O Brasil vive tempos difíceis, que se assemelham a um passado que ainda marca a memória daqueles que acompanhavam a economia pré-Plano Real. As medidas adotadas pelo Governo atual não obtiveram sucesso, seja pela via expansionista (redução de impostos, melhoria nas condições de crédito), seja pela via contracionista (altas sucessivas das taxa de juros para controlar a inflação). O cenário observado desde 2015 e esperado até pelo menos 2017 é de recessão, com queda na produção industrial e no consumo, desemprego crescente e inflação elevada. Volta a pairar sobre a cabeça dos brasileiros o risco de viver um fenômeno econômico raro, denominado ‘estagflação’, com a indexação econômica gerando inflação mesmo quando a demanda já desaqueceu.
Sem uma perspectiva clara para o futuro do país, o mercado financeiro reage de forma exagerada a qualquer notícia no front político. Informações relacionadas a mudanças no status quo levam a variações positivas no preço das ações, em especial das estatais, e a uma queda na cotação da moeda americana, refletindo a expectativa de eventuais melhorias na economia brasileira quando comparada à americana. O inverso também ocorre. Com isso, entre janeiro de 2014 e abril de 2016, foi observada uma correlação significante e negativa de 0,66 entre o Índice Bovespa e a cotação do dólar. A empresa aérea Gol é um exemplo de como um dólar valorizado contribui para deteriorar a situação das empresas. Em 3 meses, as ações da companhia despencaram 46%, reflexo do dólar caro que corrige suas dívidas e da demanda fraca. Com tantos altos e baixos no mercado cambial, fica difícil para a empresa até mesmo fazer seguro (hedge) contra a alta da moeda estrangeira.
Deixando a questão política de lado e direcionando a atenção especificamente para os fundamentos econômicos, a percepção é que as grandes oscilações ocorridas nos pregões de 2016 reflitam sobre-reações do mercado, que reage exageradamente a qualquer novidade para, nos dias seguintes, corrigir os movimentos anteriores. Com isso, do começo de 2014 até o final de março deste ano, o Ibovespa apresentou média diária de valorização de 1,61%. Como comparação, isso significa que o rendimento das ações poderia se igualar ao retorno anual da renda fixa em apenas dois meses. Ou seja, quem operou corretamente as subidas e descidas do índice de mercado ganharia em 2 meses o que um investidor em renda fixa levaria 1 ano para ganhar.
A explicação para tamanha volatilidade pode estar na comunicação ineficiente das diretrizes econômicas pelo Banco Central. Um estudo dos acadêmicos Adonias Evaristo e Fabiana Rocha, da USP, revela que, quando os agentes não percebem a direção que a entidade monetária quer dar para o país, suas decisões ficam à deriva, surfando em noticiários, informações incompletas e sinais gráficos. Outro estudo das contabilistas Mara Malacrida e Márcia Yamamoto revela que um maior nível de evidenciação contábil resulta em menor volatilidade média dos retornos das ações. Empresas com gestão eficiente e forte capacidade para gerar caixa e valor aos acionistas são capazes de passar melhor por situações de adversidade econômica.
De maneira geral, empresas que possuam uma fatia de negócios em outros países, ou que ofereçam proteção contra a inflação ou ainda que tenham capacidade de elevar seus preços sem redução na demanda durante períodos de recessão _ como as do setor agrícola, alimentos e bebidas e financeiras, além de exportadoras _ são as mais indicadas para momentos difíceis. Em um ambiente no qual a credibilidade é o principal pilar, agitar águas turvas certamente não ajuda. Menos pânico e mais informação técnica certamente farão bem aos investidores.