A economia brasileira vem passando por mudanças significativas nas últimas décadas, onde é possível observar, por um lado, aumento da importância relativa do agronegócio brasileiro e, por outro, diminuição da importância e competitividade da indústria. Sabe-se que a economia é hoje dependente da exportação de commodities, com grande destaque para a exportação de commodities do agronegócio, que no período de 1997-2014 apresentou uma taxa de crescimento de 184,31%. Portanto, o agronegócio tem contribuído de forma incisiva para a geração de divisas, com um saldo da balança comercial substancialmente maior que o da economia brasileira como um todo nos anos recentes, principalmente a partir de 2007.
Na contramão, a indústria brasileira tem perdido participação no total do PIB, e o setor tem sido responsável por um montante cada vez menor do total exportado pelo país. Entre as diversas causas que têm levado ao enfraquecimento da indústria, podemos destacar o câmbio valorizado, altas taxas de juros, custos elevados de produção (entre eles o custo da energia), ascensão da economia chinesa no cenário mundial e inserção da sua indústria no mercado mundial, inclusive no Brasil.
Diante destes fatos,muito tem se discutido sobre a taxa de câmbio e sua influência sobre a estrutura produtiva brasileira. Para a indústria, sem sombra de dúvidas, é uma oportunidade o atual movimento de desvalorização do real frente ao dólar.
Segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), as exportações brasileiras têm reagido positivamente, com aumento do coeficiente de exportação (participação da produção industrial destinada ao mercado externo) nos últimos trimestres. É muito cedo para dizer sobre a recuperação da indústria, maior rentabilidade das exportações e inserção no mercado mundial, aliás, a resposta ainda não é expressiva. Entretanto, em meio à crise que atinge e aflige o país, ainda existe, mesmo que lá no fundo do poço, uma esperança.
Apesar de muitos estarem aflitos com a desvalorização do real, abrir mão de uma viagem para o exterior e deixar de comprar produtos importados é apenas uma face da moeda. A indústria e o agronegócio brasileiro podem e devem se aproveitar da atual conjuntura cambial para se beneficiaram, se inserir no mercado externo e driblar a crise que a cada dia que passa parece estar mais longe de um final feliz. Enfim, se é para ter um real desvalorizado, que seja em prol da valorização e maior competitividade da indústria brasileira, e claro, em prol do agronegócio brasileiro que, no seu papel de protagonista local no mercado internacional, pode tirar proveito da atual situação.
Vinícius A. Vale, Fernando S. Perobelli, Inácio F. Araújo Junior
Conjuntura e Mercados Consultoria Jr.
Faculdade de Economia/UFJF
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