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A silenciosa guerra do petróleo

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O petróleo, assim como a soja, o café, o ferro, o alumínio, são produtos do tipo commodity. A principal característica das commodities é se tratarem de produtos homogêneos, ou seja, com características basicamente idênticas, independente do seu país de origem. Essa peculiaridade faz com que seus preços flutuem ao sabor da oferta e demanda do mercado global. É justamente o desequilíbrio entre esses dois fatores que vem levando o petróleo à sua menor cotação desde o início de 2009.
Cotado no mercado internacional há 12 meses ao preço de US$ 60/barril, o petróleo está em vista de terminar 2015 abaixo dos US$ 38/barril, uma queda de 62% em relação ao pico ocorrido no final de 2013, quando encerrou a US$ 100/barril. A acentuada desvalorização tende a continuar em 2016 devido ao fato da oferta esperada de 96,9 mbd (milhões de barris por dia) ser maior que a demanda esperada de 95,8 mbd, decorrente de um menor crescimento da economia mundial, puxado pelo desaquecimento econômico nos países emergentes, China incluída.

O aumento da produção do petróleo pelos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) foi a forma escolhida pelo cartel para retaliar o aumento da oferta por países não membros. Baixando o preço a patamar atual, a Opep sacrifica lucros, mas garante participação de mercado ao inviabilizar duas das principais novas formas de extração concorrentes: via xisto, muito explorada nos EUA nos últimos cinco anos, que apenas é viável; e a exploração em águas profundas, como o pré-sal. A expectativa, segundo a OPEP, é que o barril de petróleo volte a custar US$ 80 apenas em 2020, podendo ultrapassar a máxima de US$ 100 só depois de 2040.

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Segundo o relatório anual para 2015 da Agência Internacional de Energia (AIE), cada dólar a menos no custo do barril de petróleo representa uma diminuição média de US$ 15 bilhões nos custos anuais pagos pelos importadores de petróleo, beneficiando economias altamente dependentes da commodity, indústrias e consumidores finais, que passam a pagar menos nos postos. Mas se o petróleo está mais barato no mundo inteiro, por que estamos pagando tão caro por ele no Brasil?

Diferentemente do mercado internacional, que precifica a commodity com base na lei de oferta e demanda, a Petrobras é a única grande petroleira do mundo que vende petróleo e derivados a “preços administrados”, ou seja, controlados pelo Governo. A grande “vantagem” desse procedimento é evitar que flutuações abruptas nos preços do petróleo cheguem aos consumidores, pressionando diretamente o nível da inflação. Por conta do mecanismo, a Petrobras sofreu uma perda na área de abastecimento calculada em R$ 90 bilhões entre 2011 e a metade de 2015.

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Uma hora, entretanto, alguém precisa pagar a conta. Na segunda metade de 2015, os preços nas bombas foram reajustados repetidamente para que a companhia pudesse cobrir parte de seus prejuízos. Além da recomposição de preços, houve aumento acumulado de 54% na cotação R$/US$ (reflexo do fraco desempenho da economia brasileira) e reajuste nos impostos sobre combustíveis para tentar fechar as contas do Governo. Tudo ao mesmo tempo agora. O resultado é que, atualmente, pagamos a gasolina e o diesel mais caros do mundo, respectivamente 32% e 45% acima do valor de mercado internacional. Isso num momento de retração econômica e no qual a inflação (IPCA) já superou os 10% a.a. É o preço que se paga quando o estado resolve administrar o mercado.

Por Matheus Dilon. Conjuntura e Mercados Consultoria Jr – Faculdade de Economia/UFJF. Email para: cmcjr.ufjf@gmail.com

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