Fala Quem Sabe
Papo analógico para uma manhã de domingo
Se você nunca ouviu “ The Long And Winding Road ”, uma das mais belas músicas dos Beatles, no disco vinil, ou elepê, você está perdendo um dos momentos mais lúdicos que a vida pode proporcionar. Ouço CDs, é claro, preferencialmente os clássicos, mas é graças aos vinis que estou cada vez mais retrô em relação à audição de músicas, principalmente rock, incluindo aí, além dos Beatles, Pink Floyd, Led Zeppelin, Credence, U2, Queen e Yes, a sofisticação da MPB, com Chico Buarque, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Lulu Santos, Maria Bethânia, Gal Costa, e, é claro, e sempre, Elis Regina.
Minha paixão pela música começou cedo, e se ampliou depois dos 25 anos, quando, finalmente, consegui comprar uma vitrola legal, e aí não parei mais. Cheguei a ter uns 700 discos, mas vendi alguns, outros emprestei e não houve retorno, e dei de presente muitos elepês pra muita gente, mas ainda mantenho uma discoteca respeitável. Nessa história de presentear, teve um disco dos Rolling Stones (“Sticky Fingers”, de 1971) que comprei e passei pra frente alguns meses depois. Eu não era muito chegado aos Stones (com exceção, é claro, da eterna e icônica “Satisfaction”), mas fui atraído pela capa do disco, que era aberta através de um fecho eclair, em relevo. Um fecho eclair de verdade. Que, por ser de verdade, acabava arranhando as outras capas dos outros discos. Resultado: doei o elepê e fiquei sabendo, algumas décadas depois, que tinha sido uma edição limitada, sendo uma concepção gráfica e visual do pintor da pop art, Andy Wharol. Quer dizer, dancei sem música. Pelo menos deixei algum roqueiro ou colecionador feliz.
Mas valeu. Tudo isso valeu muito. E está valendo até hoje, pelo prazer da nostalgia analógica que cultivo quase todos os dias, agora curtindo a aposentadoria. Alguns discos da minha discoteca estão arranhados, em outros a agulha fica agarrada na trilha e em mais uns, os sulcos, empoeirados, fazem com que a agulha deslize, sem reproduzir nada. Mas tudo isso faz parte do show do vinil.
Quer uma dica? Faça essa experiência. Vivencie esses momentos. Ou, então, pergunte pros seus avós. Saúde e paz, para todos nós.
(Renato Henrique Dias é jornalista e leitor convidado)