Inflação e juros altos, o que fazer?
Infelizmente estamos revivendo um período não tão distante assim lá de 2015, onde temos a combinação de inflação elevada e taxa de juros em ascensão. Embora a situação seja a mesma, o cenário atual é bem diferente.
A conta das medidas adotadas para conter o vírus não ficou somente no desemprego elevado e nos gastos públicos, chegou também no aumento de preços de produtos e serviços. Não podemos culpar nada em específico, pois temos uma conjunção de fatores que estão influenciando a inflação no Brasil e no mundo. Só para citar os principais, temos uma desvalorização acentuada do Real que encareceu os produtos e matérias-primas importadas. Em conjunto, sofremos com fatores meteorológicos que impactaram a produção de alimentos e o preço da energia elétrica. Adicionalmente, a retomada do consumo ocorreu em descompasso com o retorno das atividades produtivas, causando escassez de produtos. Sem falar nas mudanças dos padrões de consumo pós-pandemia e no aumento do preço dos combustíveis.
Como o principal remédio do Banco Central para o controle da inflação é a taxa de juros, vamos nós de novo para mais um ciclo de alta da taxa Selic. Para piorar a situação, temos disputas políticas, incertezas no controle dos gastos públicos e uma corrida eleitoral antecipada, que nada favorece um ambiente de estabilidade que o país tanto precisa.
Sinto lhe informar, esse é o cenário que temos atualmente e que irá se estender por pelo menos mais um ano. Como economista e consultor de investimentos, o que mais me perguntam é: o que fazer agora?
Se proteger! Na prática, analisar cuidadosamente os empréstimos, financiamentos imobiliários e dívidas no cartão de crédito, que encarecerão bastante nos próximos meses. Quanto aos investimentos, avaliar se não seria interessante trocar o dilema risco x retorno pelo tempo x retorno. Ou seja, investir em ativos com menor risco, mas por mais tempo para obter um rendimento maior.
Nesse ambiente de instabilidade, tenho observado uma migração de recursos da Bolsa de Valores brasileira para investimentos mais seguros em Renda Fixa, os quais estão oferecendo rentabilidades cada vez maiores e com baixo risco. Antes tidos como de baixa rentabilidade, os títulos públicos, CDBs, LCAs e LCIs, ganharam força, principalmente aqueles com prazos de um ano ou mais para resgate. Muitos desses garantem uma rentabilidade superior à inflação ou taxas fixas bem atrativas. Outra estratégia bastante utilizada para fugir do “risco Brasil” são investimentos no exterior, que atualmente estão cada vez mais acessíveis em corretoras nacionais.
Enfim, tenho ouvido bastante a expressão “agir com cautela” atualmente. Até porque, muitos que se arriscaram em 2021 continuam pagando um preço alto por isso.
(Bruno Dore Rodrigues é PhD em finanças, coordenador do curso de administração de empresas na Estácio, sócio da XP e leitor convidado)