Em meio a um cenário macroeconômico desfavorável, com quedas sucessivas no nível de atividade do setor de serviços e estagnação recorde no desempenho do comércio e da indústria, eis que ainda existe um setor a apresentar resultados positivos em 2016. O Produto Interno Bruto (PIB) do sempre produtivo agronegócio brasileiro, estimado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP) e Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), cresceu 1,55% no primeiro quadrimestre deste ano, comparado ao mesmo período do ano passado.
De forma desagregada, o PIB da agricultura cresceu 2,37% e o da pecuária recuou 0,22% nesse período. Buscando incentivar o setor, o Governo adota o Plano Safra desde 2014. Até o dia 30 de junho, os produtores rurais utilizaram 77% dos recursos financeiros disponibilizados no âmbito do plano para o biênio 2015/2016. De acordo com o Ministério da Agricultura (Mapa), foram usados R$ 144,54 bilhões de um total de R$ 187,7 bilhões, subdivididos em duas modalidades: “custeio e comercialização” e “investimentos”. Dos R$149,5 bilhões disponíveis para custeio e comercialização, 78% dos recursos foram contratados; já dos R$ 38 bilhões para investimentos, 71,5% foram contratados. Para o Plano Safra 2016/2017 serão disponibilizados mais R$185 bilhões. E assim nossa economia reafirma sua base agrícola.
Além de revelar pouca sofisticação da matriz econômica, a informação não é favorável ao consumidor. Isso porque o resultado positivo do setor decorre da alta dos preços, e o que é bom para o bolso dos produtores será mal para o dos consumidores e para o controle da inflação. Em junho, o custo do conjunto de alimentos básicos aumentou em 26 das 27 capitais do Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Além disso, a prévia para a inflação do mês de julho, medida pelo IPCA-15 em relação aos primeiros 15 dias do mês de junho, elevou-se 1,45%. Apenas o grupo alimentos e bebidas foi responsável por 69% do índice.
A variação brusca nos preços dos alimentos procede principalmente de problemas de oferta ocasionados por fatores naturais, como pragas, temperatura, longos períodos de seca ou de chuvas intensas. Assim, de tempos em tempos, alguns alimentos específicos entram em destaque pela alta expressiva. Baseado nessas últimas pesquisas, os dois itens que tiveram destaque pelo aumento de preços em junho foram o feijão e o leite.
No caso do feijão, a escalada dos preços ocorreu particularmente devido a fatores climáticos, com altas temperaturas e longo período de estiagem, além da concorrência com o plantio de soja e milho, produtos com preços em alta no mercado internacional. A previsão é que, neste ano, a safra fique 6,1% menor que a anterior, chegando a 2,9 milhões de toneladas. Com o IPCA-15 de julho indicando aumento de 58,06% no feijão tipo carioca, é esperado que as medidas de incentivo a importações façam os preços pararem de subir em breve. Até maio deste ano, já havia sido importadas 69.564 toneladas, um aumento de 55,6% quando comparado com o mesmo período do ano anterior.
Já no caso do leite, a explicação para o aumento nos preços é também climática. Com poucas chuvas, o pasto não cresceu e boa parte dos produtores está precisando complementar a alimentação do gado leiteiro com ração à base de soja e milho para não diminuir a produtividade. Utilizando insumos mais caros, o preço do leite já se apresenta 28% superior em um ano, levando a um consumo 20% menor que o normal e pressionando inclusive o preço de seus derivados, como a manteiga (39,23%).
Para minimizar o impacto do aumento dos preços dos alimentos no bolso é preciso ser flexível. No caso do feijão, o tipo mais consumido no Brasil é o carioca. Fazê-lo à moda feijão-tropeiro faz com que o seu rendimento na mesa aumente se comparado ao feijão de caldo. Trocá-lo pelo feijão preto também é uma opção. Com relação ao leite, a alternativa é comprá-lo ensacado, ao invés de em caixa. Em tempos de vacas magras, criatividade é o item que engorda o bolso.
Por Matheus L. Serrão Dilon, Apolo R. Bezerra e Admir Betarelli. Email para: cmcjr.ufjf@gmail.com