Antevendo passos no mercado de trabalho

Por Tribuna

14/09/2021 às 07h00 - Atualizada 13/09/2021 às 23h09

O Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) divulgado pelo FGV IBRE apresentou uma alta de 0,9 ponto e alcançou um total de 90,1 pontos no mês de agosto, chegando ao maior nível desde fevereiro de 2020 (92 pontos). O indicador tem por objetivo antecipar os principais movimentos do mercado de trabalho no Brasil a partir de dados extraídos em sondagens mensais envolvendo empresas e expectativas dos consumidores. Apesar do quinto mês de avanço, a recuperação do índice vem perdendo força.

Tal resultado sugere que a recuperação do emprego após o choque ocasionado pela segunda onda da pandemia ainda deve ser gradual e será pautada na recuperação do setor de serviços, que foi o setor mais impactado pelas medidas de isolamento social impostas por estados e municípios para conter o avanço da crise sanitária.

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Em linha com a melhora das expectativas nos últimos cinco meses, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua mostram que a taxa de desocupação no Brasil recuou para 14,1% no segundo semestre de 2021. Esse recuo representa uma queda de 0,6 pontos percentuais em relação ao primeiro trimestre e um crescimento nos indicadores de ocupação. Mesmo assim, o país soma 14,4 milhões de desempregados.

O aumento da ocupação no segundo trimestre ocorreu em várias formas de trabalho, sendo gerado, principalmente, por atividades relacionadas a alojamento e alimentação (9,1%), construção (5,7%), serviços domésticos (4,0%) e agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (3,8%).

Outro fator de relevância, apontado pela pesquisa Desigualdade de Impactos Trabalhistas na Pandemia, foi a grande queda da renda individual média do brasileiro incluindo informais, desempregados e inativos. Ocorreu uma queda brusca de 9,4% em comparação com o último semestre de 2019. De acordo com o estudo, também houve um aumento na desigualdade de renda, visto que enquanto a metade mais pobre da população perdeu 21,5% dos seus ganhos mensais, os 10% mais ricos sofreram um impacto mais moderado, na ordem de 7,16%.

Mais da metade da queda da renda dos mais pobres tem como principal causa o aumento do desemprego (impacto de 11,5% frente aos 3,8% da população em geral), enquanto um contingente expressivo dos trabalhadores se retirou do mercado sem perspectiva de encontrar ou exercer trabalho durante a pandemia (impacto de 8,2% na camada mais pobre e 4,7% na média geral). Outros fatores relevantes foram a redução na renda dos ocupados por hora e anos de estudo e a aceleração da inflação, que corrói o poder de compra dos trabalhadores.

Por fim, as expectativas sobre o mercado de trabalho ficam condicionadas ao processo de recuperação econômica. Enquanto há a perspectiva de recuperação do setor de serviços mediante o avanço da vacinação e controle da pandemia, é preciso observar os efeitos das instabilidades vindas dos campos político, fiscal e da própria questão hídrica. Tais elementos são responsáveis por influenciar as decisões sobre investimentos e contratações, bem como antever os próximos passos da inflação e o grau de estímulo monetário – que em última instância também acaba refletindo no nível de emprego.

Mylena Carvalho e Rafael Teixeira

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