O final de 2014 marcou o retorno de uma fantasma que ronda a economia brasileira há anos. A variação dos preços, ou a popular inflação, que vinha controlada desde 2005, acelerou e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) saiu de 6,41% a.a. em dezembro de 2014 para 10,67% a.a. em dezembro de 2015. Em 2016, voltamos para números mais razoáveis. A inflação fechou em 6,29%. Mas é bom lembrar: os preços não pararam de subir. Na realidade, eles só diminuíram o ritmo de alta.
No dia-a-dia, a variação nos preços dos produtos nos causam dúvidas sobre se a inflação caiu mesmo, pois alguns itens ainda sobem bem mais que outros. Enquanto isso, é possível observar alguns itens com preços em queda. Essa confusão ocorre porque o número final da ‘inflação’ é uma média dos preços de diversos itens diferentes que compramos, ponderada por seus pesos no orçamento de um brasileiro “médio”. Por se tratar de um ‘média’, alguns sentem o número divulgado como uma distorção em relação aos preços que pratica.
O número final distorce, por exemplo, o que aconteceu com os preços da alimentação, do transporte e da habitação, entre outros. A título de comparação, em janeiro de 2016, alimentação, habitação e transporte acumulavam alta de 12,9%, 16,5% e 10,1% a.a., respectivamente nos doze meses anteriores. No mês passado, a situação já era bem mais animadora, com a variação em 12 meses para os três itens fechando em 6,6%, 2,2% e 3,2%, respectivamente.
Mas por que os preços subiram tanto nos últimos dois anos no Brasil? A resposta está nos preços administrados, ou tarifas, cujo reajuste é fixado pelo Governo. No final de 2014, a disparidade entre os preços da gasolina, luz, gás natural e outras tarifas fixadas e os que deveriam ser cobrados chegou ao ápice, gerando desgaste nas finanças de empresas como Petrobrás e Eletrobras.
Para sanar o caixa dessas empresas, o Governo cedeu e teve que realizar diversos aumentos nas tarifas. O impacto foi imediato, com grande peso no preço de todos os demais itens produzidos na economia. Logo se formou uma espiral inflacionária (repasses de aumentos nos preços de custo para os preços finais de diversos itens) e chegamos ao topo inflacionário em janeiro de 2016.
O artifício do Banco Central para controlar a inflação foi aumentar a taxa básica de juros, a Selic. Essa taxa é balizadora dos juros cobrados pelos bancos. Com as pessoas comprando menos e as empresas investindo menos, houve pouco espaço para reajustes adicionais dos preços. A inflação cedeu num primeiro momento. Num segundo, espera-se que famílias e empresas menos endividadas retomem o ciclo de gastos necessários ao crescimento.
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