Em meio à retração da demanda, companhias aéreas brasileiras fazem malabarismos para diminuir os prejuízos operacionais. Além da queda nas operações de carga e passageiros, o setor aéreo brasileiro enfrenta o encarecimento dos combustíveis e expansão das dívidas, ambos avaliados em moeda estrangeira. Estima-se que o desequilíbrio financeiro já represente 40% dos custos dessas empresas. De acordo com a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), que reúne dados das principais companhias (TAM, Gol, Azul e Avianca), já são oito meses consecutivos de diminuição na demanda doméstica por voos – cenário que contrasta com o crescimento observado no resto do mundo.
Nem mesmo os meses de alta temporada ajudaram. Dezembro (-4,92%), janeiro (-4,01%) e fevereiro (-3,03%) contribuíram para que a queda acumulada chegasse a 4,8% no primeiro trimestre de 2016 em relação ao mesmo período de 2015. O mês de março deste ano aponta para um tombo ainda maior, com queda de 7,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. Pela primeira vez nos últimos 24 meses, a demanda por voos internacionais também retraiu, com taxa de ocupação de 78,37%. No segmento de carga, as empresas movimentaram 25,8 mil toneladas em março, volume 17,9% inferior ao observado no mesmo mês de 2015. Somente no segmento de carga internacional houve uma ligeira alta (1,2%), parcialmente decorrente da alta do câmbio sobre as exportações brasileiras.
Em face desse grave cenário, as companhias reagiram e iniciaram uma redução de 3,7%, mês a mês, da oferta de voos e linhas. A lógica econômica foi buscar um uso mais intensivo do capital empregado, ou seja, elevar as taxas de ocupação nas aeronaves, reduzindo o custo unitário por passageiro, além de intensificar e concentrar as rotas e frotas em poucos aeroportos no país (“humanização”). As medidas, conforme a Abear, já provocaram uma leve alta da taxa de ocupação doméstica: 79,98% em março deste ano.
Além da racionalização dos voos diários, algumas companhias aéreas revisaram a folha de pagamento e os projetos de investimentos, pretendendo devolver e emprestar suas aeronaves em 2016. O grupo Latam, dono das companhias TAM e LAN, devolverá 20 aeronaves. A Gol trabalha com a possibilidade de enviar 20 aeronaves à Delta Airlines dos EUA (dona de 9,48% da companhia). A Azul também quer diminuir em 20 aeronaves a sua frota ainda em 2016, emprestando aeronaves para a TAP (companhia aérea portuguesa). Já a Avianca alterou o cronograma de recebimento de aeronaves da Boeing entre 2016 e 2017 de 15 para um e irá devolver cinco aviões que estavam em regime de arrendamento (leasing), além de cortar 40% do plano de frota para os próximos três anos, o que deve reduzir os investimentos em novos aviões em US$ 2,9 bilhões.
Com o corte de voos, há um movimento natural de demissão em massa nas companhias. Desempregados, os pilotos estão buscando realocação no exterior, em mercados como China e Panamá, segundo o Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA). É, sem dúvida, um cenário bem diferente do observado há três anos, quando a demanda por pilotos era tão grande que chegou a gerar expectativa de escassez no país. Para evitar que a crise chegue até o ar, representantes do setor sugerem mudanças tarifárias e regulatórias, a começar pelos serviços prestados pelos aeroportos, o que favoreceria a contenção dos preços cobrados pelas companhias e tiraria mais aeronaves do hangar.
Por Matheus Lily Serrão Dilon e Admir Antonio Betarelli Junior – Email para: cmcjr.ufjf@gmail.com