Oi, gente.
Há pouco mais de dois anos fiz uma resenha a respeito de “Projeto Manhattan”, uma das mais bizarras séries em quadrinhos lançadas nesta década. Na ocasião, escrevi que “quando alguém tem a coragem de pegar Albert Einstein, Frank Delano Roosevelt, Enrico Fermi, Robert Oppenheimer, Wernher von Braun, Richard Feynman e Harry S. Truman e transformá-los em seres humanos dementes, insensatos, desprovidos de moral e psicóticos e cria uma série que te prende da primeira à última página, é preciso reconhecer que o sujeito é bom, muito bom. Este é o caso do roteirista Jonathan Rickman que, com o desenhista Nick Pitarra, criou a absolutamente insana ‘Projeto Manhattan’ (Image Comics).” O primeiro volume, publicado pela Devir, continha as cinco primeiras histórias da série, e foram dois longos anos até a editora enfim dar continuidade à saga, que teve publicadas praticamente ao mesmo tempo no final de 2016 os volumes dois e três.
A premissa “Ciência. Ruim.” continua a ser o ponto central das histórias, pelo menos para o observador. O primeiro volume mostrava os cientistas do Projeto Manhattan brincando com bizarrices como extração do espaço pan-dimensional, portais para realidades alternativas, Inteligência artificial e materialização de armas imaginárias, entre outros delírios, além de participarem de conspirações e genocídio de espécies alienígenas.
No segundo volume, os cientistas e militares já cumpriram o seu dever com o governo dos Estados Unidos (construir a bomba atômica) e passam a se dedicar aos seus próprios projetos, cujo principal objetivo é promover o avanço da raça humana de acordo com os interesses do grupo. Para isso, eles celebram uma aliança secreta com os cientistas soviéticos, que também possuem os seus nazistas de estimação. Essa movimentação não agrada aos Illuminati, o grupo secreto que comanda o mundo e é liderado pelo presidente americano Harry S. Truman. Ao mesmo tempo, Robert Oppenheimer, dominado pela personalidade do seu irmão Joseph, desenvolve seu Plano Mestre e oculta o conflito interno que vive (“A Guerra de Oppenheimer”).
O terceiro volume é marcado por revelações, mortes e ainda mais reviravoltas. Os cientistas americanos, soviéticos e nazistas, junto com os militares, estão livres dos Illuminati e tocam três projetos ao mesmo tempo: o Projeto Ares tem como meta a exploração e colonização espacial; o Projeto Vulcan busca novas formas de energia renovável; e o Projeto Gaia ambiciona criar o übermensch (super-homem) através do hibridismo genético entre humanos e alienígenas. O que eles não sabem é que as três divisões estão sob o guarda-chuva do Projeto Charon, do cada vez mais insano Joseph Oppenheimer, que agora tem entre suas múltiplas personalidades a do finado ex-presidente Truman.
Os novos capítulos de “Projeto Manhattan” contam ainda com novos personagens, como o cosmonauta Yuri Gagarin, a cadela Laika e o presidente americano John Kennedy, mais preocupado em entupir a nareba de cocaína que outra coisa. É um grande barato ver o que Jonathan Hickman faz com essas figuras, totalmente desprovidas de moral e dedicadas aos resultados de seus planos, não importando os meios. Agora, é torcer para a Devir não demorar mais dois anos para lançar os volumes quatro e cinco e ver até que ponto chegarão as insanidades destes senhores tão geniais quanto desprovidos de emoção. É como escreveu Richard Feynman em um sua “Clavis aurea”, que serve de interlúdio entre os capítulos: “O que é o mundo senão um conjunto de sonhos frustrados e homens frustrados… Uma coisa que vale a pena conquistar.”
Ciência. Ruim. Mas a gente gosta.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.