Da minha janela tento segurar o mundo que segue lá fora e parece que se esvai aos poucos. Meus olhos, inundados de saudade refletem amigos, parentes, acontecimentos rotineiros e comemorações que não existem mais. Não sabemos como será o futuro, mas prefiro acreditar nas palavras de Dostoiévski, quando dizia “Sem Arte não há salvação” e a elas me apegar, tanto por gosto como por aí encontrar um mecanismo de autodefesa.
Observamos que, momentos de crise, como guerras, desastres naturais, pandemias e outros eventos devastadores, resultaram em surpreendente florescimento das artes. A pintura, a escultura e a música representaram situações trágicas com grande beleza.
A literatura também registrou os horrores causados por doenças e epidemias com magistral uso das palavras, contrapondo questões de saúde às questões éticas e morais ou mostrando aspectos que afloram em situações de crise.
Obras primas como Um diário do ano da peste, escrito por Daniel Defoe no século XVII, A peste, de Albert Camus, no século XX, O Amor nos tempos do cólera, em que Gabriel García Márquez retratou a epidemia que atingiu a Colômbia e o famoso Ensaio sobre a cegueira, doença ficcional descrita por José Saramago e adaptada para o cinema com grande sucesso, são algumas das consequências artísticas resultantes de tragédias.
Neste período apocalíptico que estamos vivendo, podemos observar o quanto somos ajudados pela literatura. Ela alivia as tensões, relaxa, traz esperança, leva-nos à reflexão e ajuda-nos a valorizar a própria vida. Acredito também que contribua para o desenvolvimento da empatia e nos torne mais sensíveis em relação à natureza e ao mundo em que vivemos.
(Cecy Barbosa Campos é presidente da Academia Juiz-forana de Letras e leitora convidada)