O Brasil se posiciona hoje como a sétima maior economia do mundo. Contudo, a participação brasileira no comércio internacional ainda é pouco representativa desse status. Com vistas a estimular a retomada do crescimento econômico, o mercado externo poderia ser uma saída.
No quesito exportações, a economia brasileira vem sendo dominada pela China. Entretanto, depois de algumas décadas de forte crescimento, a economia chinesa vem demonstrando certo cansaço e causando uma mudança forçada nos fluxos de capitais. Somente em 2015, o Brasil comprou da China (nosso principal parceiro comercial) US$ 37,7 bilhões em produtos – quase o mesmo que importa de toda a União Europeia (US$ 33,9 bi) – e vendeu para os chineses US$ 35,6 bi – bem mais do que vende para os EUA (US$ 24,2 bilhões no ano passado). Porém, como a diferença entre o remédio e o veneno costuma ser a quantidade, essa dependência da economia chinesa em pré-crise já afeta negativamente o desempenho da economia nacional e exige uma mudança rápida de perfil.
Para a China, no ano passado, o Brasil vendeu principalmente soja (44,34%), minério de ferro (16,15%), óleos brutos de petróleo (11,62%) e celulose (4,62%) e importou, especialmente, aparelhos e componentes eletrônicos, barcos e infraestrutura para portos – produtos de alto valor agregado. Por exportar basicamente commodities, o desaquecimento da principal economia asiática vem gerando um cenário cercado de incertezas. Espera-se, por exemplo, uma queda forte na venda de commodities ligadas à produção fabril e construção civil, como minério de ferro e óleos brutos de petróleo. A soja, por outro lado, deve sofrer menos, pois é um item relativo à alimentação e este setor é sempre o último a ser afetado pelo declínio da atividade econômica. Mesmo com a queda nas exportações, o saldo da balança comercial brasileira (exportações menos importações) deve ser positivo em 2016. Mas, como se advinha, a notícia não é boa, já que será estimulada pelo fraco desempenho da atividade econômica brasileira e pelo real desvalorizado, que desestimulam a compra de itens mais caros, como celulares e outros eletrônicos semiduráveis, e deprimem importações.
A crise conjunta China-Brasil, porém, pode abrir possibilidades em relação a outros países. A desvalorização do real barateia nossos produtos, criando oportunidade para que outros laços externos sejam estreitados. Estados Unidos, segundo maior parceiro do comércio brasileiro, e Argentina, terceira maior compradora de nossos produtos, podem ganhar maior destaque nos próximos anos. O reaquecimento da economia norte-americana e os ventos pró-mercado na Argentina podem contrabalancear o desaquecimento chinês e aumentar a demanda por nossos aviões e automóveis, por exemplo. A Índia, que atualmente é só a oitava maior compradora dos produtos brasileiros, vem apertando o passo do crescimento e pode ganhar espaço e aumentar a compra de commodities minerais e agrícolas, além de aviões. Depois de apostar em negócios da China, talvez seja a hora do Brasil finalmente descobrir o Caminho da Índia.
Por Bruno Medeiros, Gabriele Ribeiro Matheus Martinez e Wilson Rotatori. Email para: cmcjr.ufjf@gmail.com