Pouso forçado: o que esperar das economias emergentes em 2022?

Por Mylena Carvalho e Rafael Teixeira

18/01/2022 às 07h00 - Atualizada 17/01/2022 às 16h24

Segundo o último relatório de Perspectivas Econômicas Globais divulgado pelo Banco Mundial, depois de uma forte recuperação em 2021, a economia encontra-se em forte desaceleração em meio à propagação de variantes da Covid-19 e ao aumento da inflação, do endividamento e da desigualdade de renda: fatores que colocam em risco a recuperação de economias emergentes e em desenvolvimento.

O acelerado avanço da variante Ômicron mostra que a pandemia deve continuar afetando a atividade econômica no médio prazo. Além disso, uma evidente desaceleração nas principais economias – incluindo China e Estados Unidos – irá afetar a demanda externa, sobretudo nos países mais vulneráveis. No atual cenário, o crescimento global deve sofrer desaceleração acentuada de 5,5% em 2021 para 4,1% em 2022 e 3,2% em 2023, conforme a demanda reprimida se dissipe e os apoios fiscal e monetário sejam
reduzidos em todo o mundo.

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De acordo com as novas projeções divulgadas, o Banco Mundial diz que a economia global terá duas velocidades de recuperação neste ano – o que aumentará o abismo existente entre países ricos e pobres. Enquanto as economias avançadas serão capazes de restabelecer os resultados e os investimentos aos níveis pré-pandemia em 2023, as economias emergentes e em desenvolvimento permanecerão com um desempenho 4% abaixo da tendência pré-crise.

A baixa recuperação das economias emergentes e em desenvolvimento tem origem em uma multiplicidade de riscos, combinada com uma capacidade limitada de resposta perante os desafios encontrados. Esses países não têm conseguido sustentar as mesmas reações fiscal e monetária à pandemia que foram implementadas nas economias avançadas, fazendo com que muitas delas já precisem retirar estímulos e promover um “pouso forçado” – como no caso da elevação da taxa de juros a fim de conter a alta da inflação.

Vale ressaltar que, além das perdas financeiras, a pandemia também causou o aumento da desigualdade em muitas outras esferas da atividade humana: na disponibilidade de vacinas; no crescimento econômico; no acesso à educação e à saúde; e na escala de desemprego e perdas de renda, que foram maiores para as mulheres e os trabalhadores informais e pouco qualificados. Essa tendência tem potencial para deixar marcas duradouras, como no caso das perdas de capital humano causadas por interrupções nos estudos – que podem aprofundar essas desigualdades por gerações.
Enquanto economia emergente, o Brasil ainda poderá ter um ano muito volátil.

Apesar da queda esperada para a produção industrial, o crescimento da economia brasileira deverá ser compensado pelos avanços na agricultura, pecuária e serviços – por conta de melhores condições meteorológicas no campo e da consolidação do processo de reabertura da economia nos ambientes urbanos. Os principais fatores de risco continuam sendo o aumento da taxa de juros para o combate à inflação e a fragilidade fiscal após medidas polêmicas – fatores que podem gerar um crescimento esperado de apenas 0,28% para o PIB no acumulado de 2022.

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