberta resulte em uma prova incontestável da inocência de Dylan. Não é difícil torcer a favor ou contra alguns personagens, como a professora de espanhol que seria a principal vítima do estudante ao aluno dedo-duro que tem a maior pinta de mentiroso, sem esquecer da aluna presidente da classe metida a ativista e o professor de história que faz de tudo para ser o mais popular da escola. E o elenco é muito bom, principalmente o estúpido, inconsequente e avoado Dylan interpretado por Jimmy Trato.
Para quem já começou 2018 maratonando “Black Mirror” e continua a fim de algo novo, diferente e fora da caixinha, “American vandal” tá na pista pra jogo – e já tem sua segunda temporada confirmada, aleluia Gretchen.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.