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Depois do café, a crise do leite

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Além de importante na produção de café, Minas Gerais é o estado brasileiro que mais produz leite, sendo responsável por quase 30% da produção nacional entre 2000 e 2012. A Zona da Mata e o Sul de Minas são regiões tradicionais no ramo leiteiro, tendo liderado a produção estadual durante boa parte do século passado. No final do século, porém, houve um deslocamento da produção para o Noroeste de Minas e, principalmente, para o Alto Paranaíba. Em 2012, a produção desta segunda região já correspondia a 25% do total estadual.

Seguindo a tendência de perda gradual do dinamismo econômico que tem acometido a Zona da Mata e o Campo das Vertentes nos últimos anos (tema das duas colunas anteriores), hoje, as duas regiões juntas são responsáveis por apenas 12,2% da produção estadual de leite. A “crise do leite”, entretanto, tem abrangência nacional. Não se trata, todavia, de uma simples crise de produção. Entre 1999 e 2014, o Brasil chegou a aumentar sua produção em 104%, enquanto produtores tradicionais, como Nova Zelândia e Austrália, tiveram aumento de apenas 67% e decréscimo de 16%, respectivamente. Tampouco é uma crise relacionada à precificação do gênero, uma vez que o preço médio do leite brasileiro em 2014 (US$6,68/kg, com 1kg = 1,033 l) foi de 10% a 28% maior que o da maioria dos demais países exportadores.

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O Brasil, na verdade, vive uma crise de produtividade. Em 2012, a produtividade das vacas brasileiras foi de 1.416 litros de leite/vaca/ano. Já nos Estados Unidos, alcançou 9.593 litros. Esse diagnóstico se confirma quando cruzamos os dados da produção de leite e do tamanho do rebanho dos dois países. O Brasil, dono do segundo maior rebanho bovino do mundo (215 milhões de cabeças de gado em 2012, contra 91 milhões dos Estados Unidos), produziu aproximadamente 32 milhões de litros de leite nesse ano, bem abaixo dos mais de 90 milhões dos Estados Unidos, hoje os maiores produtores do mundo. A mesma conclusão pode transportada para o âmbito regional. Entre 2000 e 2012, a produtividade da Zona da Mata se manteve praticamente inalterada, indo de 1.458 litros/vaca para 1.576 no período. Em parte, isso se deve ao relevo muito acidentado e montanhoso da região, que, assim como no caso do café, dificulta o aumento no volume e a mecanização da produção.O Campo das Vertentes teve um resultado mais animador, indo de 1.854 litros/vaca para 2.084. Isso se deve, em parte, à parceria da Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ) com entidades como Epamig, Emater, Embrapa e Instituto Mineiro de Agropecuária, entre outras.

A boa notícia boa é que a pesquisa científica em bovinocultura está a todo vapor no país. A Embrapa Gado de Leite já dispõe de diversas técnicas que prometem aumentar a produtividade do leite nos próximos anos. Destaque para automação, com robotização da mão-de-obra e desenvolvimento de sensores para o monitoramento de parâmetros físicos, químicos e biológicos do rebanho; nanotecnologia, aplicada por exemplo na criação de antibióticos nanoestruturados para o controle da mastite; seleção genômica, que permite o melhoramento genético de raças leiteiras, além de biotécnicas reprodutivas, como a inseminação artificial e a fertilização in vitro. Certamente, os pequenos produtores – maioria na Zona da Mata e Campo das Vertentes – não têm recursos para implementar todas essas técnicas em escala suficiente. Ciente disso, a Embrapa vem desenvolvendo outros procedimentos mais acessíveis, como elaboração de dietas voltadas para raças e climas específicos e rações especializadas, que aumentam a produção e melhoram as características do leite. Como quase sempre, a libertação da “crise” de produtividade do leite por aqui passa pelo treinamento e por incentivos corretos aos pequenos produtores dessas duas microrregiões.

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Por Fernando Perobelli, Vinícius Vale, Verônica Cardoso, Felipe Lanziotti e Túlio Belgo – CMC Jr. –  Faculdade de Economia/UFJF – email para: cmcjr.ufjf@gmail.com

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