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O Sapo do Trovão e a garota mais bonita (da sala)

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Oi, gente.

Queria dizer que estar na meia-idade não é de todo mal. Temos bagagem suficiente para fazer ligações afetivas, puxar na memória experiências meio que esquecidas a partir das coisas novas. Foi o que aconteceu na última semana ao assistir “Thor: Ragnarok”, que me fez lembrar da fase do Deus do Trovão escrita e desenhada pelo mestre Walt Simonson, e a série “Flight of the Conchords”, que teve episódios dirigidos pelo neozelandês Taika Waititi, o mesmo cabra responsável por levar para o cinema a mais recente aventura do loirão asgardiano.

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Anfíbio, mas poderoso

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No caso de Walt Simonson, o nome do artista norte-americano sempre vem à memória quando Thor está na área. Afinal, ele era o cara responsável pelas histórias do asgardiano quando comecei a ler os formatinhos da Abril, no final dos anos 80, e as aventuras de Thor eram algumas das minhas preferidas da época, junto com os X-Men de Chris Claremont, a Tropa Alfa e o Quarteto Fantástico de John Byrne e o Demolidor de Frank Miller.

Não faltavam motivos para acompanhar as histórias do Thor de Simonson. Primeiro que ele era um dos melhores ilustradores da época, com um traço que era ao mesmo tempo simples e arrojado, com um ritmo explosivo acompanhado pelas melhores onomatopeias da época (como não amar aquelas páginas inteiras com um poderoso “DOOOOOOOOOOOOOOOOOOOM” explodindo na sua cara?). Poucas vezes, com o perdão do trocadilho, Thor foi tão poderoso.

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A fase de Walter Simonson com o personagem também é aquela com as melhores histórias, superando até mesmo as dobradinhas Stan Lee/Jack Kirby e Roy Thomas/John Buscema, muito graças ao seu conhecimento da mitologia nórdica e à sua disposição de levar o herói a caminhos nunca explorados. Foi ele quem introduziu o personagem Bill Raio Beta, tão poderoso e nobre a ponto de derrotar Thor e tomar posse de Mjolnir, tornando-se o novo Deus do Trovão; preparou terreno para a “Saga de Surtur”, um dos maiores épicos da Marvel nos anos 80; eliminou da face da Terra o antigo alter ego do personagem, Donald Blake, e fez Thor se disfarçar como um peão de obra; apresentou Lorelei, a irmã de Encantor; fez Loki lutar ao lado de Thor e Odin; estabeleceu um novo propósito para Balder, que mesmo com aparência mais velha e obesa tornou-se um herói até mesmo superior ao seu amigo aesir; engendrou as batalhas contra Hela, a Deus da Morte (que aparece em “Ragnarok”), Jormungand, a Serpente de Midgard, e o dragão Fafnir; introduziu personagens como o elfo Malekith, Roger Willis, o guardião da Caixa dos Invernos Antigos, e Eilif, o último viking vivo.

E não podemos esquecer da maior de todas “ousadias” pensadas pelo artista: Thor, o Sapo do Trovão. Sim, um sapo, igual àquelas histórias que ouvíamos e líamos na infância. Graças a um estratagema de Loki, o Deus do Trovão é transformado num batráquio e precisa sobreviver em pleno Central Park, em Nova York, de ameaças que ele jamais poderia imaginar. O momento em que Thor, consegue retomar Mjolnir e se tornar o Sapo do Trovão é uma das mais emblemáticas da nona arte na década de 1980. Além de dar um refresco cômico após a “Saga de Surtur”, o Sapo do Trovão foi uma forma de Simonson homenagear o mestre Carl Barks, o criador do Tio Patinhos, e inserir uma citação a um poema satírico do poeta grego Homero.

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‘Tão bonita quanto uma árvore’

Por outro lado, “Flight of the Conchords” é lembrança recente, coisa de menos de dez anos, mas figura desde então na lista das minhas séries favoritas forever. A produção teve apenas duas temporadas na HBO, mas continua imperdível graças ao seu humor peculiar e trilha sonora inspiradíssima. cortesia da dupla musical que levou suas músicas, inicialmente, para um programa de rádio da BBC antes de conquistar espaço na televisão. E quem ajudou no sucesso da produção foi justamente Taika Waititi, amigo de longa data da dupla e que chegou a fazer parte de um grupo musical, o So You’re a Man.

Os Flight of the Conchords eram os neozelandeses Bret McKenzie e Jermaine Clement. Eles interpretavam uma dupla (Jermaine Clemaine and Bret McClegnie) de músicos fracassados da Nova Zelândia que tentava conquistar seu espaço na cena musical de Nova York com a ajuda de um funcionário do consulado de seu país, que também era seu empresário – apesar de saber absolutamente nada do ofício. O problema é que eles só se metiam em roubadas, realizando shows nos lugares menos prováveis e para um público praticamente inexistente. Na verdade, eles tinham uma única e solitária fã, completamente pinel das ideias e que se tornou uma verdadeira stalker. Ah, eles viviam sendo sacaneados rotineiramente pela turma da embaixada da Austrália, num dos mais hilários casos de bullying entre nações.

Algumas situações são impagáveis, como a visita do primeiro-ministro da Nova Zelândia aos Estados Unidos, a decisão de Jermaine se tornar garoto de programa e o dia em que decidem formar uma gangue. Tudo acompanhado por músicas que entraram nos álbuns da dupla, como “Bowie”, “Too many dicks (on the dance floor)”, “Frodo don’t wear The Ring”, “Business Time”, “Robots”, “Hiphopopotamus vs. Rhymenoceros”, “You don’t have to be a prostitute” e “Inner City Pressure”, misturando pop, rock, folk, synthpop, rap, R&B e soul music.

Nenhuma delas, porém, consegue superar “The most beautiful girl (in the room)”. A maior e mais sem noção balada de amor já feita pelo homem tem versos como “Olhando ao redor da sala / Posso dizer que você é a garota mais bonita da… sala (de toda a sala) / E quando você está na rua, dependendo da rua / Eu aposto que você está definitivamente no top 3 (…) Você é tão linda / Quanto uma árvore / Ou uma prostituta de alta classe”.

Para quem ficou curioso, a fase de Walt Simonson à frente de “Thor” ganhou encadernados na década passada pela Panini, mas que estão fora de catálogo; mais recentemente, a Salvat republicou o arco com Bill Raio Beta. Quanto a “Flight of the Conchords”, é torcer para a HBO mandar ver nas reprises ou assistir por meio do serviço de streaming HBO GO.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

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